‘Risco-benefício’ deve ser considerado antes de anestesia para tatuagens, diz CRM-SC; prática não é proibida


Parecer estabelece normas para anestesia nesses casos. Influenciador Ricardo Godoi, de 46 anos, morreu após ter tomado anestesia geral para fazer uma tatuagem. Influenciador e empresário Ricardo Godoi morre após sedação para fazer tatuagem
O empresário e influenciador Ricardo Godoi, de 46 anos, morreu após ter recebido anestesia geral para fazer uma tatuagem em um hospital de Itapema, no Litoral Norte de Santa Catarina. O caso aconteceu na segunda-feira (20) e é investigado pela Polícia Civil.
Especialistas analisam que o procedimento, assim como outras intervenções, tem riscos. Segundo o Conselho Regional de Medicina (CRM-SC), no entanto, não há proibição para que anestesistas apliquem o medicamento em unidades de saúde em pacientes que farão tatuagens.
O órgão, porém, destaca que algumas regras precisam ser cumpridas, e que é necessário discutir o “risco-benefício” em todas as anestesias, principalmente quando envolvem procedimentos estéticos (leia mais abaixo).
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Quem é Ricardo Godoi, influenciador do ramo de carros de luxo que morreu em SC
Corpo de influenciador morto após anestesia geral para tatuagem em SC será exumado
Um parecer do CRM de Santa Catarina que estabelece normas para anestesia em tatuagens destaca que o procedimento deve ser realizado obrigatoriamente em consultório médico ou instituição de saúde regularmente inscrita no órgão.
Segundo o texto, é necessário garantir o direito do paciente de ter um médico como responsável direto pela sua internação, assistência e acompanhamento até a alta. Nesses casos, o médico anestesista será o responsável inclusive por possíveis complicações relacionadas ao ato anestésico.
O parecer serve como consulta para profissionais e foi aprovado em sessão plenária em junho de 2024. O documento técnico, baseado na legislação que já existe, também expõe que:
Como todos, o procedimento deve garantir o sigilo médico – inclusive ao permitir que profissionais fora da medicina entrem em locais onde outros pacientes são atendidos. “É de fundamental importância garantir um ambiente de preservação do sigilo das informações médicas destes pacientes”, destaca o texto.
O paciente ou responsável legal deve assinar o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), contendo os principais riscos da anestesia e a identificação do médico responsável por ela.
Influenciador e empresário do ramo de carros morre após anestesia geral para fazer tatuagem em SC
Reprodução/Redes Sociais
Questão ética
O documento também cita o Parecer Consulta CREMESP n°58.830/04. A ementa diz que “o anestesiologista não deve ministrar anestesia para procedimentos que não se enquadram no rol de procedimentos médicos reconhecidos pelo Conselho Federal de Medicina e Conselho Federal de Odontologia”.
👉 No entanto, o CRM/SC considera a necessidade de considerar outros pontos, como o bem estar físico e a autoestima do paciente, e usa artigos para defender que o relato de uma pessoa sobre a experiência de dor deve ser respeitado.
O caso
O empresário e influenciador Ricardo Godoi, que acumula mais de 200 mil seguidores nas redes sociais, morreu na segunda-feira (20) durante um procedimento em um hospital particular de Itapema. Segundo um amigo da família, ele recebeu anestesia geral para fazer uma tatuagem.
Procurado, o responsável pelo estúdio de tatuagem informou ao g1 que Godoi morreu durante a sedação e intubação, antes do início do desenho.
Segundo ele, que preferiu não se identificar, a intervenção foi feita com acompanhamento de anestesista, após exames constatarem que o empresário estava em boas condições de saúde.
O g1 entrou em contato com com o hospital, mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem. Nas redes sociais, Godoi chegou a avisar aos seguidores que faria um procedimento cirúrgico.
A Polícia Civil disse que o corpo não passou pelo exame cadavérico, importante para determinar com precisão a causa da morte. Por causa disso, a corporação pediu a exumação, que foi autorizada pelo Poder Judiciário.
Post de Godoi sobre procedimento cirúrgico
Instagram/Reprodução
Entenda riscos de fazer tatuagem com sedação ou anestesia geral
Famosos vêm optando, por exemplo, pela sedação: é o caso do cantor Igor Kannário, que decidiu “fechar o corpo” em apenas uma sessão. Ou o da influenciadora e irmã do jogador Neymar, Rafaella Santos, que tatuou um leão nas costas.
O g1 conversou com especialistas para entender as diferenças entre sedação e anestesia geral, os riscos e quando os procedimentos são indicados.
Assim como qualquer outro tipo de intervenção, a anestesia tem riscos, explica Esthael Cristina Querido Avelar, médica anestesiologista pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
“Alguns tipos de medicações fazem com que ocorra a inibição da respiração espontânea desse paciente. Quando a gente faz anestesia geral, obrigatoriamente a gente provoca isso, e se o médico, por alguma questão anatômica, não conseguir ter acesso à via aérea do paciente, tem risco de fazer uma hipoxemia ou uma falta de oxigênio nos tecidos”, diz a anestesiologista, que também é coordenadora do Núcleo de Dor da Clínica Atualli Spine Care.
Além disso, a médica explica que algumas medicações podem provocar uma queda muito abrupta, dependendo da dose, da pressão do paciente e da frequência cardíaca. Por isso, o procedimento deve ser feito em um ambiente seguro e deve ser feito por um anestesista.
O que diz o estúdio de tatuagem
“Primeiramente o Studio de Tatuagem lamenta profundamente o falecimento do Ricardo, que além de cliente era um grande amigo do proprietário do Studio. Esclarecemos que o Ricardo iria fazer conosco um fechamento de costas com anestesia geral, sedação e intubação. Para isso contratamos um hospital particular com toda equipe, equipamentos e drogas anestésicas necessárias para a segurança do procedimento. Contratamos também um médico com especialização em anestesiologia e experiência em intubação, que teve sua documentação aprovada pelo hospital.
Foram solicitados previamente exames de sangue, que não apontaram nenhum risco explícito [para] a realização do procedimento. O Ricardo assinou o termo de consentimento de risco do procedimento. O que ocorreu é que no começo da sedação e intubação ele teve uma parada cardiorrespiratória, que ocorreu antes mesmo de começarem a tatuarem ele, que foi verificado rapidamente e chamado um cardiologista para tentar reanimar ele, infelizmente sem sucesso”.
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