Farley Vinícius foi indiciado por falsidade ideológica de documento público e tentativa de inserção de dados falsos em sistema de informações. Indiciamento foi revelado pelo blog da jornalista Daniela Lima. Médico Farley Vinícius de Alcântara, que trabalhou em Cabeceiras, em Goiás
Reprodução/Redes Sociais
O médico Farley Vinícius Alencar de Alcântara foi indiciado por participar de um esquema de fraude em dados de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e pessoas próximas a ele. Farley foi indiciado por falsidade ideológica de documento público e tentativa de inserção de dados falsos em sistema de informações.
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O g1 tentou contato com o médico na manhã desta terça-feira (19), mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem.
O indiciamento foi revelado pelo blog da jornalista Daniela Lima, e os documentos seguem em sigilo. A investigação apontou que Farley teria usado dados de vacinação de uma enfermeira para fraudar cartão de vacina de Gabriela Santiago Ribeiro Cid, esposa de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro (entenda abaixo como aconteceu a fraude).
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O g1 Política mostrou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais 16 pessoas (incluindo Farley) foram indiciadas na última segunda-feira (18) pela Polícia Federal (entenda melhor no decorrer da reportagem).
Quem é o médico?
Farley é sobrinho do sargento do Exército Luís Marcos dos Reis, ex-integrante da equipe de Mauro Cid, que foi preso em maio de 2023, durante a operação deflagrada pela Polícia Federal.
Em suas redes sociais, Farley contava que se formou pela faculdade de Medicina de Juiz de Fora, em Minas Gerais. Segundo o prefeito de Cabeceiras, Farley havia trabalhado por credenciamento no município em 2018 e depois retornou como plantonista, clínico geral do hospital municipal da cidade. Em maio de 2023, a prefeitura afirmou que o médico prestou serviços ao município até o mês de dezembro de 2021.
Além do município de Cabeceiras, o médico também prestou serviços à prefeitura de Goiânia por um ano. A edição do dia 15 de agosto de 2018 do Diário Oficial do Município detalha que, no dia 1º deste mesmo mês, o médico havia iniciado um contrato de médico de urgência e emergência com o valor de R$ 84 mil. Segundo o documento, o contrato seria válido até agosto de 2019.
Na época, ao g1, a prefeitura da capital informou que, após o vencimento do contrato, que constituído via credenciamento, foi encerrado o vínculo com a Secretaria Municipal de Saúde.
Em seu perfil do Instagram, Farley ainda informava que fez sua residência médica em oftalmologia no Hospital de Base, no Distrito Federal, e dizia ser especialista em catarata, a doença doença capaz de deixar a visão embaçada e ofuscada, “caracterizada pela opacidade lenta e gradativa do cristalino”.
Fraude em cartão de vacina
Carteira de vacinação da esposa do Coronel Cid preenchido com duas doses de vacinas contra a Covid
Reprodução
De acordo com a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a operação deflagrada pela Polícia Federal (PF), para a prática da suposta fraude, Farley foi acionado por seu tio, Luís Marcos dos Reis, ex-integrante da equipe de Mauro Cid, que também foi alvo da investigação da Polícia Federal. O médico foi acionado enquanto ainda prestava serviços para a prefeitura de Cabeceiras, em 2021.
Na ocasião, o médico teria conseguido um cartão de vacinação da Secretaria de Saúde do município de Cabeceiras, que estaria preenchido com duas doses de vacina contra a Covid-19, com o nome de Gabriela Cid.
Segundo apurado pela Polícia Federal durante a investigação, mensagens de WhatsApp mostram que os dados da vacina que constam nesse cartão com o nome de Gabriela, como data, lote, fabricante e aplicador, foram retirados por Farley de um cartão de vacinação de uma enfermeira que teria sido vacinada na cidade de Cabeceiras.
Ainda de acordo com a Polícia Federal, no dia 22 de novembro de 2021, às 19h11, foi feito o envio de um documento entre o tio de Farley, Luis Marcos dos Reis e Mauro Cid. A PF aponta que o arquivo consistia na digitalização de um “cartão de vacinação” do Sistema Único de Saúde da Secretaria de Estado de Saúde do Governo de Goiás.
O cartão de vacinação, em nome de Gabriela Santiago Ribeiro Cid, registra que a mulher teria recebido uma dose de vacina no dia 17 de agosto de 2021, do lote FF2591, e outra no dia 9 de novembro de 2021, do lote TG3529. Ambas as doses seriam produzidas pelo laboratório BioNtech. No campo de observações do cartão de vacina, é possível ver a assinatura e o carimbo de Farley.
Ainda de acordo com a polícia, além de entregar o cartão falso, retirado do comprovante de vacinação de uma enfermeira que teria sido imunizada em Cabeceiras, Farley também entregou outro cartão em branco. Isso, porque o grupo não teria conseguido cadastrar o cartão anterior no sistema do Rio de Janeiro.
“Tirei foto do cartão da enfermagem lá. Pq não deu certo?”, diz o médico em mensagem ao tio.
A suspeita, segundo a Polícia Federal, é que Mauro Cid, Gabriela Cid, Luis Marcos e Farley tenham “se unido” para a prática do crime de falsidade ideológica.
O g1 não conseguiu localizar as defesas de Gabriela Santiago Ribeiro Cid, Mauro Cesar Barbosa Cid e Luís Marcos dos Reis para um posicionamento até a última atualização desta reportagem.
O que significa o indiciamento?
Conforme mostrou o g1 Política, o indiciamento significa, na prática, que a PF entendeu que há elementos suficientes de que um investigado é o responsável por um crime.
Com esses indícios concretos, a Polícia Federal envia o caso ao Ministério Público. Como o inquérito tramita no Supremo, o indiciamento vai às mãos da Procuradoria-Geral da República.
Cabe aos procuradores do MP avaliar o material colhido pela polícia e decidir se há indícios suficientes, ali, para levar o caso à Justiça. Se sim, o Ministério Público apresenta a denúncia.
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