Iemanjá ganha nova imagem em Teresina; escultura da ‘rainha das águas, mares e oceanos’ passou de feição de mulher branca, para de mulher preta


A divindade de origem de religiões de matrizes africanas tinha representação baseada em Nossa Senhora dos Navegantes. Movimentos religiosos reivindicaram que divindades de matrizes africanas são negras e não brancas. É a primeira vez que Iemanjá é representada com feições de mulher preta no Piauí. Escultura de Iemanjá feita pelo artista Jean Pimentel, do Polo Cerâmico de Teresina
Josivan Gomes/TV Clube
Iemanjá ganhou, neste domingo (14), uma nova imagem em Teresina. A divindade de religiões de matrizes africanas, ganhou uma escultura com ligações com suas origens, segundo fiéis. Ela passa de uma representação de mulher branca, para uma de mulher preta. A estátua está localizada Avenida Marechal Castelo Branco, Centro Sul da Capital. Uma celebração está marcada às 15h30.
A orixá da religião Yorubá, que significa “Rainha das águas, mares e oceanos”, se tornou uma figura importante na cultura brasileira, especialmente nas religiões Afro-brasileiras, como o Candomblé e Umbanda. E é celebrada no dia 2 de fevereiro em todo o Brasil.
É a primeira vez que a imagem de Iemanjá aparece com traços de mulher negra no Piauí. A escultura exposta no local anteriormente, era inspirada em Nossa Senhora dos Navegantes, considerada pelos católicos como a “Estrela do Mar”, protetora de pescadores, navegantes e marinheiros. Foi uma espécie de adequação religiosa e política, para que a divindade pudesse ser mais aceita no Brasil, na década de 80.
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“Ela ficou popularizada como branca, por conta do sincretismo religioso. Ou seja, a união e reinterpretação de elementos de religiões diferentes, para maior aceitação. De uns anos para cá, entretanto, isso mudou. É cada vez mais comum ver Iemanjá representada como negra”, explicou o coordenador do Movimento de Matriz Africanas, Pai Rondinele de Oxu.
Os Povos de Terreiro do Piauí realizaram diversas reuniões para discutir o local e as características da escultura, que foi feita pelo artista Jean Pimentel, do Polo Cerâmico de Teresina. Ela foi uma doação de um empresário aos religiosos.
“O que a gente discutiu em relação à modificação da característica dela, porque Iemanjá, de fato, é da África e, para nós ela é negra”, ressaltou.
A escultura ficará disponível para os adeptos para fazerem toques, oferendas, rituais e agradecimentos.
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Iemanjá preta
A divindade proeminente na cultura brasileira, principalmente nas religiões Afro-brasileiras, é um exemplo de uma luta contra o racismo estrutural e contra a intolerância religiosa.
Jeovânia Vilarindo, pesquisadora do Núcleo de Pesquisas sobre Africanidades e Afrodescendência (ÌFARADÁ) da Universidade Federal do Piauí, explicou que a alteração faz parte de uma luta de anos da comunidade negra, que começa a gerar frutos.
“A luta contra o racismo e pela valorização da cultura negra não é algo novo. Há décadas, movimentos negros vêm resistindo à opressão e reivindicando seus direitos à igualdade e à dignidade. O que talvez esteja mudando agora é a crescente conscientização e mobilização em torno dessas questões, impulsionada em parte pelos movimentos sociais e pela maior visibilidade alcançada pelas vozes negras nas redes sociais e na mídia”, contou a pesquisadora.
É a primeira vez que a imagem de Iemanjá aparece com traços de mulher negra em todo o Piauí
Josivan Gomes/ TV Clube
Para a pesquisadora Jeovânia Vilarindo, é preciso que seja feito também um trabalho de conscientização contínuo.
“A mudança de imagens e símbolos é algo muito significativo, mas deve ser parte de um processo mais amplo de conscientização e transformação social”.
Antiga imagem de Iemanjá na Avenida Marechal Castelo Branco
G1 Piauí
Intolerância religiosa
A antiga imagem da orixá foi vandalizada diversas vezes. De acordo com os religiosos, os ataques à imagem demonstram a intolerância religiosa. Uma estrutura elevatória foi montada no local para evitar que a imagem seja danificada.
“Nós pedimos, inclusive, que a secretaria de Segurança Pública e que a Guarda Civil Municipal também cuidem do local, para evitar a ação de vândalos’’, disse Pai Rondinele de Oxu.
A TV Clube mostrou em 2013, a situação da estátua danificada após vândalos atacarem ela. Na época, a imagem de Iemanjá foi alvo diversas vezes.
Antiga imagem de Iemanjá após ataques de vândalos em 2013
TV Clube
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