Sobrevivente de acidente em caixa d’água relata tensão ao tentar ajudar amigos que morreram: ‘Não sei como consegui sair


José Coutinho contou detalhes de como ocorreu o acidente dentro do reservatório de água do Condomínio Via Parque, em Rio Branco. Pinto confirmou não eram utilizados EPI’s no momento. José conta como acidente aconteceu
Reprodução Rede Amazônica Acre
“A gente passou mal também na hora que estávamos prestando socorro”. O relato é do pintor José Coutinho, que sobreviveu ao acidente dentro do caixa d’água do Condomínio Via Parque, em Rio Branco, na última quinta-feira (12). Ruan Roger da Silva Barbosa, de 32 anos, e Diony Magalhães Oliveira, de 22, que estavam com José, morreram de asfixia seguida de afogamento no reservatório.
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Os três pintavam a parte interna da caixa d’água quando passaram mal. Ainda muito abalado, José Coutinho falou sobre o acidente com a Rede Amazônica Acre nessa sexta-feira (13) durante o velório de Diony, que era casado com a filha dele.
Ele relatou que o trio revezava dentro do tanque por conta do forte cheiro do produto usado. O primeiro a perder a consciência, segundo ele, foi Diony Oliveira.
De cinco minutos [descia] um, cinco minutos outro. Aí chegou a vez do Diony. Ele desceu pra pintar e a gente começou a perceber que estava meio aéreo, meio que perdendo a noção. Aí a gente desceu para prestar socorro, eu e o Ruan, que estávamos lá em cima”, relembrou o pintor.
Ao descerem no tanque para socorrer o colega, ele e Ruan começaram a passar mal devido ao cheiro do produto. “Eu falei: ‘Ruan, vamos subir e pedir socorro’. Foi na hora que a minha mente entrou em colapso e não sei como consegui sair”, relembrou.
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Trabalhadores não usavam EPI
O pintor confirmou que eles estavam sem Equipamento de Proteção Individual (EPI) no momento do acidente. De acordo com ele, a suspensão do uso se deu por conta das más condições do material entregue.
“Passaram equipamentos pra nós, mas a gente tirava porque entupiam os filtros e ficava mais difícil de respirar lá dentro”, reafirmou.
O major do Corpo de Bombeiros, Dyego Vieria, que ajudou no resgate aos corpos, confirmou que as vítimas não usavam EPI dentro do reservatório.
“Não tinham os equipamentos necessários, inclusive, de proteção individual. Vale ressaltar aqui que é de extrema importância. Não identificamos no local o uso desses equipamentos, as vítimas não estavam usando o equipamento de proteção respiratória”, disse.
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Arquivo pessoal
Em entrevista à Rede Amazônica Acre, o superintendente do Ministério do Trabalho do Acre, Leonardo Lani, falou sobre a importância do uso de EPI’s e frisou que a responsabilidade por fornecer os equipamentos, assim como fiscalizar o uso, é da empresa.
“A responsabilidade por fiscalizar o uso do EPI é da empresa, então, ela não pode se eximir da sua responsabilidade falando que o trabalhador deixou de usar. Se o trabalhador tem um comportamento errático remitente, uma resistência em usar o EPI a empresa pode utilizar de medidas administrativas disciplinares pegar advertência suspenções e até mesmo eventual demissão”, explicou Lani.
A Empresa Pimentel Engenharia, que prestava o serviço para o condomínio, reafirmou que foram fornecidos aos trabalhadores todos os equipamentos de segurança.
A empresa disse também que havia um engenheiro fiscal presente na obra e que os trabalhadores foram devidamente orientados.
Sobre a informação dada pelo trabalhador sobrevivente de que os equipamentos estavam em más condições, a empresa nega e disse que os equipamentos passavam por manutenção regular.
Causa das mortes
Ruan Roger da Silva Barbosa, de 32 anos, e Diony Magalhães Oliveira, de 22, morreram de asfixia seguida de afogamento ao entrarem em uma caixa d’água. O g1 teve acesso ao laudo com exclusividade.
Em entrevista ao g1, Denise de Freitas, tia de Diony, disse que também recebeu a informação de que os dois trabalhadores estavam sem Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) dentro da caixa d’água.
“Falaram pro meu irmão, o pai do Diony, que eles não tinham equipamento lá no local. Aí eu cheguei lá e perguntei se ele estava com equipamento, e uma moça que se apresentou como advogada falou que a empresa dava os EPIs para eles”, contou Denise.
A tia falou ainda que foi contestada pela advogada do porquê eles estavam sem os equipamentos, porém, ela não sabia responder. Denise acredita que se os dois estivessem com todos os EPI’s, o sobrinho estaria vivo.
“Essa tragédia não teria acontecido, porque pela altura da caixa d’água, ele tinha que ter, no mínimo uma corda para subir e descer. No momento que eles desmaiaram, se tivesse uma corda, o rapaz que estava fora da caixa d’água poderia puxar eles sem ter que descer e inalar também o produto”, afirmou ela.
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Sobre o sobrinho, Denise comentou que Diony era um rapaz alegre, divertido, sempre de alto astral, carinhoso e muito familiar.
“Quem perdeu foi a gente, a família e ele, a vida. Não era pai, era um menino jovem. É muito difícil. Ele sempre fazia os bicos dele, sempre trabalhou de carteira assinada, e sempre quando aparecia, ele estava fazendo os serviços dele”, lamentou.
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O dono da Empresa Pimentel Engenharia, Germano Pimentel, comunicou que foram fornecidos todos os equipamentos de segurança necessários para a execução dos serviços: cinto de segurança, cadeira de resgate, máscara com filtro químico, capacete, corda de segurança, luvas e botas.
“Não sabemos informar porque eles não estavam com os EPIs naquela hora. A empresa está colaborando com as autoridades para a apuração dos fatos”, disse ele.
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O empresário compartilhou com o g1 o vídeo de um dos trabalhadores, dois dias antes do acidente, em que ele usava os equipamentos de segurança.
A empresa divulgou uma nota de pesar onde se solidariza com os familiares e amigos das vítimas e informa que “está prestando o suporte cabível e colaborando irrestritamente com as autoridades competentes na investigação e apuração detalhada dos fatos”.
Mortes em reservatório de água
Equipes do Corpo de Bombeiros do Acre foram para o local e conseguiram retirar os corpos do reservatórios na quinta (12) por volta das 18h33. A caixa d’água tem cerca de 30 metros de altura e no momento do acidente estava com, aproximadamente, um metro de água.
Em nota, o condomínio informou que as vítimas são de uma empresa terceirizada responsável pela manutenção preventiva e corretiva dos reservatórios. A administração lamentou a fatalidade e diz que acompanha o caso com compromisso de colaborar com as autoridades.
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“Manifestamos nossa solidariedade aos familiares e nos colocamos à disposição para os devidos esclarecimentos e providências”, afirmou.
Os bombeiros confirmaram que três rapazes pintavam a caixa d’água, quando passaram mal com cheiro da tinta.
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