
Domingos Baptistella, de 89 anos, também tem paixão pela natureza, reclama da falta de resposta do clube que é apaixonado. Domingos Baptistella, de Sorocaba (SP), costuma escrever cartas datilografadas
Marcel Scinocca/g1
Domingos Baptistella nasceu em 1935. Morador do Jardim Emília, em Sorocaba (SP), o escrivão aposentado e professor dedica parte das horas vagas para datilografar cartas, como nos velhos tempos. Amigos, políticos e o tricolor paulista, seu time do coração, são os principais destinatários do idoso.
Mas qual a ligação entre o morador do interior com o São Paulo? É que no ano em que ele nasceu, também renascia o São Paulo – chamado de Clube Atlético São Paulo. O pequeno Baptistella, ainda na década de 1940, assistiu ao tricolor “brilhar” em campo e se tornar o “rolo compressor”. Daí surgiu a paixão.
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Foram várias cartas escritas ao tricolor paulista. Na última, datilografada no mês passado, ele dá uma bronca no time e também no técnico. Diz que a equipe joga muito atrás e que não está conseguindo bons resultados. “Esse time só joga pra trás, não joga pra frente”, reclama.
Ele lamenta que não obteve nenhuma retorno do clube e até acha que as cartas foram jogadas fora. “Mandei minhas ideias. Não recebi nenhuma resposta”, diz, frustrado. Com a situação, ele pensa em não escrever mais para o clube. “Com o São Paulo, acho que termina ali”, lamenta.
Domingos Baptistella, de 89 anos, ao lado de sua máquina de escrever, em Sorocaba (SP)
Marcel Scinocca/g1
O hábito de escrever começou quando ele atuava como escrivão da Polícia Civil em São Paulo e no interior.
Só que as atividades dele vão muito além do uso da boa e velha máquina de escrever. Entre o que ele considera como obrigação, o cultivo de flores. Em um terreno público, ele dedica parte do dia para a manutenção e limpeza das plantas.
O local que estava abandonado e apresentava diversos riscos, agora é cuidado e tem outra finalidade. Ele plantou diversas frutas, incluindo banana, amora, limão, abacate e carambola. São quase 20 anos de dedicação, com permissão da Prefeitura de Sorocaba. “Havia muita sujeira, pedras enormes, ratos, escorpiões. Falei: ‘vou começar a arrumar isso daí'”.
Domingos Baptistella, de Sorocaba (SP), também gosta muito da natureza
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Multitarefas
Pensa que é só isso? O que não falta é disposição para Baptistella. Além de cuidar de um pequeno orquidário e uma horta, ele ainda encontrou tempo para construir e manter dois novos espaços, claro, com muitas plantas. Um deles é dedicado para o descanso e à leitura.
Esse gosto de pela terra e pelas plantas tem uma explicação. Descendente de italianos, seu Migos, como é conhecido, nasceu em área rural, na cidade de Cerquilho. “Eu nasci no meio de plantas, nasci em um sítio, com muitas plantas”, enfatiza sobre o local de nascimento. Ele também faz questão de dizer que é vizinho do Parque da Biquinha, uma área de mata encravada ao lado bairros e de grandes avenidas de Sorocaba.
Domingos Baptistella, de 89 anos, de Sorocaba (SP), também encontra tempo para cuidar de um pequeno orquidário
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Origens italianas
Domingos Baptistella já escreveu um livro, onde conta um pouco da origem da família dele. E é na máquina de escrever que ele encontra alento para afogar as mágoas do time, para matar a saudade e para reivindicar.
Migos, que também já foi alfaiate, dedica momentos da vida para a filantropia, sempre apoiado pela esposa, inclusive, na hora da composição das cartas. Ela comenta que quando ele está escrevendo, o deixa à vontade.
“Sei que ele está escrevendo, escrevendo carta, bilhete que ele precisa. Ele fica tranquilo”, diz Therezinha Nancy Capovilla Baptistella. Entretanto, ela pondera. “Mas se eu precisar e alguma coisa, eu chamo e ele me atende”, garante. O casal está junto há 63 anos.
Therezinha e Domingos Baptistella, de Sorocaba (SP), estão juntos há 63 anos
Marcel Scinocca/g1
O g1 acompanhou Baptistella escrevendo uma carta. Ela é destinada ao prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga (Republicanos), onde ele pede uma lombada na rua, trecho onde dois animais de estimação foram atropelados recentemente.
No documento, ele lembra que muitos veículos passam pela via em alta velocidade e que o local dá acesso para várias avenidas, incluindo a Pereira Inácio. A esperança dele é que a carta, ao contrário das enviadas para o São Paulo, ao menos tenha resposta.
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