
Conhecido como ‘Cebola’, suspeito foi preso em 2012 e solto em 2014 após um habeas corpus; MP apurou que Silvio usava documentos falsos e se apresentava como Rodrigo Augusto de Lima. Silvio Luis Ferreira, o “Cebola”, sócio da UPBus.
GloboNews
A operação do Ministério Público de São Paulo, que prendeu nesta terça-feira (9), dirigentes das empresas de ônibus Transwolff e UPBus, que operam na capital paulista, por suspeita de envolvimento com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), não localizou um dos alvos.
Silvio Luiz Ferreira, conhecido como “Cebola”, “Arrepiado” e “Equador”, sócio da UPBus, é considerado foragido da Justiça há dez anos.
Ele é apontado pela polícia como controlador da empresa de ônibus;
Tem posto de chefia no PCC — fazia parte da “sintonia geral do progresso”, setor reservado somente a integrantes da mais alta confiança da cúpula e responsável por gerenciar todo o tráfico de drogas da facção;
É quem gerencia o tráfico internacional;
Foi preso em 2012 e solto em 2014 após habeas corpus;
Saiba mais abaixo;
Foram presos na ação desta terça: Luiz Carlos Efigênio Pacheco, conhecido como “Pandora”, dono da Transwolff; Robson Flares Lopes Pontes, dirigente da Transwolff; Joelson Santos da Silva, sócio e representante legal de um escritório de contabilidade que, segundo o MP, dava suporte ao esquema da Transwolff; Elio Rodrigues dos Santos, não era dirigente de nenhuma empresa, mas foi preso por porte ilegal de arma. Ao todo, foram cumpridos 52 mandados de busca e apreensão na operação.
Quem era Silvio Luiz Ferreira
O suspeito foragido é apontado pela polícia como controlador da empresa de ônibus UPBus, mesmo não constando mais como sócio da empresa. Ele ocupava a função de “sintonia final do progresso” no setor do “laboratório de drogas”, que é a principal atividade econômica do PCC.
Silvio é procurado há 10 anos (leia mais abaixo), mas a condição de foragido, no entanto, não foi empecilho para que Cebola continuasse com as atividades ilícitas até os dias atuais, em especial junto ao PCC.
Participação na UPBus
Em um trecho da investigação do Ministério Público, os investigadores citam: “Agindo em concurso com os demais investigados, se utilizaram da empresa de transporte público municipal UPBUS QUALIDADE EM TRANSPORTES S.A. para ocultar e dissimular a origem ilícita do produto e do proveito dos crimes de organização criminosa, tráfico de drogas, roubo, dentre outros correlatos”.
Em outra investigação, o MP também apurou que Silvio usava documentos falsos e se apresentava como Rodrigo Augusto de Lima por ser foragido da Justiça.
Junto com outros integrantes do esquema, ele movimentou pelo menos R$ 1 bilhão com o tráfico internacional de drogas.
Prisão, soltura e sumiço
Em junho de 2012, Silvio foi preso justamente no local que se tornou a sede da UPBus quando foi flagrado guardando mais 500 kg de drogas. Interceptações telefônicas forneceram prova de que ele promovia e convocava reuniões com seus comparsas do PCC no imóvel da cooperativa que deu origem à UPBus.
Segundo o Ministério Público, Silvio utilizou o local – uma garagem com espaço para o estacionamento da frota de ônibus, serviço de manutenção dos veículos, e o setor administrativo – para seus fins ilícitos porque, já àquela época, era a pessoa que comandava os negócios relacionados ao transporte público sobre rodas.
Soltura após habeas corpus em plantão
Cebola foi solto em 2014 em razão de decisão proferida em plantão judiciário pelo desembargador Otavio Henrique de Sousa Lima, que foi aposentado compulsoriamente.
Embora a ordem de prisão tenha sido restabelecida, Silvio permanece foragido da Justiça.
Em 2021, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) manteve decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo que aposentou compulsoriamente o desembargador Otavio Henrique de Sousa Lima. Em fevereiro deste ano, ele teve rendimentos de R$ 57 mil.
De acordo com a Justiça, o magistrado beneficiou ilegalmente quatro homens presos em flagrante com mais de 1 tonelada de cocaína. Entre os beneficiados, estava o traficante Welinton Xavier dos Santos, conhecido como Capuava, que era um dos principais traficantes de São Paulo e líder de facção criminosa até ser preso em 2015 com 1,6 tonelada de cocaína e outros aditivos. Na época, Otavio julgou não haver elementos que justificassem sua prisão.
O desembargador foi aposentado em 2016 pelo tribunal de origem por indícios de ter se beneficiado de outras decisões como essa e pode ter as decisões anuladas no Supremo Tribunal Federal (STF).
Entenda o esquema
A operação foi realizada pelo Ministério Público, pela Polícia Militar, pela Receita Federal e pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública que fiscaliza e combate abusos de poder econômico.
