A política nova de combate à imigração ilegal determina a abertura de um centro de detenção na prisão da Baía de Guantánamo para abrigar até 30 mil imigrantes sem documentos. Brasil e EUA vão criar grupo de trabalho pra cuidar da deportação de imigrantes brasileiros
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma política nova de combate à imigração ilegal. Ele quer transferir milhares de estrangeiros em situação irregular para base americana em Guantánamo – onde existe uma prisão para terroristas.
A ordem determina a criação de um centro de detenção nas instalações militares da Baía de Guantánamo, em Cuba, para abrigar até 30 mil imigrantes sem documentos.
“Vai dobrar a nossa capacidade”, disse Trump.
Em 2002, os Estados Unidos abriram uma prisão dentro da própria base naval para prender suspeitos dos atentados de 11 de setembro de 2001. Essa instalação também recebeu terroristas capturados durante as guerras do Iraque e do Afeganistão. Dos quase 800 presos que chegaram a ser detidos lá, 15 continuam na prisão. Entre eles, um acusado de ser um dos mentores dos atentados contra o World Trade Center.
Ao longo dos anos, organizações de direitos humanos, a imprensa e os próprios detentos denunciaram casos graves de tortura durante os interrogatórios.
Dentro da base naval já existe uma prisão separada dos terroristas para abrigar imigrantes ilegais. A ordem de Trump não esclarece se planeja expandir essa prisão, criar uma nova ou abrigar os estrangeiros nas instalações para terroristas.
Trump anunciou a ordem em um evento em que assinou a primeira lei do novo mandato, também sobre imigração. A lei determina que o Departamento de Segurança Interna, do governo federal, passe a prender imigrantes em situação irregular que são acusados de crimes como roubo, furto, agressão contra policiais ou que resultem em morte e ferimentos. A lei também permite a deportação dessas pessoas antes mesmo de um julgamento. A legislação ganhou o nome de “Laken Riley”, uma jovem de 22 anos assassinada em fevereiro de 2024 por um imigrante.
Donald Trump anuncia ordem para transferir imigrantes ilegais para prisão de Guantánamo, em Cuba
Jornal Nacional/ Reprodução
O decreto aumenta ainda mais o medo em lugares com um grande número de estrangeiros, como Newark, no estado de Nova Jersey. Lá é comum andar pelas ruas e ouvir português – nos sotaques mais variados. Newark fica a 20 km de Nova York. As duas cidades têm uma proporção alta e parecida de imigrantes, segundo dados das prefeituras, mas com perfis econômicos bem diferentes. O preço médio do aluguel em Newark é um terço do valor médio de Nova York.
Na quinta-feira (23), o ICE – Polícia Federal de Imigração dos Estados Unidos – fez uma operação em uma peixaria depois de receber uma denúncia. Os agentes prenderam imigrantes em situação irregular. Segundo a prefeitura, eram três. Rafael testemunhou tudo.
“Estão usando carros particulares para fazer prisões sem levantar suspeitas”, disse ele.
Comunidade de brasileiros em Nova York fala em medo e tensão com operações do governo Trump
A rotina da cidade mudou: está menos movimentada. Os imigrantes contam que estão com medo de sair de casa, seja para comprar comida ou até mesmo para trabalhar. A dona de um restaurante diz que o local fechou temporariamente para garantir a segurança dos funcionários. O restaurante vizinho abriu, mas estava vazio em plena hora do almoço. O Abel é amigo do dono do lugar e diz que faltam clientes e funcionários:
“As pessoas estão ficando doentes de viver om medo”.
Em um ONG, voluntários ajudam os imigrantes a preencherem uma concessão de guarda temporária de menores de idade. As famílias temem que os adultos sejam deportados e separados dos filhos. O documento nomeia um tutor provisório para evitar que a criança seja enviada para um abrigo.
Uma brasileira está há seis anos nos Estados Unidos:
“Hoje, a minha maior preocupação é com meu filho, porque eu não tenho papel. Ele nasceu aqui e eu fico com medo de acontecer alguma coisa comigo e o que vai acontecer com ele depois? Ele precisa, ele é especial, ele é uma criança especial. O que mais me preocupa é isso”, diz ela.
O consulado brasileiro disponibilizou uma linha telefônica para tirar dúvidas e orientou que os brasileiros que tiveram filhos nos Estados Unidos tirem os documentos brasileiros dessas crianças.
Newark e Nova York são cidades movidas à mão de obra dos estrangeiros e separadas pela estátua que já foi o símbolo de boas-vindas aos imigrantes que chegavam aos Estados Unidos no século XIX.
O Ministério das Relações Exteriores e a embaixada dos Estados Unidos em Brasília anunciaram a criação de um grupo de trabalho para tratar da deportação de imigrantes brasileiros. O objetivo é garantir que os deportados viajem em segurança e tenham tratamento digno e respeitoso.
Os dois países também vão estabelecer uma linha direta de comunicação para acompanhar os futuros voos de deportação em tempo real.
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