
Mais de 40 alunos de três turmas diferentes precisaram fazer exames para detectar possíveis contaminações de doenças e vão seguir em acompanhamento médico. Caso aconteceu em Laranja da Terra, na Região Serrana do Espírito Santo. Mais de 40 alunos tiveram dedos furados por professor com objeto pontiagudo não descartável durante aula de química no Espírito Santo
Reprodução/TV Gazeta
A defesa do professor que furou o dedo de mais de 40 alunos com o mesmo objeto pontiagudo durante uma aula de química em Laranja da Terra, na Região Serrana do Espírito Santo, disse que o docente se cercou de todos os cuidados necessários para evitar qualquer tipo de prejuízo ou risco aos alunos. Além disso, o advogado Enoc Joaquim da Silva reforçou que a participação dos alunos foi voluntária.
O professor, que trabalha na área da educação há pelo menos 13 anos, foi ouvido pela polícia na tarde de quarta-feira (19). O momento em que uma das estudantes é furada foi gravado por um dos alunos.
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Especialistas ouvidos pelo g1 ressaltaram que compartilhamento de agulhas é um comportamento de alto risco que pode expor os pacientes a doenças potencialmente graves como a Aids/HIV, hepatite C, hepatite B, além de infecções bacterianas.
O nome do professor não está sendo divulgado para preservar a identidade dos alunos, que são menores de idade, conforme prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente.
A Secretaria de Estado de Educação do Espírito Santo (Sedu) informou que o objeto utilizado era uma lanceta, uma lâmina ou agulha fina estéril e de uso único, normalmente inserida em uma caneta para perfurar a pele e obter uma amostra de sangue.
No entanto, a pedido da TV Gazeta, médicos analisaram o vídeo em que os alunos têm os dedos furados e disseram não terem identificado o objeto pontiagudo que aparece nas imagens como uma lanceta.
Atividade na sala de aula
Professor furou dedo de mais de 40 alunos utilizado objeto pontiagudo não descartável durante aula de química em Laranja da Terra, Espírito Santo
Reprodução/TV Gazeta
O advogado divulgou uma nota em que reforçou que a aula prática era para a visualização de células em microscópio, e não para identificação do tipo sanguíneo dos alunos, como os estudantes tinham divulgado anteriormente.
“A aula prática com os alunos não se tratou de realização de exame para identificação do tipo sanguíneo dos alunos e sim de visualização de células em microscópio, tendo o professor se cercado de todos os cuidados necessários (de acordo com os materiais que tinha a sua disposição) para evitar qualquer tipo de prejuízo ou risco aos alunos”, disse a defesa.
O advogado ressaltou que fez contato com a assessoria do Ministério Público e com a polícia e se colocou à disposição para qualquer esclarecimento necessário. Confirmou também a demissão do professor.
“A participação dos alunos se deu de forma voluntária, não havendo qualquer imposição ou constrangimento para a participação dos mesmos nas atividades desenvolvidas. As atividades se deram em Laboratório de Ciência existente na própria instituição educacional”, pontuou.
O g1 entrou contato com a defesa para pedir mais detalhes sobre o caso, mas não teve nenhum retorno até a última atualização da reportagem.
A Polícia Civil informou que o caso segue sob investigação da Delegacia de Polícia (DP) de Laranja da Terra. Um inquérito policial foi aberto e a unidade realizará oitivas de todos os envolvidos no caso. Outros detalhes da investigação não serão divulgados, no momento.
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Momento gravado por alunos
Professor usa mesma agulha para furar dedos de mais de 40 alunos em escola
Uma estudante ouvida pelo g1 disse que alunos de quatro turmas passaram pela atividade entre os dias 7 e 14 de março. O caso aconteceu durante uma aula de Práticas Experimentais em Ciências realizada com 44 alunos.
No vídeo é possível ver uma aluna segurando as mãos e o dedo indicador separado para ser furado.
O professor usa luvas descartáveis, em uma das mãos segura o objeto pontiagudo e, na outra, o dedo da aluna. Ele fez um furo rápido no dedo e é possível ouvir algumas risadas de alunos ao fundo.
“Ui, nossa gente olha quanto sangue!”, diz a aluna que foi furada.
Após o furo no dedo, o professor aperta o membro para sair mais sangue. As imagens focam apenas no dedo e o vídeo acaba.
Uma aluna de 16 anos que participou de uma das aulas disse que os estudantes aceitaram participar do experimento porque confiavam no professor.
“A gente pensou: ‘ele é professor, ele sabe o que está fazendo’. Mas depois uma outra professora começou a explicar a situação falando que ele tinha errado e ela foi dando as orientações. Todo mundo ficou assim, bem chateado, muitas pessoas ficaram com raiva do professor, foi um caos na sala, foi difícil controlar todo mundo”, contou.
A adolescente relatou que o professor passava álcool no objeto usado para furar o dedo entre um aluno e outro, o que levou a turma a minimizar a ação.
“Como ele tava limpando com álcool, a gente, no calor do momento, a gente acreditou que tava tudo bem”, disse a aluna.
Médicos ouvidos pelo g1 ressaltaram que a limpeza de objetos com álcool não é um procedimento correto. Agulhas e outros itens perfurocortantes que entraram em contato com sangue e secreções precisam ser descartados após o uso ou, em casos específicos, serem esterilizados em equipamentos apropriados.
Riscos de compartilhamento de agulha
Mais de 40 alunos tiveram dedos furados por objeto pontiagudo não descartável durante aula de química no Espírito Santo
Reprodução/TV Gazeta
De acordo com a médica infectologista Ana Carolina D’Ettores, o compartilhamento de agulhas é um comportamento de alto risco que pode expor os pacientes a doenças potencialmente graves como a Aids/HIV, hepatite C, hepatite B, além de infecções bacterianas.
“O recomendado é sempre que não se reutilize nem no próprio paciente a mesma agulha. Toda agulha que é utilizada por qualquer pessoa deve ser descartada após o uso. E claro, antes de utilizar a área que terá o contato com a agulha precisa ser higienizada e descartada de forma coleta, para o tip de lixo específico apenas para material biológico”, destacou a médica.
Além disso, a infectologista pontuou que os jovens que ficaram expostos a esse compartilhamento precisam ter acompanhamento médico com exames de sangue regulares em 30, 60 e 90 dias para observar se alguma doença vai se manifestar.
Sobre o descarte, a infectologista pontuou que a agulha precisa ser jogada no tipo de lixo específico para material biológico.
“É um risco para quem pode manipular esse lixo, podem pegar, se acidentar e aí o funcionário vai ter um problema de risco de material biológico”, disse.
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