O MP protocolou denúncia contra dez dirigentes e integrantes da Transwolff e 18 dirigentes e integrantes da UPBus. Eles são acusados de crimes como organização criminosa e lavagem de dinheiro.
O g1 explica:
Como funcionava o esquema que envolvia o crime organizado
Como a Prefeitura de São Paulo contribuiu indiretamente para isso
Como empresas criadas pelo crime conseguiram atuar no setor público
Como diversos órgãos públicos atuaram para interromper o esquema
Como o esquema prejudicou a população
Como o PCC é afetado com a operação
Mais detalhes da operação
Veja o infográfico abaixo:
Esquema entre empresas de ônibus suspeitas e o PCC em São Paulo
Arte/g1, com informações da Receita Federal
O crime no serviço público e a Prefeitura de SP
Dirigentes de empresas de ônibus em São Paulo são presos suspeitos de lavar dinheiro para o tráfico de drogas
Segundo a investigação da Receita Federal, os criminosos usavam nomes de laranjas para esconder os verdadeiros donos das empresas, e contadores se encarregavam de maquiar as transações financeiras para não levantar suspeitas das autoridades. Com o esquema, as empresas conseguiam as certidões negativas necessárias para participar de licitações na Prefeitura de São Paulo.
“Elas tinham uma capitalização e uma regularidade fiscal indevidas usadas para concorrer de maneira injusta com as outras empresas de ônibus que entraram nessa licitação”, disse Marcia Cecília Meng, superintendente da Receita Federal.
A auditora fiscal aponta que, a partir dessa dinâmica, as empresas conseguiram misturar o dinheiro lícito com o ilícito e retirar o lucro na forma de dividendos aos sócios.
As duas empresas receberam, em 2023, mais de R$ 800 milhões da Prefeitura de São Paulo, segundo informou o Ministério Público.
Na avaliação do MP, o crime organizado tomou grandes proporções no país. A operação teve como objetivo estrangular a ação do PCC dentro da gestão pública e provocar prejuízo financeiro na facção.
“O que nos preocupa é que a organização está tomando tamanho de máfia, se infiltrando no estado, participando de licitações de estado. Isso é característico de máfias, como a gente já viu na Itália. (…) E essa operação está atuando na asfixia financeira desse grupo”, aponta o promotor Lincoln Gakiya.
Empresas funcionam mesmo com relação criminosa?
Investigação mostra ligação de empresas de ônibus da capital com o crime organizado; prefeitura assume Transwolff e UPBus
Márcia Meng diz que, apesar de não ser novo, o modelo de operação do PCC se mostrou sofisticado ao misturar o lícito com o ilícito:
“Essas empresas existem, elas operam, elas não são aquelas empresas típicas que a gente chama de ‘empresas de fachada’ – que não existem e só fornecem nota fiscal. É um esquema muito mais sofisticado, porque tem uma constelação de empresas que orbitam, aparentemente, que trabalham independentes, seja uma prestando serviço para outra ou sem relação com a outra, mas quando você começa a investigar, chega sempre aos mesmos beneficiários”.
Segundo a superintendente da Receita Federal:
Primeiro, a organização criminosa usa o dinheiro sujo para integralizar ou criar empresas que, de fato, operam e prestam serviço público;
Mas elas só conseguem prestar serviço público porque passaram por uma capitalização e também compensaram os seus tributos.
Como a Receita Federal descobriu o esquema?
Maria Meng destaca que a forma com que as empresas lidaram com a questão tributária foi um dos dos pontos que mais chamou a atenção durante as investigações:
“Eles não se conformaram em pagar [tributos], eles quiseram levar vantagem nisso também. Talvez não tivesse chamado a nossa atenção se eles não tivessem sonegado tributos. Não há esquema criminoso que não tenha uma sonegação no meio, é a prática que a gente percebe”.
Ela afirma que os envolvidos declararam R$ 148 milhões de patrimônio, mas que o número pode ser muito maior. “Já identificamos que há muito patrimônio que está declarado. Por exemplo, por R$ 800 mil, mas está avaliado em R$ 10 milhões. A ocultação de patrimônio não se dá apenas através de terceiros, mas também quando a própria pessoa declara um imóvel, um veículo com valor bastante subestimado. Isso falseia a análise dos órgãos públicos.”
Segundo a auditora, entre 2020 e 2022, os envolvidos promoveram a movimentação financeira de R$ 732 milhões.
Como o esquema afeta a população?
Transwolff e UpBus, as empresas que foram alvo das investigações do Ministério Público e da Receita Federal, estão envolvidas em vários problemas e polêmicas na cidade.
Há duas semanas, por exemplo, passageiros se revoltaram no Terminal Varginha, na Zona Sul, em virtude dos serviços ruins prestados pela Transwolff na região. Depois de esperar por transporte por mais de duas horas, passageiros iniciaram um quebra-quebra na noite de 20 de março.
Já no caso da UPBus Qualidade em Transportes S/A, que opera na Zona Leste de São Paulo, a empresa é alvo de investigações por ligação com o crime organizado desde 2022.
