
Sem saber da gestação, mulher de 46 anos deu à luz na calçada em Governador Valadares. Especialista explica como casos raros como esse podem passar despercebidos. Mulher de 46 anos dá à luz em calçada de MG sem saber que estava grávida
João Marcos Lima/Inter TV dos Vales
Uma mulher, de 46 anos, deu à luz de forma inesperada na manhã dessa segunda-feira (19), na porta da garagem da casa onde trabalha como cuidadora de idosos, no Centro de Governador Valadares. Sem saber que estava grávida, ela entrou em trabalho de parto durante o expediente.
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Andreia Oliveira dos Santos contou que, no ano passado, passou por um procedimento para colocação de balão intragástrico. Após cerca de cinco meses, retirou o balão por causa de incômodos e problemas intestinais. Mesmo depois da retirada, os sintomas continuaram, incluindo inchaço abdominal.
“Minha barriga começou a inchar, ficar grande, né? Só que eu não preocupei, eu achei que era problema de intestino”, disse.
Na manhã do parto, ela sentiu dores lombares e um líquido começou a sair, mas acreditou que se tratava de outro episódio relacionado ao intestino.
“Achei que era até fezes presas, que meu intestino tinha parado”, contou.
Ao tentar abrir o portão da casa para buscar ajuda, ela sentiu uma pressão intensa e percebeu que estava entrando em trabalho de parto.
“Quando eu cheguei no portão, eu senti uma pressão muito forte. Aí eu chamei a vizinha do lado. Quando eu falei: “Me ajuda aqui!” desceu um negócio. Quando eu olhei, era um menino. Caiu lá no chão e eu não sabia que estava grávida.”
O parto aconteceu na calçada, na porta da garagem da residência, no centro da cidade. Vizinhos que estavam por perto ajudaram até a chegada do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que levou mãe e filho ao Hospital Municipal.
O bebê, que recebeu o nome de Miguel Lucas, está bem. Ele já passou pelo teste do pezinho e está sendo amamentado pela mãe na maternidade.
O pequeno Miguel Lucas passou pelo teste do pézinho no Hospital Municipal de Governador Valadares
João Marcos Lima/Inter TV dos Vales
Sem saber da gestação, Andreia não tinha nenhum item preparado para a chegada do bebê.
“Nem roupa eu tenho, vou ter que comprar tudo para esse menino. Foi uma surpresa.”
Ela também relatou que estava sem menstruar, o que associava à menopausa. Já os enjoos que sentiu no início foram atribuídos aos efeitos do balão intragástrico.
“Senti enjoo, mas como todo mundo que colocou balão gástrico também sentia, achei que era normal.”
Andreia é mãe de outros dois adolescentes, de 16 e 17 anos. A chegada repentina de Miguel Lucas surpreendeu toda a família.
Gravidez silenciosa e fator de confusão: o que explica um caso como esse?
De acordo com a ginecologista e obstetra Dra. Marcela Laender, especialista em ginecologia endócrina, o caso de Andreia se encaixa no que é chamado de gravidez silenciosa ou assintomática — uma condição rara em que os sinais clássicos da gestação não são percebidos pela mulher. Isso inclui sintomas como náuseas, aumento das mamas, alterações hormonais e a movimentação do feto.
Em alguns casos, o biotipo corporal pode dificultar a percepção do crescimento do útero. No caso de Andreia, a presença recente de um balão intragástrico confundiu ainda mais os sinais. Segundo a médica, todos os sintomas que poderiam indicar uma gravidez foram atribuídos ao procedimento. A paciente sentia náuseas e inchaço abdominal, mas acreditava que eram efeitos colaterais do balão.
“Todos os sinais que poderiam levá-la a desconfiar da gravidez, ela associou ao balão. (…) Ela teve náusea, mas achou que era por causa do procedimento. Sentiu a barriga endurecida, mas acreditou que eram problemas intestinais por conta do procedimento”, afirmou.
Outro ponto importante foi a idade. Com 46 anos, Andreia imaginou estar entrando na menopausa ao notar a ausência de menstruação, o que também ajudou a afastar a possibilidade de gravidez. Porém, de acordo com Dra. Marcela, a menopausa só é confirmada após 12 meses consecutivos sem menstruação, e que, apesar de rara, a fertilidade ainda é possível nessa faixa etária.
Apesar do parto ter ocorrido sem complicações, a especialista alerta para os riscos de uma gestação sem acompanhamento pré-natal, especialmente em casos considerados de alto risco, como o de mulheres acima dos 40 anos. O pré-natal, segundo ela, é essencial para identificar precocemente condições como pré-eclâmpsia ou malformações congênitas.
“Ela teve sorte. A maioria das gestações vai bem, mas o pré-natal existe para detectar e prevenir complicações”, ressaltou.
Marcela destaca que a história de Andreia, embora com um final feliz, não deve ser encarada como exemplo.
“Não é porque uma mulher de 46 anos teve um parto tranquilo sem fazer pré-natal, que isso deve ser normalizado. É um caso raro, e foi justamente por isso que chamou atenção.”
Passa bem o bebê que nasceu em uma calçada em Governador Valadares
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