
Geane Agnne Prado, de 54 anos, optou por não fazer o transplante de medula e seguiu com a quimioterapia e medicação, em Rio Preto (SP). Irmã dela também lutou contra a doença, mas morreu em 2021. Março é o mês de conscientização sobre o mieloma múltiplo. Mulher descobre câncer sem cura na medula óssea após sintomas confundidos com dengue
Uma mulher de 54 anos, moradora de São José do Rio Preto (SP), recebeu o diagnóstico de mieloma múltiplo, um tipo de câncer na medula óssea, após ir ao médico cinco vezes com sintomas que foram inicialmente confundidos com dengue.
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A descoberta da doença veio depois de a irmã dela ter enfrentado a mesma condição, passando por um transplante de medula em agosto de 2016. Mesmo diante do tratamento, a irmã não resistiu e morreu em 2022, aos 54 anos.
Ao g1, Geane Agnne Prado de Souza relatou que os primeiros sinais da doença surgiram em 2019, com dores no corpo, febre e cansaço intenso. Preocupada com a epidemia de dengue na cidade, ela procurava o hospital para fazer exames e todos resultaram na suspeita da doença em repetição.
Geane Agnne Prado de Souza iniciou a quimioterapia após descoberta do câncer em Rio Preto (SP)
Geane Agnne Prado de Souza/Arquivo pessoal
Até que, na quinta vez que buscou atendimento médico, em 2020, Geane conta que a médica informou que os exames dela estavam alterados. Em agosto daquele ano, ela decidiu investigar os sintomas recorrentes e, por fim, recebeu o diagnóstico de câncer.
“Não foi nada fácil, um abismo se abriu diante de mim, foi um momento muito cruel. Quando ouvi que era câncer, e com carga tumoral alta, parecia que o diagnóstico era de outra pessoa, não podia ser meu”, lembra Geane.
Mesmo diante da dor e do histórico da irmã, que também lutava contra o mieloma múltiplo, segundo ela, o resultado foi uma surpresa. Com isso, a mulher lembra que precisou ser forte, tanto para vencer o tumor quanto para dar apoio à irmã.
Geane Agnne Prado e a irmã, ambas com câncer na medula óssea, em Rio Preto (SP)
Geane Agnne Prado de Souza/Arquivo pessoal
“Eu sabia perfeitamente tudo o que iria enfrentar, pois acompanhei minha irmã em todo o tratamento, inclusive durante o transplante de medula. Embora soubesse que, para a medicina, o mieloma não tem cura e o transplante era apenas para aumentar o prognóstico de vida, seguia cheia de fé”, detalha Geane.
Dias depois, ainda em agosto de 2020, ela foi internada com Covid-19 após as primeiras sessões de quimioterapia e passou 40 dias no hospital até receber alta médica, sem sequelas.
Mas o pior ainda estava por vir: em dezembro de 2021, o mieloma da irmã voltou, dessa vez mais forte, e, após cerca de um mês, ela morreu. Lidar com a perda de uma pessoa tão próxima não foi fácil para Geane.
“Não foi fácil administrar os meus sentimentos, a dor da perda dela, conviver com a mesma doença que a levou. Principalmente conhecendo a gravidade de cada sintoma”, lamenta a mulher.
Geane Agnne Prado de Souza se surpreendeu ao descobrir um câncer em Rio Preto (SP)
Geane Agnne Prado de Souza/Arquivo pessoal
Geane lembra que tinha acabado de completar 50 anos e estava cheia de planos e projetos. Em pouco tempo, a mulher viu a vida se transformar.
Por isso, decidiu que voltaria a trabalhar como voluntária no Instituto do Câncer em Rio Preto, com a missão de levar fé e esperança para os pacientes oncológicos com conversas, brincadeiras e bingos, além de doação de sopa, frutas, lenços, turbantes e prótese mamária.
A história se repete
Em 2021, ela, enfim, recebeu uma boa notícia: o câncer entrou em remissão. Contudo, dois anos depois, o mieloma voltou. Uma nova biópsia apresentou uma carga tumoral de 90%, ou seja, muito alta.
Geane Agnne Prado de Souza recebeu o diagnóstico de mieloma múltiplo em Rio Preto (SP)
Geane Agnne Prado de Souza/Arquivo pessoal
Nesse período, ela iniciou uma nova corrida contra o tempo para se curar da doença. Por opção própria, Geane optou por não fazer o transplante de medula óssea e seguiu com a quimioterapia e medicação no Hospital de Base (HB) em Rio Preto.
Duas das alternativas para o tratamento são medicações que induzem a remissão do tumor. No total, a cartela chega a custar R$ 169,5 mil e supre 21 dias. Com ajuda do advogado, ela pediu na Justiça para que o governo ofereça os remédios, uma vez que o Sistema Único de Saúde (SUS) não os dispõe.
O pedido foi atendido e a Justiça, de acordo com ela, determinou que recebesse a medicação gratuita. No momento, a mulher está no terceiro ciclo deste protocolo de tratamento. Em abril, ela fará novos exames para novas avaliações da equipe médica.
“Conviver com o mieloma é como se estivesse em uma montanha-russa, e, ao contrário de outros cânceres, ele não tem cura, o tratamento é apenas para aumentar o prognóstico de vida. Assim eu sigo, crendo que ainda vou pegar meus bisnetos no colo”, completa Geane.
Mês de conscientização
Médico João Victor Piccolo Feliciano do Hospital de Base em São José do Rio Preto (SP)
Famerp/Funfarme/Divulgação
O mês de março marca a conscientização sobre o mieloma múltiplo, que causa a destruição óssea. A doação de medula óssea ajuda a salvar as vidas de pessoas com a doença.
Ao g1, o médico hematologista e líder do Setor de Transplante de Medula Óssea da Funfarme, em Rio Preto, João Victor Piccolo, informou que o câncer representa 1% das neoplasias. Por ser uma doença crônica, é considerada incurável.
Segundo ele, como o diagnóstico pode demorar alguns anos devido à similaridade com os sinais de outras doenças – como no caso de Geane -, o estado clínico do paciente pode se tornar mais crítico e, consequentemente, prejudicar as chances de resposta ao tratamento.
João Victor Piccolo Feliciano, médico hematologista e líder do Setor de Transplante de Medula Óssea da Funfarme em Rio Preto (SP)
Funfarme/Famerp/Divulgação
De acordo com o profissional, existem dois tipos de doação de medula: a alogênica e a autóloga. O transplante de medula autólogo é uma forma de combate ao câncer e funciona como um “truque” no corpo humano. A indicação está relacionada ao quão ativo o câncer está após o tratamento inicial.
Nesse tipo de transplante, as células-tronco do próprio paciente são coletadas e utilizadas para a recuperação após a quimioterapia – como uma espécie de autotransplante.
“A medicina inventou um ‘truque’, na verdade. A gente retira antes de fazer essa quimioterapia as células-tronco do paciente, que são as células responsáveis pela produção de sangue, armazena elas congeladas no hemocentro, faz a quimioterapia no paciente, depois a gente recoloca essas células”, explica o médico.
Hospital de Base de Rio Preto (SP)
Divulagação
Caso não fosse possível injetar as células novamente, Picollo explica que o paciente teria problemas com a produção de sangue ao longo da vida, já que a quimioterapia ataca o câncer, mas também destrói a produção como efeito colateral.
Em relação às doações, ainda segundo o médico, o Hospital de Base recebe pelo menos duas coletas de medula por semana. Inclusive, envia o sangue para outros países do mundo, como Alemanha e França, na Europa, e Estados Unidos, na América do Norte.
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