Além das baleias: conheça a rota dos golfinhos e as espécies monitoradas por pesquisa no ES


g1 participou de umas das expedições em uma embarcação de pesquisa e flagrou espécies a poucos quilômetros da costa capixaba e também golfinhos oceânicos, localizados a mais de 40 km mar adentro. Conheça a rota dos golfinhos e as espécies monitoradas por pesquisa no ES
Que as baleias-jubarte passam temporada no mar capixaba todo mundo deve saber. Agora, o que poucos sabem é que o litoral do Espírito Santo também abriga diversas espécies de golfinhos, inclusive uma ameaçada de extinção. Pesquisadores intensificaram o monitoramento para conhecer melhor e evitar o desaparecimento desses animais. Até uma rota de observação foi criada.
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O g1 embarcou em uma expedição com ambientalistas, conheceu a Rota dos Botos, flagrou mais de 30 animais de uma só vez e ficou a poucos metros de distância de golfinhos que pareciam querer brincar com o barco e os humanos curiosos que estavam em alto-mar.

Nesta reportagem você vai conferir:
Golfinhos nariz-de-garrafa são vistos no Espírito Santo
Luan Amaral/Projeto Golfinhos do Brasil
🌊Toca dos Botos
🛥️ g1 participa de expedição
🐬Espécies encontradas
⚠️ Ameaça de extinção
🎧 Pesquisas com monitoramento aéreo e sonoro
🐳 Desafios para catalogar espécies
🐕 ‘Cachorros-do-mar’
💰 Turismo e a economia
Botos cinza são encontrados na costa do Espírito Santo e os golfinhos nariz-de-garrafa, a 40 km mar a dentro
Arte/TV Gazeta
Toca dos Botos
A equipe de reportagem esteve na Toca dos Botos, onde botos-cinza fazem morada numa extensão de aproximadamente cinco quilômetros.
O reduto fica entre o bairro Jardim Camburi, em Vitória, e Praia Mole, na Serra, a apenas cerca de 5 km da costa capixaba.
“Curiosamente, na região estão instaladas duas grandes indústrias. O que demonstra que o grupo de golfinhos é bem resiliente. A pesquisa demonstra que é possível a coexistência de atividades humanas importantes para o desenvolvimento econômico da região com o ativo natural presente”, disse o ambientalista Thiago Ferrari.
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Os primeiros levantamentos apontam que mais de 200 animais da mesma espécie ficam na região. Eles se deslocam entre a região de Manguinhos, no município de Serra, e a Barra do Jucu , em Vila Velha.
Essas espécies podem ser vistas diretamente da praia pelos banhistas. A presença desses bichos encantam famílias inteiras.

Além das baleias: conheça a rota dos golfinhos e as espécies monitoradas por pesquisa no ES
g1 participa de expedição de pesquisa
Os golfinhos são monitorados por ambientalistas da ONG Instituto O Canal e por pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
A intenção da pesquisa é entender os hábitos de vida dos botos, incentivar o turismo náutico e desenvolver a educação ambiental para conservar as espécies em território capixaba.
O g1 participou de umas das expedições em uma embarcação de pesquisa e saiu bem cedo para encontrar os animais. O dia de estudo (e passeio) começou quando o Sol ainda nem tinha surgido no horizonte.
Por volta de 6h, a equipe composta de ambientalistas e biólogos já estava tentando localizar os primeiros golfinhos em mares capixabas. Em menos de uma hora de navegação, e com muitas expectativas, os primeiros golfinhos são vistos a poucos quilômetros da costa capixaba.
Depois, chegou a hora de viajar mais de 2 horas mar adentro. Esse novo local é reduto dos golfinhos oceânicos, avistados a mais de 40 quilômetros da costa. A rota começou por Vitória, passou por Serra e foi concluída na altura do município de Vila Velha.
Os golfinhos, ou botos, são mamíferos e, como as tartarugas, precisam subir para respirar fora da água. Por esta razão, são facilmente vistos pela superfície do mar.
