
As nove calhas dos rios amazonenses devem continuar em cheia até, pelo menos, o mês de junho, segundo o Comitê Permanente de Enfrentamento a Eventos Climáticos e Ambientais. Pontes de madeira foram construídas para ajudar no deslocamento de moradores em Benjamin Constant
Alexandro Pereira/Rede Amazônica
O número de municípios em situação de emergência no Amazonas devido à cheia dos rios subiu para 23, segundo o Painel de Monitoramento Hidrometeorológico da Defesa Civil do Estado, atualizado nesta terça-feira (20).
Mais de 221 mil pessoas são afetadas diariamente, enfrentando dificuldades de locomoção, perdas na produção rural e inundações em suas casas.
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Historicamente, a cheia na região começa na segunda quinzena de outubro, com o fim da seca, que em 2024 registrou níveis recordes no estado.
A previsão é que o cenário se mantenha. Segundo o Comitê Permanente de Enfrentamento a Eventos Climáticos e Ambientais, as nove calhas dos rios amazonenses devem permanecer em cheia até, pelo menos, junho.
Na última atualização, três municípios foram reclassificados do estado de alerta para emergência: Careiro da Várzea, às margens do rio Solimões; Maraã, no rio Japurá; e Anamã, banhado pelo rio Amazonas.
Confira a lista dos 23 municípios que estão em situação de emergência:
Humaitá – Rio Madeira
Apuí – Rio Madeira
Manicoré – Rio Madeira
Boca do Acre – Rio Purus
Guajará – Rio Juruá
Ipixuna – Rio Juruá
Novo Aripuanã – Rio Madeira
Benjamin Constant – Rio Solimões
Borba – Rio Madeira
Tonantins – Rio Amazonas
Itamarati – Rio Juruá
Eirunepé – Rio Juruá
Atalaia do Norte – Rio Solimões
Careiro – Rio Solimões
Santo Antônio do Içá – Rio Solimões
Amaturá – Rio Solimões
Juruá – Rio Solimões
Japurá – Rio Amazonas
São Paulo de Olivença – Rio Solimões
Jutaí – Rio Jutaí
Careiro da Várzea – Rio Solimões
Maraã – Rio Japurá
Anamã – Rio Amazonas
Além dos municípios em emergência:
Três estão em estado de atenção;
34 em alerta;
e dois em normalidade.
🌧️ Segundo o meteorologista e pesquisador Leonardo Vergasta, dois fenômenos explicam o aumento no volume dos rios em comparação a 2024:
O Inverno Amazônico, que traz chuvas acima da média para a Região Norte e deve durar até o fim de maio.
O La Niña, que chegou ao fim em abril, mas deixou consequências.
“No início de 2025, tivemos a atuação do La Niña, que resfria as águas do Pacífico Equatorial. Isso aumenta a intensidade das chuvas na região. Como coincidiu com nosso período chuvoso, desde fevereiro, toda a bacia amazônica registrou volumes de chuva acima do normal”, explicou o pesquisador.
Cheia já afeta mais de 209 mil pessoas no Amazonas.
Alexandro Pereira/Rede Amazônica
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Impactos na produção rural
O município de Benjamin Constant, localizado na região da tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, é um dos mais afetados pela cheia dos rios. Desde março, parte da orla da cidade está submersa e muitas casas às margens do Rio Javari, afluente do Solimões, também.
Já são quase 21 mil pessoas afetadas diretamente pela cheia do rio nas zonas urbana e rural, o que representa cerca de 45% da população do município.
Na zona rural, agricultores perderam praticamente toda a produção. É o caso da agricultora Ana Luzia, que cultiva hortaliças.
“Nós ‘plantava’ couve, repolho, alface, cheiro verde, temos também mandioca plantado, e tudo foi levado pela água. Há dois anos que não alagava e esse ano foi levando tudo”, relatou.
O maracujá, um dos principais alimentos cultivados no município, também acumula perdas de produção. O excesso de água prejudica o cultivo do maracujá, faz as folhas e o caule secarem e os frutos não se desenvolverem por completo
“É um prejuízo que a gente não pode nem calcular, porque se não alagasse, eu ia ficar colhendo dois anos tranquilo, só fazendo o termo de podar”, disse o agricultor Juarez Lima.
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Alexandro Pereira/Rede Amazônica
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