
Líderes religiosos de diversas crenças relembram legado de Papa Francisco
Líderes religiosos de diversas crenças lamentaram a perda do Papa Francisco, que morreu aos 88 anos, na madrugada desta segunda-feira (21), em sua residência no Vaticano.
Entidades e membros de diversas religiões ressaltaram a atuação do argentino Jorge Mario Bergoglio no combate ao ódio e na promoção da igualdade e dignidade humana.
Abaixo, confira as mensagens deixadas em homenagem a Francisco:
Apostolo Estevam Hernandes, líder da Renarcer, igreja evangélica
“A Igreja Renascer em Cristo lamenta profundamente o falecimento do Papa Francisco, líder da Igreja Católica. Independentemente de crença ou denominação, reconhecemos que o Papa Francisco foi um grande homem de Deus, cuja vida foi marcada pelo amor ao próximo, pela defesa da justiça, da paz e da dignidade humana. Oramos para que o Espírito Santo console todos os que sofrem com essa perda e que o legado de fé, humildade e serviço deixado por ele continue inspirando gerações. Com pesar”.
Babalawô Ivanir dos Santos, sacerdote no candomblé
“Caminhar lado a lado, mesmo com diferentes crenças. Ao revisitar o legado do papa Francisco, seu pontificado se revela guiado por valores profundos de empatia, justiça, solidariedade e tolerância. Sua jornada como líder espiritual da Igreja Católica foi marcada pela disposição de caminhar junto aos que mais precisavam ser vistos e ouvidos. Francisco conduziu seu papado com uma sensibilidade, amor e equidade. Aproximou-se de pessoas em sofrimento, de comunidades esquecidas, de vozes silenciadas e invisibilizadas . Tornou-se um exemplo até mesmo para aqueles que não compartilham da doutrina católica, mas que reconhecem a grandeza dos seus gestos e diálogo sincero. Muitos de nós, que professamos outras tradições religiosas, enxergamos no sumo pontífice um símbolo de respeito, escuta e abertura. Um sinal de que é possível construir pontes mesmo em meio às diferenças.
Em 2013, tive a oportunidade de encontrá-lo , no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, durante sua visita ao Brasil. Na ocasião, compartilhei com ele a importância da Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa. Sua atenção e acolhimento à causa reapresentou muito sobre sua visão de mundo. Como sacerdote de matriz africana e interlocutor da Confissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) não poderia deixar de prestar minhas homenagens. Papa Francisco nos inspirou pelo gesto e pelo exemplo, ultrapassando fronteiras da fé. Sua partida deixa saudade, mas também um chamado à continuidade do que ele acreditava: o respeito à diversidade e o compromisso com a dignidade de todos. Ele se fez “sal da terra”. Que o Criador o receba com paz e luz. Francisco, o papa do diálogo, segue agora para a casa do Pai”.
Padre Júlio Lancelotti lamenta morte de Francisco I e fala do legado do ‘papa dos pobres’
Padre Júlio
O padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua, lamentou nesta segunda-feira (21) a morte do papa Francisco, aos 88 anos. Em entrevista à GloboNews, ele exaltou o legado de misericórdia e da compaixão deixado pelo pontífice.
“Se nós tivéssemos que dar um título ao Francisco seria: Francisco, o misericordioso. Isso é o que marca o papa Francisco. O amor aos pobres, aos imigrantes, aos refugiados, aos grupos rejeitados, à comunidade LGBT, a pessoas em situação de rua. O papa Francisco é o grande sinal de amor de Deus e do amor misericordioso de Deus. Isso vai ficar para sempre”, declarou.
Lancellotti relembrou ainda o modo simples de viver do papa antes de assumir o pontificado. Jorge Mario Bergoglio, como era conhecido antes de se tornar Francisco, morava em Buenos Aires, na Argentina, e optava por uma vida “junto com do povo mais sofrido”.
“Era alguém muito despojado, nunca viveu de honra e de glória, de poder. Sempre viveu de serviço, de proximidade, de despojamento. Francisco é o despojado, o misericordioso, o amigo dos pobres. Nós temos o Francisco de Assis, agora temos o Francisco de Roma”, disse.
Questionado sobre o futuro líder da Igreja Católica, Lancellotti afirmou que “precisamos continuar esse caminho em direção aos pobres, as pessoas, aos doentes, aos moradores de rua, aos despojados”.
“O mundo todo olha para Roma na expectativa de que o espírito do Francisco, iluminado pelo Espírito Santo de Deus e pelo caminho que Jesus nos propôs, seja o caminho do amor”.
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Padre Júlio Lancellotti e papa Francisco
Montagem g1/Reprodução
Telefonema
Em um sábado de outubro de 2020, em meio a pandemia de Covid-19, quando o padre Júlio Lancellotti recebeu uma surpresa: um telefonema do papa Francisco. No início da conversa, ele não sabia que falava com o pontífice.
“Eu não sabia que era ele. Na conversa fui percebendo, quando ele disse ‘sou o papa Francisco’, eu disse ‘santidade!’. E ele disse: ‘eu sei tudo o que acontece com você, eu acompanho de perto, por isso liguei e continue assim junto dos pobres’. Por isso hoje, apesar de todo esse impacto da notícia, nós estamos fazendo o que fazemos todos os dias [o trabalho da Pastoral do Povo], é uma homenagem ao papa”, disse.
O papa telefonou para o padre Júlio às 14h15 para saber por quais dificuldades a pastoral passava. Na época, o coordenador da Pastoral do Povo de Rua ainda compartilhou que o pontífice lhe perguntou sobre os moradores de rua do Brasil e pediu que continuasse seu trabalho junto aos pobres.
“[O papa Francisco] Disse que não desanimem, tenham coragem e façam como Jesus fazia. Nós temos que realmente viver esse momento com solidariedade, com atenção aos mais fracos, e isso tem que ser uma tônica pra mudança da estrutura da vida que a gente tem”, afirmou.
Em 2020, o padre Júlio também havia sido ameaçado ao menos duas vezes. Em janeiro, policiais teriam dito a três jovens moradores de rua que “a hora do Padre Julio Lancelotti vai chegar”. Ele também registrou um boletim de ocorrência por ameaça após ter sido xingado por um motoqueiro enquanto fazia trabalho de atendimento a moradores de rua no Centro da cidade.
Papa Francisco deixa legado de transformação na Igreja Católica