
Mineradora detectou anomalia em dreno da Forquilha III, mas afirmou que não houve alteração nas condições da estrutura. 9 – Barragem Forquilha III
Infográfico: Juliane Monteiro e Karina Almeida/G1
O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) recomendou à Vale que mantenha a população informada, “de forma verídica, tempestiva e completa e em linguagem acessível”, sobre os riscos e condições de segurança da barragem Forquilha III, em Ouro Preto, na Região Central de Minas Gerais.
No dia 15 de março, a mineradora detectou uma anomalia em um dreno da estrutura, que está em nível 3 de emergência, o mais alto, desde 2019. De acordo com o MPMG, a anomalia foi classificada pela própria Vale com a pontuação 10, “a mais grave possível”.
O Ministério Público ainda notificou a empresa pelo descumprimento de um termo de compromisso firmado entre as partes em setembro de 2019, no qual a Vale assumiu a obrigação de comunicar imediatamente aos órgãos competentes “qualquer elevação de risco das estruturas”.
A legislação determina que as próprias mineradoras realizem inspeções de segurança nas barragens.
“Ao contrário do que foi taxativamente informado pela Vale, a Agência Nacional de Mineração – ANM noticiou ao Ministério Público que a anomalia não foi prontamente comunicada ao órgão, pois isso ocorreu expressamente apenas em vistoria realizada no dia 19 de março, com registro no SIGBM [Sistema de Gestão de Segurança de Barragem de Mineração] no dia 18”, diz um trecho da recomendação do MPMG.
Segundo o Ministério Público, a Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam) só foi informada sobre a anomalia em 20 de março, e os órgãos de Defesa Civil estadual e municipais, de Ouro Preto e Itabirito, no dia 21, por outras fontes.
O g1 questionou a Vale sobre a classificação da anomalia e a notificação do MPMG e aguarda retorno.
Vale detecta anomalia em dreno de barragem de Ouro Preto; entenda
Anomalia
A anomalia detectada na Forquilha III consiste no acúmulo de material sedimentado, de coloração acinzentada, na saída do dispositivo de drenagem, localizado no primeiro alteamento da barragem. Segundo a mineradora, não houve alteração nas condições da estrutura.
Em nota técnica elaborada pela consultoria Aecom, consta que esse dreno apresenta histórico de saída de material ao longo dos anos, mas a ocorrência atual “é inédita no sentido de que o material observado é distinto do verificado nas ocasiões anteriores, tratando-se, claramente, de material que contém minério de ferro em fração muito fina”.
De acordo com a engenheira geotécnica Rafaela Baldi, os sistemas de drenagem têm a função de retirar água da barragem e transportar para fora dele. Quando a água sai “clara” significa que está tudo certo. Quando tem cor, é necessário investigar.
“Pode ser material do reservatório passando, e isso significa que o dreno não foi bem feito. No longo prazo, pode entupir o dreno e e deixar a barragem bem pressurizada. Pode ser material do aterro, e isso significa que o aterro está sendo lavado pelo fluxo excessivo de água. No curto/ médio prazo, desestabiliza o maciço e pode criar erosões localizadas”, explicou.
Segundo a Feam, uma filmagem interna no dreno constatou “alguns furos” na tubulação, que podem estar contribuindo para a anomalia.
“Estudos mais detalhados estão em curso para confirmar essa hipótese. Caso seja confirmada, a Feam cobrará para que a Vale tome as devidas providências para correção”, afirmou a Fundação.
A consultoria Aecom recomendou à Vale a paralisação de todas as atividades realizadas na barragem até a conclusão do diagnóstico da situação atual.
Vale detecta anomalia em dreno de barragem de Ouro Preto; entenda
Fiscalização
A ANM já realizou duas inspeções na mina de Fábrica, onde fica a barragem, desde a detecção da anomalia, nos dias 19 e 22 de março.
Na última, foi verificado que ainda havia um volume pequeno de sedimento saindo pelo dreno, mas a porção líquida apresentava “turbidez insignificante”, o que, de acordo com a ANM, “afasta a hipótese de agravamento imediato da situação da barragem”.
A Agência informou que acompanha a execução do plano de ação elaborado pela Vale para o tratamento da anomalia, por meio de reportes técnicos diários encaminhados pela mineradora, e que na próxima semana realizará diligência para verificar os resultados dos trabalhos.
Condições inalteradas
A Vale destacou que a anomalia foi encontrada em um de um total de 131 dispositivos de drenagem e que os instrumentos de monitoramento da barragem “não acusaram alteração nas suas condições”. A estrutura é monitorada 24 horas por dia.
A empresa disse que desenvolveu um plano de ação para a correção da ocorrência e que a Zona de Autossalvamento – área em que não há tempo suficiente para intervenção das autoridades em situações de emergência – está evacuada desde 2019.
Ainda segundo a mineradora, em 2021, foi concluída a construção de uma estrutura de contenção capaz de reter os rejeitos, em caso de rompimento.
Forquilha III
A barragem Forquilha III é uma das três em nível 3 de emergência em Minas Gerais – a Sul Superior, em Barão de Cocais, também da Vale, e a da mina de Serra Azul, da ArcelorMittal, em Itatiaiuçu, estão na mesma situação.
A estrutura tem 77 metros de altura e armazena 19,4 milhões de metros cúbicos de rejeitos. Ela está em processo de descaracterização, com previsão de conclusão em 2035.
Em nota, a Prefeitura de Ouro Preto informou que várias medidas de segurança foram tomadas e que o caso está sendo acompanhado de perto pela Defesa Civil Municipal, que realizou busca ativa na Zona de Autossalvamento para confirmar a ausência de pessoas e animais na área.
A Prefeitura de Itabirito disse que o muro de contenção construído pela Vale no distrito de São Gonçalo do Bação “tem capacidade de absorver o impacto de eventual rompimento de todas as barragens do complexo, segundo nota técnica da auditoria da Aecom”.
Já o governo de Minas afirmou que realizou fiscalizações na região e solicitou à Vale “correção de inconsistências identificadas no Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM)”.
Vídeos mais vistos no g1 Minas: