Força do novo presidente está em atender às demandas internas do Senado, apontaram colegas. Palácio do Planalto teme que Alcolumbre não seja um filtro contra iniciativas da oposição. Davi Alcolumbre é eleito presidente do Senado
O Senado Federal elegeu neste sábado (1º) o senador Davi Alcolumbre (União-AP), 47 anos, para a presidência da Casa pelos próximos dois anos. O mandato vai até o início de 2027. Esta é a segunda vez que Alcolumbre assume o comando do Senado, após ter presidido a Casa entre 2019 e 2021.
Ele obteve 73 votos dos 81 senadores.
Alcolumbre é conhecido pela força nos bastidores e pela habilidade de construir consensos. Mesmo na presidência de seu antecessor, Rodrigo Pachedo (PSD-MG), ele exercia influência na Casa e presidiu a comissão mais importante, a de Constituição e Justiça.
Nesta eleição, conseguiu o apoio tanto do PT quanto do PL, partidos que dividirão as vice-presidências da Casa: Eduardo Gomes (PL-TO) ocupará a primeira vice e Humberto Costa (PT-PE), a segunda.
Entre as legendas, apenas Novo e PSDB não o apoiaram, enquanto o Podemos liberou a bancada.
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Davi Alcolumbre (União-AP), sentado ao centro, conversa com senadores no plenário do Senado
Edilson Rodrigues/Agência Senado
Os colegas dizem que muito de sua força está em atender às demandas internas do Senado.
Em seu discurso na eleição, neste sábado, ele deixou isso bem claro:
“Não haverá democracia forte sem um Congresso livre, sem um Parlamento firme, sem um Senado soberano, autônomo, e independente”, afirmou.
Alcolumbre também sinalizou que vai batalhar pela liberação das emendas parlamentares, suspensas pelo ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), que apontou falta de transparência no processo. O governo havia acertado a liberação da verba em acordo com o parlamento.
Agora, Alcolumbre diz que acordo feito tem que ser acordo cumprido.
“Daí coloco um terceiro compromisso para o qual me empenharei com determinação: acordo firmado é acordo cumprido até que um novo acordo ou uma nova maioria pense diferente”, afirmou .
A forma como Alcolumbre é visto pelos colegas pode ser resumida em um caso ocorrido durante sua primeira vitória para o comando do Senado.
Durante a eleição de 2019, Renan Calheiros (MDB-AL) desistiu da disputa e reconheceu a força do adversário:
“O Davi não é Davi, o Davi é o Golias”, afirmou à época.
Articulador
A articulação política é um dos pontos fortes de Alcolumbre. Entre os colegas, é visto como alguém que cumpre compromissos e atua nos bastidores para garantir acordos.
“Davi é um cara agregador, conseguiu unir base e oposição. Diferente do Pacheco, que falava muito para fora, Davi fala para dentro, está sempre próximo dos senadores, costurando acordos”, afirmou Efraim Filho (PB), líder do União Brasil no Senado.
A expectativa é de que seu retorno à presidência traga um ambiente de maior integração entre os parlamentares.
“A residência oficial será mais usada. O estilo do Davi cria um ambiente menos tenso, com reuniões, jantares e um clima de cooperação”, disse Laércio Oliveira (PP-SE), candidato à 4ª secretaria do Senado.
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Relação com o Planalto
Interlocutores do presidente Lula entendem que o antecessor de Alcolumbre, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), atuava como uma “barreira de contenção” à oposição, especialmente aos parlamentares mais bolsonaristas, e que é provável que o novo presidente do Senado não cumpra esse papel.
Além de cobrar um preço alto pela fidelidade, com mais cargos no governo, Alcolumbre tem feito sinalizações à oposição antes mesmo de chegar ao cargo.
Um dos sinais de alerta para a relação conflituosa com Alcolumbre é que o Planalto recebeu a informação de que ele pretende pautar, já na próxima semana, uma sessão do Congresso para apreciar os vetos do presidente Lula.
A avaliação de interlocutores de Lula é que Alcolumbre tem um perfil mais parecido com o do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL): entrega apoio quando recebe o que quer.
Trajetória política
Nascido em Macapá (AP), em 19 de junho de 1977, Davi Alcolumbre é casado e tem dois filhos. Filho de um mecânico e de uma empresária, começou a carreira no comércio da família, estudou Economia, mas não concluiu o curso.
Ingressou na política como vereador em Macapá e, desde então, construiu uma carreira de mais de 20 anos no Legislativo:
2003-2015: Deputado federal pelo Amapá.
2015: Eleito senador.
2019-2021: Presidente do Senado.
2022: Reeleito senador.
Alcolumbre começou no PDT, mas migrou para o PFL, que depois se tornou o União Brasil.
Atuação no Congresso
Na Câmara dos Deputados:
Durante mais de 10 anos como deputado federal, Alcolumbre teve três projetos próprios transformados em lei e relatou outros dois.
Entre as pautas que votou a favor estão:
✔ Código Florestal (2011)
✔ PEC das Domésticas (2012)
Senado Federal
A chegada ao Senado marcou uma virada em sua trajetória política. Em 2016, ainda sem grande destaque, votou pelo impeachment de Dilma Rousseff. Nos anos seguintes, ganhou protagonismo e se tornou um dos principais articuladores da Casa.
📌 Gastos com cotas parlamentares: Desde 2015, foi o 2º senador que mais gastou com cotas parlamentares, totalizando R$ 4,46 milhões. 58% desse valor (R$ 2,6 milhões) foi usado em divulgação da atividade parlamentar.
Alianças e disputas políticas
Em 2018, Alcolumbre apoiou Jair Bolsonaro (PL) na eleição presidencial e costurou apoios para se eleger presidente do Senado. No entanto, com o tempo, se afastou do ex-presidente por divergências políticas.
O rompimento ficou evidente em 2021, quando Alcolumbre comandava a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e segurou por quatro meses a sabatina de André Mendonça, indicado de Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Essa movimentação consolidou sua influência política e o aproximou do governo Lula. Hoje, Alcolumbre é um dos responsáveis pelo fortalecimento do União Brasil dentro da base do governo, garantindo a indicação de aliados para ministérios.
A influência no Congresso
Durante seu período como presidente do Senado, Alcolumbre acumulou influência para atender sua base e influenciar a eleição de seu sucessor, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Essa articulação também gera críticas. Há senadores que veem sua estratégia como excessivamente focada na política regionalista e na distribuição de emendas.
Já aliados veem sua influência como natural.
Em 2020, Alcolumbre tentou mudar o regimento para permitir sua reeleição na presidência do Senado, mas o STF barrou a manobra.
Política no Amapá
Apesar do prestígio nacional, Alcolumbre enfrenta dificuldades políticas no Amapá.
📌 Derrotas eleitorais:
2012: Derrotado na eleição para prefeito de Macapá.
2018: Disputou o governo do Amapá e ficou em terceiro lugar.
2020 e 2024: Seus aliados perderam as eleições para a prefeitura de Macapá.
Na disputa para o Senado em 2022, venceu por uma margem apertada, com apenas 22 mil votos de diferença sobre Rayssa Furlan (MDB), esposa do prefeito da capital.
Mesmo com essas dificuldades locais, Alcolumbre continua a destinar recursos para o estado, como o envio de R$ 12 milhões em emendas para a reforma da Câmara Municipal de Macapá.