Conversas entre investigados e parentes apontam ciência sobre falta de vacinas e pressão sobre servidores para liberar acesso a sistemas. PF indiciou Bolsonaro, Cid e mais 15. O relatório da Polícia Federal (PF) no inquérito sobre falsificação de certificados de vacinação contra a Covid-19 trouxe mensagens trocadas entre os investigados como evidências da articulação para produção e inserção dos dados falsos em sistemas oficiais.
A maior parte das conversas envolve servidores da prefeitura da cidade fluminense de Duque de Caxias, onde foram falsamente registradas vacinas, segundo a PF, do então presidente Jair Bolsonaro, de sua filha de 12 anos, de assessores de Bolsonaro e do deputado federal Gutemberg Reis (MDB-RJ).
Bolsonaro, Cid e mais 15 investigados foram indiciados pela PF nesta segunda (18) por uma série de crimes relacionados a esse esquema.
Com o indiciamento, o caso passa às mãos da Procuradoria-Geral da República (PGR), que vai avaliar se há elementos suficientes para denunciar os investigados à Justiça.
Nesta terça (19), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes retirou o sigilo do relatório da PF sobre esse caso. As mensagens constam nesse documento.
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Entre as mensagens, a polícia registrou:
memes sobre perfis falsos para inclusão de certificados,
o pedido da filha de um dos envolvidos para que o pai não incluísse um registro falso para ela, pois tomaria a vacina, e
registro da pressão para que um operador do sistema de inclusão dos dados cedesse seu acesso.
Veja abaixo:
‘Não falsifica pfv’
Uma das conversas mencionadas pela Polícia Federal foi extraída do celular do então secretário municipal de Governo de Duque de Caxias, João Carlos de Sousa Brecha.
Brecha foi indiciado pela PF pela inserção de dados falsos de vacinação para o ex-ajudante de ordens da Presidência, Mauro Cid, sua esposa e filhas, Bolsonaro e sua filha e para assessores do ex-presidente. A PF também o incluiu no indiciamento por associação criminosa.
Nas conversas registradas pela PF, uma filha de Brecha comunica em junho de 2022, em um grupo da família, ter tomado a primeira dose da vacina e diz que “nem doeu”.
Mais tarde, em outubro do mesmo ano, ela diz ao pai em conversa privada que tomaria a segunda da dose da vacina e faz um pedido: “Não falsifica pfv”. Em resposta, Brecha concorda com o pedido e completa: “vc é mto corajosa.”
Para a PF, a troca de mensagens “evidencia bem o esquema criminoso de inserção de dados falsos de vacinação contra a covid-19 no sistema do Ministério da Saúde, instalado na Prefeitura de Duque de Caxias.”
‘Não tenho vacina né bonita’
Ao apresentar as evidências de que os registros de vacinação incluídos eram falsos, a PF destaca mensagens trocadas entre duas filhas de Mauro Cid em janeiro de 2022.
Questionada pela irmã se ela havia viajado ao Canadá com a avó, uma das filhas diz que não. Perguntada sobre o motivo, ela responde: “não tenho vacina né bonita” e diz que “no Canadá é outro esquema.”
Em outras mensagens, trocadas em abril do mesmo ano, uma das irmãs diz à outra não acreditar que o pai, Mauro Cid, viaje aos Estados Unidos porque “ele não tem vacina”.
A PF destaca que, segundo os registros feitos no Ministério da Saúde, Cid e as filhas teriam recebido três doses de vacina no Centro Municipal de Saúde de Duque de Caxias, entre junho e novembro de 2021, antes, portanto, das mensagens em que as filhas comentam a ausência de vacinação.
‘Dr. Hacker Sincero’
Outra conversa citada pelos investigadores foi registrada entre Claudia Helena Acosta, servidora da prefeitura de Duque de Caxias, e uma outra funcionária municipal.
Claudia Helena é uma das indiciadas por associação criminosa e inserção de dados falsos. Segundo a PF, ela ajudou a incluir registros falsos de vacinação do deputado federal Gutemberg Reis, de Bolsonaro e assessores. O inquérito traz, por exemplo, mensagens em que ela aparece orientando João Carlos Brecha sobre como incluir e excluir dados do sistema, especificamente os registros de Bolsonaro.
Para a PF, as mensagens trocadas por Cláudia e a outra servidora, em julho de 2021, “reforçam os indícios de um grande esquema de inserção de dados falsos de vacinação envolvendo políticos do município.”
