Em entrevista exclusiva à GloboNews, André Corrêa do Lago, afirma que presidente brasileiro mostrou protagonismo no G20 e deve repetir o sucesso como país-sede da Conferência do Clima em novembro. Missão oficial da delegação da ONU visita Belém para discutir preparativos para a COP30
Isabela Castilho/Cop30 Amazônia/PR
O presidente da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), André Corrêa do Lago, afirmou, em entrevista exclusiva à GloboNews, que o risco de um esvaziamento do evento que será realizado em Belém, no Pará, em novembro deste ano, não é a principal preocupação do Brasil neste momento.
Segundo o embaixador, não se pode subestimar o poder de convencimento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em atrair a presença de chefes de estado importantes, e o grande exemplo disso foi o sucesso na cúpula do G20, realizada em 2024, no Rio de Janeiro.
Presidente da COP 30 cita ‘poder de convocação’ de Lula e minimiza risco de evento esvaziado em Belém
“A gente não pode subestimar o poder de convocação do presidente Lula. Nós vimos isso no G20, em que a presença dos chefes de Estado no G20 foi absolutamente recorde. Acho que há muitos chefes de Estado que acreditam que a presença deles deve ser importante, porque eles vão confirmar para o mundo que essa é uma prioridade para os seus países”, afirmou o presidente da COP 30.
Outra parceria importante, segundo ele, é a de António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas. Nesta quarta-feira (22), Guterres disse à TV Globo que a entidade estará “completamente empenhada” em ajudar a garantir o sucesso da COP 30. Ele reconheceu que há “alguma descrença” no mundo em relação às ações contra a mudança climática, mas disse considerar “fundamental” que os objetivos de frear o aquecimento global sejam reafirmados.
“O secretário geral da ONU está particularmente envolvido na Conferência do Clima e ele criou uma verdadeira parceria com o presidente Lula, inclusive para trabalhar com as grandes economias para que elas apresentem compromissos de redução de emissões ambiciosos”, disse. “Alguns países já apresentaram metas ambiciosas, mas o prazo é até fevereiro”, destacou.
O objetivo do governo, afirma o embaixador André Corrêa do Lago, é trazer a maior concretude possível para a Conferência, diante de últimas edições com resultados considerados insatisfatórios por especialistas.
“Vamos preparar para que a COP 30 não seja frustrante, naturalmente, mas esse exercício vai ocupar todos os meses [desse ano]”, afirmou.
Ausência de Trump e financiamento climático
O recém empossado presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sinalizou que não virá para o evento no Brasil.
O norte-americano retirou os EUA do Acordo de Paris, assinado em 2015, repetindo gesto que já realizara em seu primeiro mandato. O acordo aconteceu durante uma Conferência do Clima realizado em Paris e estabeleceu compromissos para a redução da emissão de gases de efeito estufa.
Para a cúpula desde ano, um dos principais desafios desse ano será resolver um problema que vem da COP-29, realizada em 2024 no Azerbaijão, quando os países pobres queriam que os países mais ricos se comprometessem a investir U$ 1 trilhão por ano em medidas de combate às mudanças climáticas. No entanto, o acordo fechado foi de U$ 300 bilhões, e ficou para o encontro deste ano, no Brasil, acertar essa diferença e definir de onde vai vir o dinheiro.
De acordo com o presidente da COP 30, a questão do financiamento climático é mais complexa do que apenas o envolvimento de alguns países. É preciso também envolver a participação de bancos multilaterais.
“1,3 trilhão de dólares é o número que, mais ou menos, foi considerado como o necessário, por ano, para, preferivelmente, vindo dos países desenvolvidos, para o mundo em desenvolvimento. Sabemos que essas somas gigantescas vão exigir também uma grande participação dos bancos multilaterais de desenvolvimento. Vai também exigir uma participação de investimentos privados e, portanto, isso tudo tem que ser costurado não só dentro da própria Convenção do Clima do Acordo de Paris e nas negociações que vão culminar em Belém. Isso tudo tem que ser costurado durante um ano”, destaca Corrêa do Lago.
“O que se discute na conversão do clima, sobretudo, são decisões que se tornam, de certa forma, uma lei internacional, porque é por consenso nas Nações Unidas. E essas decisões têm que ser cumpridas. O que todo ano as pessoas verificam é que, às vezes, você assina uma decisão, todo mundo concorda com uma coisa, mas ela não é necessariamente implementada, não há ação proporcional àquilo que o texto demanda. Então, para que essa ação aconteça, você tem que envolver muito mais do que simplesmente a Convenção do Clima”, completou.
Ponta pé nas negociações
O embaixador é, atualmente, o negociador para assuntos do clima do governo do presidente Lula e, por isso, participou das negociações das últimas duas Conferências do Clima.
“Eu tenho uma equipe super legal, coordenadíssima com o Ministério do Meio Ambiente, que também tem uma equipe incrível, e vários outros ministérios”, disse.
Ao longo do ano, uma série de encontros internacionais servirão como plano de fundo para as negociações que antecedem a Conferência de novembro.
“O presidente da COP é tradicionalmente convidado para diversos eventos [internacionais] para justamente ir testando as várias ideais que a gente vai procurar levar para a negociação”, disse. Esta é a maneira de medir o apelo que cada proposta perante os 196 países que decidirão juntos na Conferência.
Infraestrutura em Belém
Uma das principais críticas e preocupações relacionadas ao evento no Brasil é a capacidade de Belém para sediar um evento do porte de uma COP.
André Corrêa do Lago reconhece que a cidade não é projetada para ter uma grande conferência como essa, mas destaca que estão sendo feitas obras importantes para ficarem como legado da sede da cúpula no Brasil.
“É óbvio que não é uma cidade projetada para ter uma grande conferência como essa. Estão sendo feitas obras muito importantes, obras de infraestrutura muito importantes que vão ter um impacto muito positivo para a população, porque Belém tem várias coisas que precisavam ser feitas e que estão sendo agora feitas com esse esforço muito grande do governo federal, do governo estadual e da prefeitura”, afirma o embaixador.
“De qualquer maneira, qualquer que seja a cidade, a parte da própria conferência é uma infraestrutura específica com as características que são necessárias para as reuniões. Um dia médio na COP tem mais ou menos os 28, 25 mil participantes dentro da área de negociação da COP”, acrescenta o presidente da cúpula no Brasil.