
A utilização do cerol e linha chilena continua proibida, e os pipeiros, agora atletas, só vão poder praticar o esporte em locais abertos, longe de instalações elétricas. Festivais para soltar pipa em Iúna, no Espírito Santo
Divulgação/Prefeitura de Iúna
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A brincadeira de criança – e também de adultos – agora é considerada esporte no Espírito Santo. Soltar pipa foi reconhecido como modalidade esportiva e teve a sua publicação sancionada pelo governador Renato Casagrande (PSB) em 28 de fevereiro. A lei que reconheceu essa prática esportiva também determina algumas regras que, segundo os pipeiros, não são compatíveis com as competições.
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A lei, no entanto, gerou polêmica entre os praticantes. Isso por que, segundo eles, não há competição de cortar pipa sem uso de cerol. E como a lei que transforma a atividade em esporte proíbe o uso dessa substância nas linhas, um impasse surgiu entre os “esportistas”.
Agora que os pipeiros no estado serão considerados atletas, deverão realizar a prática seguindo algumas normas que foram estabelecidas no decreto. São elas:
A soltura de pipas só poderá ser praticada em local aberto, distante de redes elétricas e de telefonia;
A linha precisa ser composta exclusivamente de algodão, em cor visível;
Utilização de cerol é proibida.
Segundo o deputado estadual e autor do projeto de lei, Coronel Weliton (PRD), a ideia foi legalizar um esporte que é praticado há décadas e acabava sendo discriminado.
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“É um esporte que une diversas pessoas de várias classes sociais. É muito eclético e foi uma tentativa de acolher e dar o aspecto de legalidade para promover festivais regionais, além de o poder público ajudar a destinar um local próprio para soltar pipa. Quem joga bola tem a quadra, e agora quem solta pipa vai poder ter a ajuda do poder público para organizar os locais para que ali ele possa realizar o esporte de forma segura”, explicou o deputado.
O deputado acredita que, na prática, a transformação da até então brincadeira em esporte serve para dar visibilidade e fazer com que o poder público possa incentivar e criar uma rede de apoio.
“Por ser um esporte que reunia famílias de forma harmônica e em festivais, inclusive pessoas de outros estados. A gente foi vendo esse contexto, além de ter algo que toca no coração da gente. A gente imaginou por que o poder público, às vezes, coloca tanta dificuldade em dar uma estrutura nesses eventos que são realizados com uma finalidade social e tão bacana para os outros municípios, gerando emprego e renda. Porque tem pessoa que faz a pipa, outras que fazem a comida. É uma rede que se cria através de uma atividade simples”, pontuou o deputado.
O que dizem e como atuam os pipeiros
Agora soltar pipa é esporte no Espírito Santo
Divulgação/Prefeitura de Iúna
Wanderley Nunes de Oliveira tem 52 anos e solta pipa desde criança. O morador de Iúna, no Sul do Espírito Santo, além de praticante do agora reconhecido esporte, também faz as próprias pipas. O pipeiro soube da notícia com surpresa e enxergou a mudança como uma oportunidade de ter mais visibilidade a essa prática.
“Hoje é uma brincadeira que tem mais adulto do que criança, porque as crianças só ficam na internet. Mas a gente está tentando mudar, isso vai ajudar a atrair eles. Meu filho não gosta tanto de soltar, mas minha filha de 13 anos solta comigo. Quase a minha vida toda eu faço pipa. Acho que a lei vai ajudar a divulgar”, comentou Wanderley.
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Na considerada alta temporada das pipas, que vai de abril a agosto, Wanderley disse que faz 300 pipas por dia e participa com frequência de encontros na cidade e na Região do Caparaó, que reúnem pessoas de todo o Espírito Santo e até de outros estados.
Wanderley chega a fazer 300 pipas por dia
Acervo pessoal
Sobre a possibilidade de competições, o pipeiro pontuou que sempre participou apenas de encontros em que as pipas mais bonitas eram premiadas. Mas, quando se fala de outras competições, de competidores “cortando” a pipa um do outro, elas são sempre feitas com uso do cerol, o que vai de encontro com o que determina a lei capixaba.
“Sempre tem aquele grupo que competia, mas cortando um a pipa do outro, com cerol. Fazemos festivais em datas comemorativas e eu sempre foquei na pipa mais bonita, diferenciada, sem usar cerol”, disse o pipeiro.
O deputado reforçou que a proibição do cerol e da linha chilena continuam valendo. Está tudo previsto no projeto da lei que transformou a atividade em esporte no Espírito Santo.
Mesmo que haja vários tipos de competições (como a maior pipa ou a mais colorida), quando se fala em “cortar pipas”, os competidores deverão fazer o uso de linha normal, sem cerol. Mas competidores dizem que não há competição de cortar pipa sem uso de cerol, o que gera um impasse com a nova lei criada.
“Os organizadores dos eventos tentam outras formas, como quem vai ficar mais tempo com a pipa no alto, quem faz a maior. A regulamentação é de cada festival, cada evento. A fiscalização é a mesma, de competência das prefeituras” relatou Coronel Weliton.
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