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Administrado pela Rede Cáritas, o projeto Sumaúma servia 1,8 mil refeições diárias para migrantes venezuelanos e pessoas em situação de vulnerabilidade social em Boa Vista. Instalações sanitárias que haviam sido reabertas foram fechadas novamente. Projeto que distribuía refeições a migrantes foi suspenso nesta segunda-feira em Roraima.
Caíque Rodrigues/g1 RR
O projeto “Sumaúma: Nutrindo Vidas”, que distribuía refeições a refugiados, migrantes venezuelanos e pessoas em situação de vulnerabilidade social em Roraima foi suspenso nesta segunda-feira (17), após o governo dos Estados Unidos suspender o repasse de fundos americanos destinados à ajuda humanitária em outros países. O projeto é de responsabilidade da Rede Cáritas, que também teve instalações sanitárias fechadas no estado (entenda abaixo).
Criado em 2022, o projeto Sumaúma distribuía 1,8 mil refeições diárias, incluindo café da manhã e almoço. A comida era servida de segunda a sexta-feira no Posto de Recepção e Apoio (PRA) da Operação Acolhida, em Boa Vista.
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Com a suspensão, a distribuição das refeições está paralisada por tempo indeterminado. O projeto recebia recursos da Agência dos Estados Unidos pelo Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês), que o presidente dos EUA, Donald Trump, pretende fechar.
As refeições eram “servidas na hora” na modalidade bandejão e o cardápio levava em consideração os hábitos alimentares da população atendida, de acordo com a Cáritas. No escritório do projeto, localizado na Igreja Nossa Senhora da Consolata, funcionários devem trabalhar até quarta-feira (19).
Projeto Sumaúma distribuía refeições a refugiados, migrantes venezuelanos e pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Caíque Rodrigues/g1 RR
Entre agosto de 2022 e dezembro de 2024, o projeto serviu 1.225.159 refeições prontas. Neste período, foram 40.545 pessoas atendidas.
Em nota, a Cáritas afirmou que “segue firme em sua missão de serviço, solidariedade e esperança, buscando sempre alternativas para fortalecer sua atuação junto aos que mais precisam”. Agora, para continuar com os serviços no estado, a Cáritas realiza uma campanha de arrecadação emergencial.
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O Sumaúma também tem parceria com o Projeto Mexendo a Panela e as Irmãs da Caridade.
‘Vai ser difícil agora’
Jose de Molina, 22 anos, vive há 1 ano em Boa Vista e trabalha com diárias na capital
Caíque Rodrigues/g1 RR
À frente das instalações sanitárias da Cáritas, que também foram fechadas, migrantes se reuniam sentados na calçada. Um deles era o jovem Jose de Molina, de 22 anos. Natural de Puerto Ordaz, na Venezuela, ele está há 1 ano em Boa Vista e era um dos beneficiados pelos dois projetos fechados.
Agora, ele descreve a situação como “difícil”. Ele conta que no abrigo é oferecido as principais refeições e o projeto Sumaúma complementava a alimentação.
“Vai ser difícil agora. Antes a Cáritas complementava a alimentação com um prato de comida. Não dá para sobreviver só com o que oferecem no abrigo”, disse o jovem ao g1.
No país vizinho, ele deixou um filho pequeno e uma esposa. Lá, trabalhava como vendedor. Em Boa Vista, ele faz diárias de serviços gerais.
“Está complicado, porque tem poucas oportunidades de emprego. Vou ter que esperar, ir devagar, seguir caminhando até conseguir uma vaga e não precisar mais de ajuda para ter o que comer”, finalizou.
Quem também estava sentado na calçada era Andres Farias, de 71 anos. Também natural de Porto Ordaz, ele não trabalha, está há 2 meses em Boa Vista e precisava dos serviços da Cáritas na rotina.
“O serviço sanitário é essencial. Sem ele, não temos onde fazer nossas necessidades, onde tomar banho. A higiene é muito importante, principalmente para as crianças, para as filhas, para as mães, para todos nós”, disse ao g1.
Ele descreve a situação como “triste”, pois os migrantes já eram familiarizados com os serviços que ajudavam a todos. “É triste pois já estávamos acostumados com essa estrutura, e agora vem essa mudança brusca”.
Diogo Riden, de 75 anos, passou por uma cirurgia de câncer na garganta e era beneficiário do projeto Sumaúma, da Cáritas
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Diogo Riden, de 75 anos, é natural de San Félix, na Venezuela, e está há 3 anos em Boa Vista. Há três meses ele fez uma cirurgia para retirar um câncer maligno da garganta por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Hoje ele depende de um dispositivo dado pelo SUS que, em contato com a garganta, permite que ele se comunique.
Ele era beneficiário do projeto Sumaúma, pois tem um lugar para tomar banho, mas relata a tristeza de ver que os serviços não estão mais sendo ofertados.
“Eu vinha aqui para comer, tomar café da manhã, almoçar e jantar. Não dá para comer no abrigo, pois eu não vivo lá. É triste, mas a gente joga na mão de Deus”, disse.
Instalações sanitárias fechadas
Instalação sanitária da Rede Cáritas é fechada novamente em Boa Vista (RR).
Caíque Rodrigues/g1 RR
Além do projeto de alimentação, as instalações sanitárias da Rede Cáritas que atendiam migrantes e refugiados venezuelanos em situação de rua na capital Boa Vista e em Pacaraima, município de Roraima na fronteira com a Venezuela, foram fechadas novamente nesta segunda-feira (17).
As unidades foram fechadas pela primeira vez no dia 27 de janeiro de 2025 e reabertas por 10 dias, no dia 5 de fevereiro com recursos próprios levantados pela organização. Antes, tudo era bancado pelo governo americano, por meio do Escritório de População, Refugiados e Migração (PRM).
Comunicado informa fechamento de instalações sanitárias da Cáritas em Roraima.
Caíque Rodrigues/g1 RR
Nesta segunda, os portões voltaram a ser fechados. Em um comunicado colado no portão da instalação fechada, a Cáritas informou que a medida atendia “ao pedido do financiador”. Ao menos mil migrantes eram atendidos por dia.
As instalações ofertam serviços gratuitos de higiene pessoal, como uso de banheiro, duchas, fraldários, lavanderia e bebedouro com água potável. Agora, sacos de lixo com fraldas e outros objetos têm sido jogados no entorno da instalação localizada em Boa Vista, no bairro Treze de Setembro.
Lixo jogado no entorno da instalação sanitária em Boa Vista.
Caíque Rodrigues/g1 RR
Todas as instalações sanitárias fazem parte do projeto Orinoco: Águas que Atravessam Fronteiras. Só em 2024, mais de 50 mil migrantes foram atendidos pelo projeto nas duas cidades roraimenses.
A Cáritas Brasileira é uma das 170 organizações-membro da Cáritas Internacional e é um organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e possui uma rede com 198 entidades-membros, 13 regionais e 4 articulações.
No Brasil, a organização atua em cinco áreas: Economia Popular Solidária (EPS), Convivência com Biomas, Programa de Infância, Adolescência e Juventude (PIAJ), Meio Ambiente, Gestão de Riscos e Emergências (MAGRE) e Migração e Refúgio.
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