Queda de meteorito há 300 milhões de anos formou uma das maiores crateras do país: conheça a Serra da Cangalha


A cratera fica em Campos Lindos, no Tocanitns, próximo a rodovia TO-226. Segundo estudos o meteorito que caiu na região tinha aproximadamente 20 mil toneladas e nem chegou a tocar no chão. O g1 conversou com um geólogo que explicou mais sobre a formação da Serra da Cangalha. Veja imagens da Serra da Cangalha
Com 13,7 quilômetros de diâmetro e 450 metros de altitude, a cratera que forma a Serra da Cangalha é uma das maiores do país. Formada pelo impacto da queda de um meteorito há 300 milhões de anos, o local fica em Campos Lindos, região norte do Tocantins, e é considerada um monumento geológico.
Em entrevista ao g1, o professor de geologia geral e geomorfologia da Universidade Federal do Tocantins, Fernando de Morais, explicou que o meteorito que provocou a cratera em Campos Lindos não tocou no chão e as mudanças no solo foram causadas por uma liberação de energia.
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Serra da Cangalha
Reprodução/ Googe
“No caso da Serra da Cangalha, o meteorito não chegou a tocar no chão. Na realidade tem toda uma força que a gente chama de bólido, né? A gente chama meteorito exatamente porque ele é uma rocha que atravessou a atmosfera. E aí ele se desfez antes mesmo de tocar no solo, mas liberou uma quantidade enorme de energia que deformou as rochas que compõem a bacia sedimentar do Parnaíba”.
Seixo que sofreu fraturamento com a energia dissipada na queda do meteorito e moeda que é utilizada para dar ideia de tamanho
Divulgação/Fernando de Morais
As maiores crateras do Brasil
A Serra da Cangalha é a quarta maior cratera do país. A primeira é o Domo de Araguainha, que fica entre Goiás e Mato Grosso e tem 40 quilômetros de diâmetro. Seguida pela cratera oceânica Praia Grande, na Bacia de Campos em São Paulo e a formação de São Miguel do Tapuio, no Piauí.
Veja as oito maiores crateras formadas por queda de meteorito no Brasil:
Domo de Araguainha, entre Goiás e Mato Grosso – 40 km
Cratera oceânica Praia Grande, na Bacia de Campos em São Paulo – 20 km
São Miguel do Tapuio, no Piauí – 17,5 km de diâmetro
Serra da Cangalha no Tocantins – 13,7 km
Domo de Vargeão – em Santa Catariana – 11 km
Vista Alegre, no Paraná – 9,5 km
Cerro do Jarau, no Rio Grande do Sul, com 5,5 km
Anel do Riachão, no Maranhão – 4,5 km de diâmetro
Serra da Cangalha tem uma das maiores crateras do Brasil
Divulgação/Benilson Pereira de Sousa
300 milhões de anos atrás…
Os estudos que identificaram a formação da cratera foram realizados nos anos 1970, durante o mapeamento nacional chamado Radam Brasil. Inicialmente a estrutura foi classificada como um domo. Depois de um tempo, pesquisadores ligados a investigação geológica sobre impactos de bólidos e corpos extraterrestres, encontraram amostras de rochas deformadas e concluíram que a formação se tratava de uma cratera de impacto.
Com as amostras é possível descobrir até mesmo a direção do impacto, segundo o professor. Já para saber o período em que a cratera foi formada, os pesquisadores fazem a datação relativa por meio da análise de rochas que compõem a área atingida.
Meteorito que formou cratera no Tocantins caiu há 300 anos, segundo pesquisadores
Divulgação/Benilson Pereira de Sousa
“Se essas rochas foram deformadas então quer dizer que elas já tinham que existir para que fossem deformadas, para que o impacto gerasse ali uma deformação nessas rochas”, explicou Fernando.
Segundo o professor, estudos realizados entre 2010 e 2011 mostram que o meteorito da Serra Cangalha teria aproximadamente 20 mil toneladas.
‘Ondas’ na Serra
Anéis formados pela dissipação de energia na queda de meteorito
Reprodução/Google Maps
A queda do meteorito provocou espécies de ‘ondas’ no local. Essas elevações são anéis formados pela energia dissipada após o impacto do bólido. Em imagens de satélite (veja na foto acima) é possível ver a formação do primeiro anel (círculo amarelo) e segundo anel (círculo vermelho).
“Por exemplo, quando você joga uma pedra em um rio vai ver que aonde cai a pedra vai abrindo as ondas formadas por essa pedra. Ela vai abrir em forma de anéis concêntricos. Dá para fazer esse experimento em um copo d’água. Deixa uma gota pingar na água e você vai ver que irá abrir esses anéis. Do mesmo jeito é com o impacto do meteorito”, explicou o professor.
Cangalha
Forma de cangalha (sela usada em cavalos), que dá nome à serra onde está a cratera
Iphan/Divulgação
O nome Cangalha teria saído de uma comparação do relevo da Serra à uma sela de cavalo. De acordo com o Fernando, pesquisadores ainda não determinaram essa definição, mas o nome é usado popularmente.
“Existem outros lugares no país também que tem esse nome porque geralmente é onde tem esse tipo de relevo, essa geometria. Aí as pessoas tendem a associar a uma Cangalha. Então quando ela é vista de lado, ela tem esse ponto que dá tipo uma sela de cavalo, por isso que dão o nome de Cangalha, Serra da Cangalha”.
Monumento geológico
Cratera fica próxima à rodovia TO-226
Divulgação/Benilson Pereira de Sousa
Em 2012, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) chegou a estudar a região para transformar a Serra da Cangalha em patrimônio nacional ou paisagem cultural. Segundo o órgão, a cratera não foi reconhecida, pois não foi dado “andamento no estudo necessário sobre a paisagem”.
Segundo o professor, a cratera é um monumento geológico que tem potencial para receber o geoturismo, ao mesmo tempo em que é preservada.
“Há necessidade de avanço nessa questão da unidade de conservação e principalmente de trabalhos de sensibilização, porque às vezes a própria população não tem ideia do valor que esse monumento geológico tem para a região. Ali na realidade é um monumento geológico. Pode gerar recurso para a própria população, em termos de geoturismo, de ecoturismo, se tiver essas atividades exploradas de maneira ordenada, né?”.
Cretara na Serra da Cangalha, em Campos Lindos
Divulgação/Benilson Pereira de Sousa
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