Golfinho nariz-de-garrafa com filhote no mar do Espírito Santo
Antônio Andrade/Instituto Canal
O Instituto O Canal, responsável pelas pesquisas dos golfinhos, é o mesmo criador do Projeto Amigos da Jubarte, que existe desde 2014, que está relacionado à pesquisa das baleias.
Segundo o presidente do instituto, o ambientalista Thiago Ferrari, foi durante as expedições para observar as baleias que os pesquisadores perceberam a existência de golfinhos. E, ao contrário dos gigantes do mar, os golfinhos são vistos em todos os períodos do ano e, por esta razão, começaram a ser monitorados.
Espécies encontradas
No Espírito Santo já foram catalogados pelo menos 15 espécies de odontocetos, com destaque para o boto-cinza (Sotalia guianensis) e o golfinho-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus).
Além deles, o Golfinho-de-dentes-rugosos (steno bredanensis), Golfinho-pintado-do-Atlântico (Stenella frontalis) e a toninha ser catalogados no mar capixaba.
Estudos estão em andamento, mas especialistas acreditam que a soma de grupos dos golfinhos oceânicos e costeiros pode passar de milhares de indivíduos.
A maior parte das espécies é encontrada em mares profundos, onde as baleias também podem ser vistas. Por lá, a profundidade passa de 150 metros.
Golfinhos interagem com baleia em alto mar no ES
Inclusive, em um vídeo do Instituto Amigos da Jubarte, uma baleia interage com golfinhos no meio do oceano Atlântico, no Espírito Santo. (Veja acima)
Ferrari explicou que os golfinhos não têm hábitos migratórios e são geralmente vistos pela manhã, onde há melhores condições de mar, vento e fartura de alimentos. 
Em 2017, foi criado o Projeto Golfinhos do Brasil, que atualmente conta com o apoio de empresas privadas do estado, como Vale, Banestes, Cesan e Ufes.
“Nosso objetivo é aproximar a sociedade ao verdadeiro tesouro natural presente em todo litoral brasileiro, gerando conscientização coletiva e fortalecendo a mensagem de conservação desses animais tão importantes para todo o ecossistema marinho”, explicou o ambientalista.
Golfinhos nadam em grupo no Espírito Santo
Antônio Andrade/Instituto Canal
Mamífero marinho mais ameaçado de extinção do Atlântico Sul
O ambientalista explicou que algumas espécies correm riscos de vida por causa da poluição acústica, química ou residual. Além disso, esses animais podem se enrolar acidentalmente em redes de pesca ou bater em embarcações.
Os golfinhos que vivem em alto-mar podem sofrer com impacto da procura por petróleo em águas profundas ou pela instalação de usinas eólicas.
O professor de oceanografia da Ufes e membro do projeto, Agnaldo Martins, disse que uma das espécies encontradas no Espírito Santo e que está em risco de extinção é a Toninha.
Espécie de golfinho Toninha está ameaçado de extinção, Espírito Santo
Federico Sucunza/GEMARS
Um pequeno golfinho de no máximo de 1,8 metro, de bico fino e nadadeiras largas, parente próximo do boto-cor-de-rosa. Pode ser encontrado na foz do Rio Piraqueaçu, em Aracruz, na Região Norte do Espírito Santo.
“Para ser considerada ameaçada de extinção, a quantidade de animais em condições de se reproduzir deve ter diminuído em 90% ou mais em relação a uma situação inicial onde os animais não eram ameaçados ou impactados. O segundo critério é a existência de ameaças, isto é, fatores que podem levar a uma diminuição ainda maior da população restante. E a Toninha se encaixa nesses dois critérios”, explicou Martins.
Segundo o professor, a Toninha se alimenta de pequenos peixes e lulas, e tem um filhote por vez a cada dois anos. Vivem em grupos pequenos, geralmente de dois a quatro indivíduos. É considerado o mamífero marinho mais ameaçado de extinção do Atlântico Sul.
