
Biólogo Adriano Martins explica as características que tornam três espécies de serpentes mais temidas por quem vive na região. Atualmente, somente em Rondônia são conhecidas mais de 118 espécies de serpentes, das quais 18 são consideradas peçonhentas. Mas você sabe quais delas são as mais venenosas? O g1 conversou com o biólogo Adriano Martins, especialista em herpetologia, que explicou características que destacam a Jararaca-da-Amazônia (Bothrops atrox), Surucucu-pico-de-jaca (Lachesis muta) e Coral-verdadeira (Micrurus spp.) como as mais perigosas e temidas da região.
Segundo Adriano, as cobras venenosas têm glândulas que produzem veneno e dentes especiais que conseguem injetá-lo, o que pode causar acidentes. Na Amazônia, três delas lideram a quantidade de acidentes ofídicos.
Nesta reportagem você vai encontrar:
1. Quem são as serpentes mais venenosas da Amazônia
2. Onde elas vivem
3. Suas contribuições para a ciência e o equilíbrio ambiental
4. Cuidados para não ser picado
5. Medidas a serem adotadas em caso de um possível acidente ofídico
1. Jararaca-da-Amazônia (Bothrops atrox)
Jararaca-do-norte, jararaca-da-amazonia
Vanessa Gama
A Bothrops atrox é a principal causadora de acidentes ofídicos em Rondônia e em toda a Amazônia brasileira. É uma serpente de hábitos terrestres, geralmente encontrada em áreas de floresta, margens de rios, roçados e até mesmo em áreas urbanas periféricas.
Veneno: proteolítico e coagulante, causa dor intensa, inchaço, necrose, sangramentos e, em casos graves, choque e insuficiência renal.
Comportamento: geralmente noturna, pode atacar se ameaçada ou surpreendida.
Importância médica: representa mais de 70% dos acidentes ofídicos na região.
2. Surucucu-pico-de-jaca (Lachesis muta)
Surucucu-pico-de-jaca é vista com menos frequência na natureza
Willianilson Pessoa/Arquivo
Conhecida por ser a maior serpente peçonhenta das Américas, podendo ultrapassar 3 metros de comprimento, a surucucu é rara e perigosa. Vive em áreas de floresta densa e pouco alterada, sendo mais difícil de ser encontrada.
Veneno: semelhante ao da jararaca, com ação hemorragia e necrose, mas também com efeitos cardiovasculares (hipotensão).
Comportamento: pode vibrar a cauda como forma de alerta. Costuma evitar o contato humano.
Curiosidade: ao contrário da maioria das serpentes peçonhentas da América do Sul, a Lachesis é ovípara (bota ovos).
3. Coral-verdadeira (Micrurus spp.)
Coral-verdadeira (Micrurus frontalis) é considerada a cobra mais letal do Brasil, pela toxicidade de seu veneno
Josh Vandermeulen / iNaturalist
As corais verdadeiras são serpentes de pequeno porte, coloração vibrante (anéis vermelhos, pretos e brancos), e comportamento discreto. Apesar de não serem responsáveis por muitos acidentes, seu veneno é altamente tóxico.
Veneno: neurotóxico, age diretamente no sistema nervoso, podendo causar paralisia muscular e respiratória.
Comportamento: fossorial (vive enterrada), tímida e raramente entra em confronto com humanos.
Perigo: acidentes são raros, mas potencialmente letais se não tratados rapidamente.
Onde vivem as serpentes?
O estado de Rondônia, na região Norte do Brasil, é reconhecido por sua expressiva diversidade biológica, integrando o bioma amazônico, um dos ecossistemas mais ricos do planeta. É nessa diversidade de ambientes que vivem as serpentes.
Segundo Adriano, elas estão nos mais variados nichos ecológicos, como florestas densas, áreas alagadas, campos abertos e bordas de matas.
“Por conta disso, a maioria dos acidentes ocorrem em áreas rurais, durante atividades como a agricultura, coleta de frutos, caça ou pesca”, explica o especialista.
Apesar do risco do contato direto com essas espécies, Adriano ressalta que as serpentes são fundamentais para o equilíbrio da natureza, sendo responsáveis pelo controle natural de pragas, além de servirem como alimentos para aves de rapina, felinos e outros.
“A extinção dessas espécies causaria desequilíbrio na cadeia alimentar. Sem serpentes, populações de roedores, por exemplo, cresceriam descontroladamente, afetando plantações e a saúde pública”, afirma.
Contribuições à ciência
As serpentes peçonhentas contribuem significativamente para a ciência. Atualmente, elas auxiliam no desenvolvimento de medicamentos anti-hipertensivos, como o captopril, derivado do veneno de jararaca.
Segundo Adriano, também há estudos em andamento sobre o uso de venenos para promover a coagulação e a regeneração tecidual, além de pesquisas sobre o uso das neurotoxinas para tratar doenças neurológicas e dores crônicas.
Veneno de cobra gera interesse para produção de medicamentos
Reprodução/TV Globo
Cuidados ao acessar áreas de mata
Entre as maneiras mais eficientes de evitar acidentes com serpentes peçonhentas estão:
Usar botas e perneiras;
Caminhar com atenção, evitando folhas secas e troncos caídos;
Não colocar as mãos em buracos ou sob pedras;
Evitar sair à noite em áreas de mata densa;
Manter-se atento ao ambiente e evitar manusear serpentes.
Orientações do que fazer caso seja picado por uma cobra
Lavar o local da picada com água e sabão
Ficar deitado com o membro picado elevado
Afastar-se da cobra
Tentar ficar calmo e parado
Retirar qualquer joia, acessório ou roupa apertada da área mordida
Não cortar, furar, fazer compressas ou torniquetes no local da mordida
Não usar nenhum medicamento local ou por via oral, na tentativa de aliviar os sintomas
Manter a pessoa hidratada
Procurar o serviço médico mais próximo
Se possível, leve o animal ou tente tirar uma foto da cobra para que ela possa ser identificada.
É recomendado o repouso de 10 à 14 dias após a picada de cobra.
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