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Primatas são importantes sentinelas da presença do vírus, mas continuam sendo alvos de agressões devido a mitos que os associam à transmissão da febre amarela. Macacos bugios encontrados mortos na USP Ribeirão foram infectados com o vírus da febre amarela
Reprodução/EPTV
Com o aumento dos casos de febre amarela no Brasil em 2025, a atenção não deve se voltar apenas aos seres humanos. Populações de macacos, importantes indicadores ambientais, seguem ameaçadas tanto pela doença quanto pela violência humana, motivada pelo mito de que esses animais transmitem o vírus.
Na realidade, a febre amarela silvestre é uma doença infecciosa transmitida por mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes, que vivem em áreas úmidas e depositam ovos em criadouros naturais, como copas de árvores.
Haemagogus janthinomys, vetor de febre amarela
Douglas Eduardo Rocha / iNaturalist
Por circularem nas copas, os macacos tornam-se as principais vítimas, mais suscetíveis a morrer pela doença. Humanos não vacinados, que vivem em regiões de risco, também podem ser picados pelos mosquitos e contrair o vírus.
Desequilíbrio ambiental
Informes do Instituto Oswaldo Cruz destacam que o desaparecimento de macacos provoca desequilíbrio ambiental, levando os mosquitos transmissores a voar mais baixo e buscar fontes alternativas de alimentação, como seres humanos.
Segundo o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB), todos os primatas neotropicais são suscetíveis ao vírus da febre amarela.
Alguns gêneros, como Alouatta (bugios, guaribas) e Callithrix (saguis, micos), têm alta taxa de letalidade, enquanto outros, como Sapajus (macacos-prego), parecem adquirir imunidade mais facilmente.
“Vamos supor que você tem dois grupos de bugios e a maioria morre. Os indivíduos restantes não conseguem se reproduzir para formar novas populações, e essa população pode acabar extinta localmente”, explica Fabiano Rodrigues de Melo, biólogo especialista em primatas.
Situação atual
De acordo com a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, foram confirmados nove casos de febre amarela em humanos em 2025, incluindo cinco óbitos. Quatro casos ocorreram em Socorro (SP), dois em Joanópolis (SP), um em Tuiuti (SP), outro segue em investigação, e um caso importado teve infecção registrada em Itapeva (MG). Nenhuma das vítimas estava vacinada.
No último domingo (2), o Ministério da Saúde emitiu um alerta para o aumento da transmissão da febre amarela no período sazonal da doença, que vai de dezembro a maio, com destaque para os estados de São Paulo, Minas Gerais, Roraima e Tocantins.
Sentinelas do vírus
Os macacos não são transmissores da febre amarela, mas, sim, vítimas da doença. A presença de animais doentes serve como “alerta” aos órgãos da saúde sobre a circulação do vírus, uma vez que quando contaminados os primatas dificilmente sobrevivem.
“Assim que a gente começa a ver mortalidade de primatas, sabemos que o vírus está circulando. Então a Defesa Civil, as secretarias municipais e estaduais de saúde podem intervir e aumentar a oferta de vacina para febre amarela e as pessoas deixam de morrer por causa disso”, comenta Fabiano.
Vale ressaltar ainda que a febre amarela não é transmitida ao entrar em contato com uma pessoa ou animal infectado, uma vez que não é contagiosa. Além das mortes pela doença, esses mamíferos são agredidos e mortos muitas vezes por falta de conhecimento das pessoas.
Macacos mortos em Ribeirão Preto, SP, estavam contaminados com o vírus da febre amarela
Reprodução/EPTV
“A gente não pode deixar as pessoas entenderem que o macaco é culpado pela transmissão do vírus. Ele é tão vítima quanto nós, ele também é suscetível e também morre. Ele nos ajuda a entender que o vírus está circulando, agindo como sentinela. Então a gente tem mais a que agradecer os macacos do que combater ou ficar com raiva deles”, ressalta.
Matar animais é considerado crime ambiental pelo Art. 29 da Lei n° 9.605/98. “Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida”, pode gerar pena de seis meses a um ano de detenção, mais multa.
Como agir
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) recomenda:
Ao encontrar macacos mortos ou debilitados: não manipular os animais, para evitar contágio com outras doenças (não pela febre amarela); comunicar imediatamente às Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde ou Delegacias do Ministério da Saúde.
Ao encontrar macacos saudáveis: não capturar, agredir, alimentar, retirar do hábitat ou translocar;
Denúncias: relatar agressões às autoridades ambientais (Ibama, Polícia Ambiental) pelo telefone Linha Verde: 0800 61 8080. Fotos e vídeos podem ser enviados ao e-mail [email protected].
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