Martins disse que a espécie vive bem próximo à costa, até uns 10 km, e próximo à foz de rios, o que a torna muito vulnerável a pesca artesanal, principal aquela realizada com rede de espera ou emalhe, onde ficam presas e morrem afogadas.
Segundo o presidente Thiago Ferrari, a intenção do projeto Golfinhos do Brasil é alertar para a necessidade de cuidados com a espécies presentes para evitar o que está acontecendo com a Toninha.

Em dois meses, 15 golfinhos foram encontrados encalhados no litoral do Espírito Santo. Desse total, 14 estavam mortos e apenas um deles com vida. Os números são do Instituto Orca, responsável pelo monitoramento de encalhe de animais marinhos no estado, e são referentes aos meses de fevereiro e março de 2024.
Pesquisas com monitoramento aéreo e sonoro
A equipe é formada por oceanógrafos e biólogos marinhos fazem expedições marítimas periódicas no litoral do Espírito Santo, percorrendo áreas costeira e oceânica entre os municípios da Serra e Anchieta, e no Rio de Janeiro, nos municípios de Niterói e Maricá.
Durante os embarques, utilizam três métodos científicos para coleta dos dados em campo: o dronemonitoramento, monitoramento acústico passivo (MAP) e a observação de bordo.
“Atravé dos drones, conseguimos imagens em 4k dos indivíduos monitorados, que são analisadas em laboratório por especialista. Através do MAP, conseguimos captar a vocalização, que são os assobios dos golfinhos com o uso de hidrofones imersos até 20 metros de profundidade. Os áudios com as ‘conversas’ dos animais são analisados por nossa especialista em bioacústica, que consegue identificar as espécies sem vê-los, além de analisar ruídos que podem estar interferindo na comunicação ou hábitos de vida dos cetáceos”, explicou Thiago.
Pesquisadores capturam os sons feitos pelos golfinhos na costa capixaba; ouça
Segundo o projeto, com os métodos integrados é possível fornecer informações sobre diversidade de espécies, abundância, distribuição, densidade além de dados quanto a saúde dos golfinhos.
Boto-cinza é um golfinho bem costeiro e mais tímido e são vistos no Espírito Santo
Projeto Golfinhos do Brasil
‘Cachorros-do-mar’
A cetóloga e bióloga marinha do projeto, Amanda Giácomo, disse que os golfinhos no geral ocupam todos os oceanos e muitos rios pelo mundo.
“Os golfinhos são muito inteligentes e sociáveis. Raramente são vistos sozinhos. É comum encontrarmos em grupos que podem ter de três a centenas de indivíduos. Utilizam a ecolocalização para se orientar e caçar, já que a visibilidade no mar é bem menor do que em terra”, explicou Amanda.
No Espírito Santo já foram catalogados pelo menos 15 espécies, com destaque para o boto-cinza e o golfinho-nariz-de-garrafa, que são mais encontrados.
“O boto-cinza por ser um golfinho bem costeiro, é possível ser visto da praia ou por pessoas que utilizam o mar para prática de esportes. Porém, é bem tímido, que raramente se aproxima muito das embarcações”, explicou a bióloga marinha.

Já o golfinho nariz-de-garrafa, ou outros golfinhos oceânicos, aparecem após 40 km em mar aberto, até o limite da plataforma continental, em águas mais profundas.
No dia da reportagem, um grupo de golfinhos nariz-de-garrafa foi visto em uma região conhecida como Buraco dos Garrafas, na altura de Vila Velha, na Grande Vitória. Os animais saltavam sem parar e pareciam se exibir para as câmeras a poucos metros de distância.
Segundo Ferrari, essas duas espécies mais encontrados nos mares capixabas, além de ficarem em regiões opostas, também são conhecidos pelos ambientalistas como “cão e gato”.
Os golfinhos nariz-de-garrafa são carinhosamente apelidados de “cachorros-do-mar”.
