Em 2024, São José do Rio Preto (SP) registrou a maior taxa de homicídios entre as 25 cidades do estado com mais de 300 mil moradores. Briga de gangues faz índice de criminalidade subir em Rio Preto
A violência tem atingido índices preocupantes em São José do Rio Preto (SP) e, segundo autoridades de segurança, uma das principais causas desse aumento é a chamada “guerra de gangues”, que envolve principalmente adolescentes de bairros periféricos.
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A disputa por território, influenciada pelo tráfico de drogas e marcada por vinganças, coloca em risco não só os envolvidos, mas toda a população, com o número crescente de homicídios.
Essa guerra, que já é responsável por mais da metade dos casos investigados pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DEIC), tem preocupado as autoridades.
Segundo apurado pela TV TEM, na região do Deinter-5, que congrega 140 unidades policiais em 96 municípios, todos os índices de criminalidade tiveram queda, quando comparamos 2024 com 2025.
Já em Rio Preto, subiu o número de homicídios: foram 46 em 2024 e 43 em 2023, número que representa 8,8 mortes por 100 mil habitantes. É o maior número dos últimos 22 anos. Inclusive, o município registrou a maior taxa de homicídios entre as 25 cidades do estado com mais de 300 mil moradores.
Guerra entre gangues em Rio Preto provoca aumento na criminalidade do município
Reprodução/TV TEM
Em entrevista à TV TEM, um jovem que prefere não ser identificado revela detalhes de como era a vida dele em meio à violência.
“Se você entrar no tráfico, você está na guerra. Eles não querem saber se você está só vendendo droga. Se você está vendendo droga, está na guerra”, explica.
Guerra entre gangues em Rio Preto provoca aumento na criminalidade do município
Reprodução/TV TEM
A briga, que começou há pelo menos seis anos, inicialmente não estava ligada diretamente ao tráfico de drogas. Segundo o jovem, a origem das disputas pode ter tido um motivo banal.
“Começa geralmente por causa de mulher, porque um pegou a mulher do outro, foi lá e matou, aí o amigo não gostou, foi lá e matou, e está assim até hoje. Tem gente que está na guerra e não sabe nem como começou”, conta.
Violência sem sentido
Para Evandro Pelarin, juiz da Vara da Infância e Juventude, é difícil compreender a situação em Rio Preto. Ele destaca que, em cidades maiores, o tráfico de drogas é estruturado em torno de territórios controlados, inclusive com serviços públicos sendo gerenciados por essas facções.
No entanto, em Rio Preto, isso não ocorre, tornando a violência entre os jovens completamente sem sentido e sem racionalidade. “Não há racionalidade, é uma emulação da violência de forma extremamente banal”, afirma.
Guerra entre gangues em Rio Preto provoca aumento na criminalidade do município
Reprodução/TV TEM
O delegado titular da DEIC, Roberval Costa Macedo, reforça que a guerra entre gangues tem sido responsável por aproximadamente 50% dos inquéritos da delegacia e que muitos jovens são usados não só no tráfico, mas também na prática de homicídios.
“Tivemos um caso curioso em que o jovem procurou cometer um homicídio antes de atingir a maioridade para aproveitar a situação de ser considerado adolescente”, pontua.
Guerra entre gangues em Rio Preto provoca aumento na criminalidade do município
Reprodução/TV TEM
Mudança de vida
A Fundação Casa, que atualmente abriga 51 adolescentes na cidade, é responsável pelo cumprimento de medidas socioeducativas. O diretor da unidade, Alexandre de Assis Souza, destacou o desafio de lidar com esses jovens.
“Hoje, o nosso maior desafio é tentar entender e mostrar para eles o potencial que eles têm. Muitos chegam achando que não conseguem fazer nada, mas, com o decorrer do tempo, descobrem que têm vários talentos. Nosso papel é despertar essas habilidades e dar a eles uma nova perspectiva de vida”, explica.
Apesar do cenário de violência, muitos dos jovens que passam pela Fundação Casa expressam o desejo de mudar de vida. Um deles, que preferiu não se identificar, falou sobre o seu maior objetivo no momento.
“O maior sonho que tenho é mudar essa vida, ter uma vida melhor, dar um futuro para a minha família e poder ser alguém na vida, de cabeça erguida”, desabafa.
Ao ser questionado sobre o que diria para um jovem que pretende entrar no mundo do crime, ele aconselha: “Não cair nessa bobagem de querer fama porque matou, querer fama porque está no tráfico. Sai dessa, porque eu não desejo isso nem para o meu pior inimigo”.
Guerra entre gangues em Rio Preto provoca aumento na criminalidade do município
Reprodução/TV TEM
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