
Apesar de figurar entre as cidades que mais vendem veículos eletrificados no país, metrópole tem 99,5% dos carros, caminhões, motos, ônibus e utilitários movidos por combustíveis fósseis. Foto de arquivo do trânsito na Avenida Andrade Neves, em Campinas (SP)
Fernando Evans/G1
Campinas (SP) tem figurado entre as cidades que mais vendem veículos eletrificados no país, mas diante de uma frota que se aproxima de 1 milhão de carros, caminhões, motos, ônibus e utilitários, a parcela ainda é pequena se comparada aos modelos movimentados por gasolina, etanol, diesel e GNV (gás natural veicular).
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Um levantamento do g1 a partir de dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) mostra que dos 972.742 veículos registrados na metrópole em março de 2024, 99,5% são de modelos movidos por combustíveis fósseis.
Os chamados Flex, movidos tanto a etanol quanto gasolina, representam a maior fatia, com 432.155 do total de veículos, o que significa 44,4% da frota.
Na sequência estão os veículos movidos exclusivamente a gasolina, com 393.688 unidades, ou 40,4% do total.
Na lista dos eletrificados, a categoria com mais unidades na metrópole são os híbridos que rodam com gasolina e eletricidade, com 1.651 unidades.
Campinas foi a cidade brasileira com maior crescimento na venda de veículos eletrificados em 2023 em comparação ao ano anterior.
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Carros elétricos
Divulgação
Frota envelhecida
Os dados são um reflexo também de uma frota envelhecida, onde sete em cada 10 veículos têm 10 anos ou mais de fabricação.
Para efeito de comparação, em fevereiro de 2014, a proporção em Campinas era bem diferente: a parcela acima de 10 anos de fabricação representava 48,7% da frota, ou seja, a maioria dos carros, caminhões, motos, ônibus e utilitários era de modelos mais novos.
Entenda abaixo, na avaliação do economista Roberto Brito de Carvalho, da PUC-Campinas, os motivos que explicam a mudança no cenário na última década, e o que esperar dos próximos anos.
País ‘andou de lado’
Para analisar os números em Campinas, o economista contextualiza o cenário vivido pelo Brasil desde 2014, com uma série de crises políticas, financeiras e institucionais que fizeram o país “andar de lado”, criando um clima de instabilidade com “evidente impacto econômico”, e que transformou esse envelhecimento da frota uma consequência natural dado as circunstâncias.
Roberto Brito de Carvalho explica que o veículo como bem de consumo foi deixado de lado pelas famílias diante de dificuldades financeiras, e que a compra de bens duradouros, como são os veículos, dependem de uma cenário econômico mais favorável.
“O veículo como bem de consumo duradouro, ou seja, das famílias, acaba de certa forma também sendo negligenciado a aquisição em função das incertezas relacionadas ao mercado de trabalho. Se a gente olhar para esse período, período da pandemia, de muita dificuldade financeira, de queda da renda, isso dificultou muito a aquisição desse tipo de bem, que necessita de algum horizonte de tempo maior de aquisição”, pontua.
Carros novos em concessionária.
Fabio Tito/g1
O economista da PUC destaca também que a frota também é impactada por veículos comerciais, e que também foram impactados no período.
“Olhando sob a ótica da formação bruta de capital fixo, mais especificamente aqui, aqueles que são de frota de empresas, também sofreram queda de aquisição, porque além de nós termos esse cenário de insegurança, de dúvidas em relação à atividade econômica, a gente passou mais recentemente por um período muito duro de taxas de juros bastante elevadas”, explica Carvalho.
O economista Roberto Brito de Carvalho
Departamento de Comunicação PUC-Campinas
Tentativa de recuperação
Passado o período de instabilidade, os números do setor – e do cenário econômico em geral – começaram a reagir a partir de 2023. Em fevereiro do ano anterior, o percentual de veículos com mais de 10 anos de fabricação chegou a 72,7% na metrópole, e apresentou uma leve recuperação desde então.
“Olhando o horizonte do último ano, a gente tem uma série de situações que mudam bastante. Primeiro que de 2023 para 2024, a gente já se distancia um pouco mais da pandemia, o processo de retomada da atividade econômica já está completado, e a gente entra já em 2023 em outro cenário a partir de um novo governo que conseguiu garantir rapidamente algum nível de previsibilidade futura, com indicadores positivos, como queda da taxa de desemprego e queda da taxa de juros”, explica.
Um outro fator que entra na equação em 2023 é o programa de descontos para carros populares – a estimativa do governo federal é que 125 mil veículos tenham sido vendidos no período em que vigorou o incentivo.
“A gente pode chamar de uma política industrial verticalizada para o setor automobilístico, que incentivou a comercialização de veículos de baixa motorização, com selo verde e com alto nível de nacionalização ou com maior nível de nacionalização em prol de vendas. Isso, de uma certa forma, ajudou bastante algumas empresas que vinham com dificuldade de comercialização”, pontua o professor da PUC.
Planta da Toyota do Brasil em Indaiatuba
Toyota do Brasil / Arquivo Pessoal
Perspectiva positiva
O economista avalia que o atua cenário, com a frota envelhecida, mas uma condição econômica com indicadores mais favoráveis, cria uma perspectiva de longo prazo diferente, onde há condições mais adequadas para a compra desse tipo de bem, em geral, por meio de financiamentos.
“O índice de confiança do consumidor passa a influenciar a decisão. Quando ele olha para frente, ele acredita que vai ter emprego, acaba por assumir parcelas a serem pagas de longa duração, dois, três anos, em alguns casos cinco anos, e a perspectiva econômica de crescimento, como aconteceu ano passado, também impõe às empresas investimentos na frota, seja para o seu processo de renovação, seja para novas atividades econômicas”, analisa Roberto Brito de Carvalho.
Segundo a avaliação do professor da PUC, caso “as coisas permaneçam na direção que estão apontadas”, a tendência que é, que nos próximos anos, a idade da frota seja renovada e ocorra uma reversão desse percentual em Campinas.
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Reprodução/EPTV
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