PM afirma que câmera corporal estava descarregada após confronto com morte na Operação Verão


PM que estava na ação que resultou na morte de um homem de 22 anos em Guarujá (SP) informou em depoimento que a câmera corporal estava sem bateria. O suspeito foi o 56º morto na Operação Verão. Policial que participou de confronto que resultou na 56ª morte da Operação Verão estava com câmera corporal descarregada
Rovena Rosa/Agência Brasil e Reprodução/Redes sociais
Um PM que participou do confronto que resultou na morte de um homem, de 22 anos, a 56ª da Operação Verão, em Guarujá, no litoral de São Paulo, contou em depoimento na delegacia que a câmera corporal estava descarregada durante a ação contra o tráfico de drogas realizada no Beco das Almas, no bairro Vila Santa Rosa.
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Cesar Augusto de Jesus Santos foi morto na última sexta-feira (29) por policias do Batalhão de Ações Especiais de Polícia (BAEP). Com base no boletim de ocorrência (BO), os PMs notaram o jovem armado em um cruzamento, com uma sacola e um rádio. Ele teria tentado fugir apontado o revólver contra os agentes, que reagiram com cinco disparos de fuzil e quatro tiros de outra arma não citada.
No mesmo BO consta o depoimento do sargento, de que a câmera corporal estava descarregada. Diante da situação, o g1 entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP-SP) sobre a declaração do sargento da PM à Polícia Civil, com questões sobre o equipamento e a ação, mas a pasta não respondeu sobre as câmeras.
A equipe de reportagem, no entanto, levantou detalhes sobre o equipamento usado pelos policiais. Um PM, que não quis se identificar, informou que os agentes recebem as câmeras com a carga cheia já no início do expediente. (veja mais abaixo)
Sobre o caso, a SSP-SP respondeu apenas que as imagens captadas em ações são fornecidas conforme requisição do Ministério Público e fazem parte do conjunto probatório apurado pela Polícia Civil na investigação de cada episódio de morte decorrente de intervenção policial.
Ainda de acordo com a pasta, mesmo em caso de descarregamento comprovado de bateria ao longo da atividade ou problema técnico que impeça a captação total, as trilhas de auditoria e as imagens disponíveis são encaminhadas ao órgão competente.
Como é rotina com as câmeras?
As câmeras acopladas na altura do peito dos uniformes dos PMs de São Paulo são da marca Axon. Segundo apurado pelo g1, com base nos dados do fabricante, a bateria dura até 12 horas.
Um policial militar da Baixada Santista, que preferiu não se identificar, afirmou à equipe de reportagem que os agentes já recebem a câmera carregada no início do expediente. Ela grava ininterruptamente e, quando o serviço termina, o PM a devolve para que volte a ser carregada.
A equipe administrativa dos batalhões, segundo o PM ouvido pelo g1, são responsáveis pelo carregamento. “Ela [câmera] tem um sistema que descarrega todas as imagens que ela faz durante o serviço”, disse o agente.
Como funcionam as câmeras da PM de SP?
PM de SP usa câmeras da empresa americana Axon.
Rodrigo Rodrigues/g1
Uma das principais características das câmeras operacionais portáteis é que os policiais não escolhem se querem gravar ou o que vão gravar: o registro ocorre de forma ininterrupta. Os dados foram levantados pelo g1 São Paulo.
As câmeras são fixadas junto ao peito dos agentes e permitem um ângulo de captação de imagens privilegiado e na altura adequada;
Nessa posição, é possível registrar os “eventos de interesse, como a tomada da maior parte do corpo das pessoas com as quais os policiais interagem, além da captação de regiões de interesse da ação policial, sobretudo suas mãos”;
A fixação é forte o suficiente para impedir que a câmera caia dos uniformes em situações mais críticas, como pular muro e se deitar no chão.
Gravação ininterrupta
Segundo o relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, as câmeras da PM de São Paulo gravam de forma ininterrupta imagens e sons captados.
Os dados (imagens e sons) obtidos sem o acionamento da gravação são chamados pela polícia de vídeos de rotina;
Já os obtidos pelo acionamento proposital do policial são chamados de vídeos intencionais;
Para reduzir custos, a resolução das imagens dos vídeos de rotina é menor que a dos intencionais – e não armazenam o som ambiente;
Os vídeos de rotina ficam arquivados por 90 dias;
Já os intencionais ficam guardados por 1 ano;
Os policiais em serviço só podem retirar as COP em raros momentos (para ir ao banheiro e para fazer refeições, por exemplo).
O caso
Os agentes do BAEP realizavam um patrulhamento para combater o tráfico de drogas, por volta de 15h50 de sexta-feira (29), quando, segundo a SSP-SP, viram Cesar Augusto de Jesus Santos, de 22 anos, armado no cruzamento da Rua Marilucia dos Santos Brito com a Maurício de Lourenço.
De acordo com o relato dos PMs, o suspeito estaria com uma sacola e um rádio comunicador em mãos. E, ao notar a presença dos agentes, teria apontado a arma contra a equipe e se preparado para fugir. Os policiais revidaram.
A equipe de reportagem apurou que um dos PMs fez cinco disparos de fuzil, enquanto um segundo fez mais quatro disparos com outra arma, não especificada. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado por volta de 16h15 e constatou a morte no local.
Segundo a SSP-SP, ao lado de César foram apreendidos um rádio comunicador, uma pistola e 379 porções de drogas com maconha, cocaína, crack e haxixe, que estavam dentro da sacola. O caso registrado como tráfico de entorpecentes, posse ou porte ilegal de arma de fogo, morte decorrente de intervenção policial e legítima defesa na Delegacia Sede de Guarujá.
Operação Verão
Vídeo mostra o PM da Rota sendo baleado no rosto em viela no litoral de SP
A Operação Verão foi estabelecida na Baixada Santista em dezembro de 2023. No entanto, com a morte do PM Samuel Wesley Cosmo, em 2 de fevereiro, o estado deflagrou a 2ª fase da ação com o reforço policial na região.
Em 7 de fevereiro, mais um PM foi morto, o cabo José Silveira dos Santos. Na ocasião, começou a 3ª fase da operação, que foi marcada pela instalação do gabinete de Segurança Pública em Santos e mais policiais nas cidades do litoral paulista. A equipe da SSP-SP manteve a sede na Baixada Santista por 13 dias.
Operação Escudo
PM da Rota morto era da capital de SP e estava em serviço quando foi atingido por criminosos
Arquivo Pessoal
A Operação Escudo foi deflagrada na região após a morte do PM da Rota Patrick Bastos Reis, em julho de 2023. Na ocasião, o agente foi baleado durante patrulhamento em Guarujá (SP).
Nos 40 dias de ação, segundo divulgado pela SSP-SP, 958 pessoas foram presas e 28 suspeitos morreram em supostos confrontos com policiais. Desde o início da ação, instituições e autoridades que defendem os direitos humanos pediam o fim da operação.
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