Na conversa, a outra servidora, identificada apenas como Lilian, envia um meme com o que a PF registrou como “supostamente uma tela de computador” do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI) com o nome do perfil registrado como “Dr. Hacker Sincero”. Cláudia responde: “: “É Caxias ??? Aqui que só tem doutores da lei. Kkkkkkkk”.
Em resposta, Lilian diz ““Aqui é Dr Serrano mesmo”.
Para a PF, esta provavelmente seria uma “alusão às inserções de dados de vacinação no SI-PNI a mando da Subsecretária de Saúde do Município Célia Serrano da Silva”, outra das indiciadas pela PF no inquérito.
‘Eu não sei se querem colocar dose que não existe’
As mesmas servidoras também aparecem no relatório conversando sobre um episódio de pressão a um servidor para que liberasse sua senha de acesso aos sistemas do Ministério da Saúde para os investigados.
Em dezembro de 2021, Cláudia envia uma mensagem de áudio a Lilian dizendo que Célia Serrano teria ligado para alguém chamado Theo – posteriormente identificado pela PF como um servidor da prefeitura.
Segundo a transcrição do áudio feita pelos investigadores, Cláudia diz que “o Brecha acho que queria acesso ao SCPA, ao SI-PNI” – o sistema do Ministério da Saúde para inclusão dos dados. “Theo não conseguiu falar co cê, porque não tem como liberar o acesso, né, porque o arquivo está na central”, continua.
“A Dra Célia Serrano fez o Theo dar a senha dele pro Brecha, e o Theo tem todos os acessos, a todas as unidades, com aquela senha.”, diz a servidora. Claudia segue dizendo que o servidor ligou desesperado pedindo que ela falasse com Célia Serrano, e completa: “Eu não sei o que os cara querem… (…) Eu não sei se querem colocar doses que não existe.”
A PF destaca que Cláudia Helena e João Carlos Brecha foram responsáveis, mais tarde, pela inclusão de registros de vacinação de diversas pessoas, incluindo:
o prefeito da cidade, Wilson Miguel dos Reis,
o ex-prefeito Washington Reis de Oliveira (sobrinho de Wilson Miguel),
outro irmão de Gutemberg, o deputado estadual Rosenverg Reis de Oliveira, e
filhos e parentes dos envolvidos.
Os investigadores não fazem nenhuma análise quanto à veracidade ou não destes registros.
A maior parte das conversas envolve servidores da prefeitura da cidade fluminense de Duque de Caxias, onde foram falsamente registradas vacinas, segundo a PF, do então presidente Jair Bolsonaro, de sua filha de 12 anos, de assessores de Bolsonaro e do deputado federal Gutemberg Reis (MDB-RJ).
Bolsonaro, Cid e mais 15 investigados foram indiciados pela PF nesta segunda (18) por uma série de crimes relacionados a esse esquema.
Com o indiciamento, o caso passa às mãos da Procuradoria-Geral da República (PGR), que vai avaliar se há elementos suficientes para denunciar os investigados à Justiça.
Nesta terça (19), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes retirou o sigilo do relatório da PF sobre esse caso. As mensagens constam nesse documento.
Bolsonaro deu a ordem para emitir certificados de vacinação para ele e filha, disse Cid em delação
Bolsonaro, Cid e mais 15 são indiciados pela PF por fraude em cartões de vacina; veja lista
Fraude em cartões de vacina: veja o que dizem as defesas de Bolsonaro e demais indiciados
Entre as mensagens, a polícia registrou:
memes sobre perfis falsos para inclusão de certificados,
o pedido da filha de um dos envolvidos para que o pai não incluísse um registro falso para ela, pois tomaria a vacina, e
registro da pressão para que um operador do sistema de inclusão dos dados cedesse seu acesso.
Veja abaixo:
‘Não falsifica pfv’
Uma das conversas mencionadas pela Polícia Federal foi extraída do celular do então secretário municipal de Governo de Duque de Caxias, João Carlos de Sousa Brecha.
Brecha foi indiciado pela PF pela inserção de dados falsos de vacinação para o ex-ajudante de ordens da Presidência, Mauro Cid, sua esposa e filhas, Bolsonaro e sua filha e para assessores do ex-presidente. A PF também o incluiu no indiciamento por associação criminosa.
Nas conversas registradas pela PF, uma filha de Brecha comunica em junho de 2022, em um grupo da família, ter tomado a primeira dose da vacina e diz que “nem doeu”.