À época, a UPBus teve mais de R$ 45 milhões em bens bloqueados pela Justiça, em razão das investigações da Polícia Civil paulista.
Clique aqui e veja mais polêmicas relacionadas às duas empresas.
Para a superintendente da Receita Federal em São Paulo, a atuação dessas empresas ao longo dos últimos anos “causa um transtorno enorme ao poder público, porque elas acabam conseguindo uma robustez financeira que faz parecer aos órgãos públicos que são empresas com condição de dar andamento à prestação de serviços públicos e competem de forma desigual com outras empresas que não tem a injeção desse dinheiro que não é lícito”.
Após determinação judicial, a Prefeitura de São Paulo assumiu a operação das linhas de ônibus das empresas Transwolff e UPBus, que atuam respectivamente nas zonas Sul e Leste da capital. As companhias transportam cerca de 15 milhões de passageiros por mês.
Como o PCC é afetado com a operação?
A Justiça de São Paulo determinou que a SPTrans, estatal de transporte coletivo da capital, assuma imediatamente a operação das linhas administradas pelas empresas Transwolff, que atua na Zona Sul, e da UPBus, que administra linhas na Zona Leste.
Com isso, o esquema é afetado de forma direta, já que a organização criminosa deixa de ter as ferramentas para movimentar as operações de lavagem de dinheiro. As decisões judiciais estabelecem também o bloqueio de bens dos investigados, no valor máximo de quase R$ 600 milhões.
Juntas, as duas companhias transportam cerca de 15 milhões de passageiros por mês.
Os dirigentes das empresas devem se afastar dos cargos, e cinco deles, ligados à UPBus, terão de cumprir medidas cautelares — entre elas, a proibição de frequentar a empresa e de se ausentar da cidade sem comunicação prévia à Justiça.
Confira mais detalhes abaixo:
Empresas usadas para lavar dinheiro do tráfico
Diretor de empresa na cúpula do PCC
Efetivo recorde na operação
Armas encontradas em casa de dono de empresa de ônibus de SP
Divulgação/MP
Empresas usadas para lavar dinheiro do tráfico
Durante quase cinco anos de investigação, os promotores do grupo de combate ao crime organizado (Gaeco) reuniram indícios de que as empresas eram usadas pela facção criminosa para lavar dinheiro do tráfico de drogas e de outros crimes.
A suspeitas de que o crime organizado estava infiltrado no transporte público de São Paulo vêm desde os anos 1990, quando parte do sistema era operado por perueiros clandestinos, que faziam o trajeto entre os bairros mais afastados e os terminais de ônibus.
Em 2003, a prefeitura da capital transferiu a operação das linhas para a iniciativa privada. Parte do sistema ficou com as grandes empresas de ônibus, e os itinerários mais curtos passaram a ser feitos por cooperativas. A maior delas era a Cooperpam, com sede na Zona Sul.
Ao longo dos anos, segundo o MP, os dirigentes desta cooperativa montaram uma empresa e passaram a pressionar e até ameaçar os cooperados para que transferissem o controle da cooperativa para essa outra companhia, chamada de TW ou Transwolff.
Além disso, segundo os promotores, os diretores se apropriavam de parte da remuneração dos cooperados.
Dez anos depois, em 2013, quando o primeiro contrato de permissão da Prefeitura de SP chegou ao fim para todas as empresas, a Transwolff conseguiu assinar um contrato emergencial, que foi prorrogado durante anos, devido a um impasse no processo de concessão.
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Joias e relógios encontrados pela polícia em residência de dono de empresa de ônibus da capital paulista
Divulgação/MP
Diretor de empresa na cúpula do PCC
Só em 2019, depois que o TCM liberou a licitação, a prefeitura da capital assinou 32 contratos para a concessão das linhas de ônibus da cidade, por um prazo de 15 anos.
No caso da UPBus, o Ministério Público afirma que os diretores integram a cúpula da facção criminosa. Um dos donos da empresa era Anselmo Bicheli Santa Fausta, conhecido como “Cara Preta”.
Anselmo foi assassinado e degolado em dezembro de 2021. A cabeça dele foi deixada em uma praça do Tatuapé, também na Zona Leste.
Parentes dos investigados também entraram para a sociedade. Segundo a investigação, eles têm profissões ou exercem atividades econômicas incompatíveis com o capital investido na UPBus.
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Efetivo recorde na operação
O efetivo da operação desta terça-feira é o maior já usado em uma ação do tipo do Ministério Público. Ao todo, foram 340 policiais militares, 106 viaturas, compreendendo todas as unidades do Comando de Policiamento de Choque (1° BPChq, 2° BPChq, 3° BPChq, 4°BPChq, 5° BPChq e RPMon), bem como os agentes de inteligência.
Também foram designados 43 agentes da receita federal com 20 viaturas, 64 membros do Ministério Público e dois agentes do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
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