Especialista afirmam que o desperdício representa uma quantidade de água que seria mais do que suficiente para atender os 32 milhões de brasileiros que não têm acesso à água potável. No Brasil, 37% da água tratada se perdem antes de chegar às torneiras, diz Instituto Trata Brasil
Jornal Nacional/Reprodução
Esta sexta-feira (22) é um dia em que especialmente os brasileiros são lembrados dos perigos de um desperdício.
A imensidão de tubulações embaixo da terra esconde um problema difícil mesmo de enxergar. No Brasil, 37% da água tratada se perdem antes de chegar às torneiras. Segundo o Instituto Trata Brasil, em um quinto dos 100 municípios mais populosos do país, o desperdício na distribuição passa dos 50%.
Os dez municípios com indicadores mais altos estão no: Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso, Pernambuco, Acre, Amapá e Rondônia. Em Porto Velho, a perda chega a 77%.
“O dia a dia fica muito complicado porque tem muitos idosos, crianças que precisam da água”, diz um homem.
A água escapa por vazamentos e fraudes. E, junto com ela, todo o investimento que foi feito.
“O cidadão está pagando por uma ineficiência nesse sistema de distribuição e o meio ambiente está pagando também, porque a gente está impactando muito mais o meio ambiente com essa água captada que é perdida ao longo do sistema de distribuição”, afirma Luana Pretto, presidente-executiva do Instituto Trata Brasil.
Tem o impacto econômico e tem um mais visível: o social. Quem estuda recursos hídricos diz que todo esse desperdício representa uma quantidade que seria mais do que suficiente para atender os 32 milhões de brasileiros que não têm acesso à água potável — o que melhoraria a qualidade de vida e o desenvolvimento dessas pessoas.
Ligações clandestinas são realidade em bairros mais distantes da capital paulista. A dona de casa Carolaine Santos diz que preferia pagar, se tivesse o direito à água tratada.
“É mais fácil você pagar uma taxa pequena, mas você sabe de quem você pode correr atrás”, diz.
Uma portaria de 2021, do governo federal, estabelece que, em 2034, as perdas de água não devem ultrapassar os 25%.
As projeções da Agência Nacional de Águas indicam que, em 16 anos, a disponibilidade desse bem tão precioso nas principais bacias pode cair até 40%.
“É importante, desde já, começarem a melhorar essas eficiências para que, se houver deficiências de água em períodos secos por questões climáticas, não tenha que fazer racionamento em períodos como aconteceu em algumas regiões metropolitanas do Brasil”, afirma Carlos Tucci, consultor em hidrologia.
Segundo a Empresa de Saneamento de São Paulo, o bairro mostrado na reportagem é uma ocupação irregular e, por isso, não tem rede de água e esgoto. A Companhia de Águas e Esgoto de Rondônia afirma que intensificou os projetos para evitar perdas de água tratada. O Ministério das Cidades não informou quais são os planos para cumprir a meta de redução das perdas em todo o país.
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