Mais tarde, em outubro do mesmo ano, ela diz ao pai em conversa privada que tomaria a segunda da dose da vacina e faz um pedido: “Não falsifica pfv”. Em resposta, Brecha concorda com o pedido e completa: “vc é mto corajosa.”
Para a PF, a troca de mensagens “evidencia bem o esquema criminoso de inserção de dados falsos de vacinação contra a covid-19 no sistema do Ministério da Saúde, instalado na Prefeitura de Duque de Caxias.”
‘Não tenho vacina né bonita’
Ao apresentar as evidências de que os registros de vacinação incluídos eram falsos, a PF destaca mensagens trocadas entre duas filhas de Mauro Cid em janeiro de 2022.
Questionada pela irmã se ela havia viajado ao Canadá com a avó, uma das filhas diz que não. Perguntada sobre o motivo, ela responde: “não tenho vacina né bonita” e diz que “no Canadá é outro esquema.”
Em outras mensagens, trocadas em abril do mesmo ano, uma das irmãs diz à outra não acreditar que o pai, Mauro Cid, viaje aos Estados Unidos porque “ele não tem vacina”.
A PF destaca que, segundo os registros feitos no Ministério da Saúde, Cid e as filhas teriam recebido três doses de vacina no Centro Municipal de Saúde de Duque de Caxias, entre junho e novembro de 2021, antes, portanto, das mensagens em que as filhas comentam a ausência de vacinação.
‘Dr. Hacker Sincero’
Outra conversa citada pelos investigadores foi registrada entre Claudia Helena Acosta, servidora da prefeitura de Duque de Caxias, e uma outra funcionária municipal.
Claudia Helena é uma das indiciadas por associação criminosa e inserção de dados falsos. Segundo a PF, ela ajudou a incluir registros falsos de vacinação do deputado federal Gutemberg Reis, de Bolsonaro e assessores. O inquérito traz, por exemplo, mensagens em que ela aparece orientando João Carlos Brecha sobre como incluir e excluir dados do sistema, especificamente os registros de Bolsonaro.
Para a PF, as mensagens trocadas por Cláudia e a outra servidora, em julho de 2021, “reforçam os indícios de um grande esquema de inserção de dados falsos de vacinação envolvendo políticos do município.”
Na conversa, a outra servidora, identificada apenas como Lilian, envia um meme com o que a PF registrou como “supostamente uma tela de computador” do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI) com o nome do perfil registrado como “Dr. Hacker Sincero”. Cláudia responde: “: “É Caxias ??? Aqui que só tem doutores da lei. Kkkkkkkk”.
Em resposta, Lilian diz ““Aqui é Dr Serrano mesmo”.
Para a PF, esta provavelmente seria uma “alusão às inserções de dados de vacinação no SI-PNI a mando da Subsecretária de Saúde do Município Célia Serrano da Silva”, outra das indiciadas pela PF no inquérito.
‘Eu não sei se querem colocar dose que não existe’
As mesmas servidoras também aparecem no relatório conversando sobre um episódio de pressão a um servidor para que liberasse sua senha de acesso aos sistemas do Ministério da Saúde para os investigados.
Em dezembro de 2021, Cláudia envia uma mensagem de áudio a Lilian dizendo que Célia Serrano teria ligado para alguém chamado Theo – posteriormente identificado pela PF como um servidor da prefeitura.
Segundo a transcrição do áudio feita pelos investigadores, Cláudia diz que “o Brecha acho que queria acesso ao SCPA, ao SI-PNI” – o sistema do Ministério da Saúde para inclusão dos dados. “Theo não conseguiu falar co cê, porque não tem como liberar o acesso, né, porque o arquivo está na central”, continua.
“A Dra Célia Serrano fez o Theo dar a senha dele pro Brecha, e o Theo tem todos os acessos, a todas as unidades, com aquela senha.”, diz a servidora. Claudia segue dizendo que o servidor ligou desesperado pedindo que ela falasse com Célia Serrano, e completa: “Eu não sei o que os cara querem… (…) Eu não sei se querem colocar doses que não existe.”
A PF destaca que Cláudia Helena e João Carlos Brecha foram responsáveis, mais tarde, pela inclusão de registros de vacinação de diversas pessoas, incluindo:
o prefeito da cidade, Wilson Miguel dos Reis,
o ex-prefeito Washington Reis de Oliveira (sobrinho de Wilson Miguel),
outro irmão de Gutemberg, o deputado estadual Rosenverg Reis de Oliveira, e
filhos e parentes dos envolvidos.
Os investigadores não fazem nenhuma análise quanto à veracidade ou não destes registros.