“A gente compara com os animais mais domésticos, para as pessoas entenderem o comportamento de uma forma mais fácil. O boto-cinza seria o gato, aquele animal que é mais na dele, que se aproxima na hora que quer. Já o golfinho-nariz-de-garrafa parece mais com o comportamento do cachorro. Eles parecem querer chamar a atenção, se aproximam do barco, fazem acrobacias. Igual quando o cão pede para jogar a bolinha. Parece que essa espécie quer brincar com os humanos que estão na embarcação”, explicou o ambientalista.
Pesquisadores encontram dificuldades para catalpgar golfinhos no Espírito Santo
Projeto Golfinhos do Brasil
Desafios para catalogar espécies
A partir do monitoramento, os pesquisadores descobriram que os golfinhos não estão espalhados por aí. Eles se concentram em determinados locais, seja por ter mais alimento, ser mais protegido, para descansarem, cuidar dos filhotes ou evitar predadores.
“O desafio é descobrir quais são esses locais e mapeá-los para tentar transformar em áreas protegidas, garantindo ao mesmo tempo a sobrevivência dos golfinhos como também da fonte de alimento deles. Algo similar já ocorreu no Brasil com a proteção da Baía dos Golfinhos, em Fernando de Noronha. Lá é um local de descanso de mais de 700 golfinhos rotadores e, por isso, ninguém pode chegar perto”, lembrou o professor Martins.
Para contar os animais, é preciso identificar e dar um nome a cada um.
“Isso não é fácil porque a nossa visão deles é de fora da água, onde apenas uma parte do corpo fica exposta, e por breves períodos. Então, um dos nossos desafios é conseguir identificar marcas únicas nessas poucas partes do corpo que podemos ver e ir catalogando a cada golfinho com o tempo. Uma outra maneira de obtermos uma ‘assinatura’ de cada indivíduo seria pelo som, deixando hidrofones gravando o tempo todo para conseguirmos individualizar a ‘fala’ de cada um”, explicou o professor.

Martins ressaltou que para o processo ser bem-sucedido, é preciso de tempo e esforço de identificação grande.
“Para fazer isso rápido é necessário estar no mar o tempo todo registrando e fotografando os golfinhos, o que representa altos custos de uso de barcos e pessoal especializado”, explicou o pesquisador.
Observação de golfinho movimenta turismo e a economia
Antônio Andrade/Instituto o Canal
Observação de golfinho movimenta turismo e a economia
Após dois anos consolidando a “Rota dos Botos”, os cruzeiros ecoturísticos estão começando a acontecer. O projeto informou que começou a capacitar agências de turismo para fazer a rota.
O cruzeiro deve ser feito ordenadamente, nas regras previstas na legislação de proteção aos cetáceos vigente no Brasil e em consonância às normativas de segurança no mar exigidas pela Capitania dos Portos/Marinha do Brasil.
Algumas regras devem ser seguidas, anote algumas delas:
🎣 proibido a captura intencional de cetáceos;
🐬não tocar em qualquer espécie;
🍞não fornecer nenhum tipo de alimento, sólido ou líquido;
⛴️ proibido perseguir, interromper, tentar alterar o curso de deslocamento de cetáceos ou de sirênios, ou circundar/circular dentro de grupos de cetáceos, ou de sirênios;
🏊🏼 não praticar natação a menos de 50 metros dos golfinhos.
Em todos os passeios, pesquisadores do Projeto Golfinhos do Brasil acompanham os grupos de turistas para garantir que os valores da educação ambiental sejam repassados aos presentes por meio de informações que ressaltam a importância ecológica desses animais e ecossistemas, além de garantir a realização de pesquisa científica atrelada ao ecoturismo de observação de fauna marinha.
O doutor em Oceanografia, Agnaldo Martins, disse que tem orgulho de ter essas espécies tão perto.
“Mas é uma grande responsabilidade. Se não conhecermos mais sobre elas e não aprendermos como respeitá-las, podemos levá-las à extinção sem perceber. Como costumamos dizer, só protegemos aquilo que conhecemos”, finalizou.
Observação de golfinho movimenta turismo e a economia no Espírito Santo
Reprodução TV Gazeta
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