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Ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro afirmou que ambos tentaram contato com familiares dele, como o pai e a esposa. O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, deixa a sede da Polícia Federal em Brasília, na terça-feira (19), após prestar depoimento.
Wilton Junior/Estadão Conteúdo
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), disse que tanto o ex-ministro general Braga Netto quanto o advogado Fabio Wajngarten, que foi secretário de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), tentaram obter informações sobre os primeiros depoimentos que ele prestou no âmbito do acordo de delação premiada com a Polícia Federal.
As declarações constam em documento sobre o acordo de delação premiada firmado em 2024 pela Polícia Federal com Cid, que teve seu sigilo derrubado nesta quarta-feira (19) pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes (leia mais abaixo).
Delação aponta quem era radical e quem tentava ‘frear’ Bolsonaro
“Basicamente isso aconteceu logo depois da minha soltura, quando eu fiz a colaboração naquele período, onde não só ele [Braga Netto] como outros intermediários tentaram saber o que eu tinha falado”, afirmou Cid na ocasião.
“Fazia um contato com o meu pai [general Mauro Lourena Cid], tentavam ver o que eu tinha, se realmente eu tinha colaborado, porque a imprensa estava falando muita coisa, ele não era oficial, e tentando entender o que eu tinha falado”, prosseguiu.
A defesa de Braga Netto, inclusive, pediu oficialmente ao STF acesso ao teor da delação premiada.
Cid citou ainda o nome do ex-secretário de Comunicação da Presidência entre as pessoas que tentavam conseguir os dados.
“Outros que tentaram fazer contato com meu pai foi o Fabio Wajngarten. Ele tentou até ligar para minha esposa também, eu acho, para saber o que eu tinha falado”, afirmou o tenente-coronel.
Questionado se Wajngarten também tinha feito contato com o general Mauro Lourena Cid, pai dele, Mauro Cid respondeu positivamente.
“Isso, isso. Para entender o que eu tinha falado, como estava funcionando o acordo de colaboração”, responde o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.
🔎 Cid foi ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro ao longo de quase todo o mandato. Ele firmou delação premiada com a Polícia Federal para prestar informações em diversos inquéritos, incluindo o da tentativa de golpe de Estado.
🔎 Na terça-feira (18), a Procuradoria-Geral da República denunciou Jair Bolsonaro e outros 33 suspeitos de terem arquitetado uma tentativa de golpe entre 2021 e janeiro de 2023 para impedir a derrota de Bolsonaro nas urnas e a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.
🔎 O sigilo da delação de Mauro Cid foi derrubado pelo relator dos inquéritos, Alexandre de Moraes, nesta quarta.
Sigilo derrubado
O ministro derrubou nesta quarta-feira (19) o sigilo do acordo de delação premiada firmado em 2024 pela Polícia Federal com o tenente-coronel.
Na mesma decisão, Moraes abriu prazo de 15 dias para que os 34 denunciados pela Procuradoria-Geral da República nesta terça-feira (18) apresentem suas defesas por escrito.
Com a decisão, o conteúdo dos depoimentos de Mauro Cid deve ser tornado público ainda nesta quarta. A derrubada do sigilo tinha sido adiantada pelo jornalista César Tralli, da TV Globo, no início da manhã.
“Ocorre que, no presente momento processual, uma vez oferecida a denúncia pelo procurador-geral da República, para garantia do contraditório e da ampla defesa […] não há mais necessidade da manutenção desse sigilo, devendo ser garantido aos denunciados e aos seus advogados total e amplo acesso a todos os termos da colaboração premiada”, diz Moraes.
O acordo previa que Cid desse detalhes aos investigadores sobre suspeitas de crimes cometidos por ele e por pessoas em seu entorno ao longo do governo – em investigações como a da tentativa de golpe de Estado, das joias trazidas da Arábia Saudita e da suposta fraude nos cartões de vacinação, por exemplo.
Se as informações prestadas por Cid forem confirmadas pela investigação, ele pode receber benefícios como a redução da pena e o cumprimento de condenações em regime aberto, por exemplo.