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Solicitação foi motivada pela família das vítimas, que acredita que houve excesso por parte dos policiais. Wender e Kelvin foram mortos durante abordagem policial em Londrina
Reprodução
O Ministério Público do Paraná (MP-PR) solicitou a ampliação das investigações sobre as mortes dos dois jovens durante uma abordagem policial no último fim de semana, em Londrina, no norte do Paraná. O pedido foi feito por meio da promotora de Justiça Susana Broglia Feitosa de Lacerda.
Com a morte de Kelvin Willian Vieira dos Santos, de 16 anos e Wender Natan da Costa Bento, de 20 anos, a cidade registrou uma onda de manifestações violentas até a noite de segunda-feira (17). Durante os protestos, avenidas foram bloqueadas com objetos incendiados, ônibus foram apedrejados e queimados e o transporte público ficou suspenso por aproximadamente oito horas.
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A RPC teve acesso a um documento que mostra que o pedido foi feito à Justiça no último domingo (16), um dia depois que os jovens morreram. A solicitação foi motivada pela família das vítimas, que acredita que houve excesso por parte dos policiais e diz que os jovens não estavam cometendo crimes quando foram baleados.
No documento de pedido de providências, a promotora fez quatro solicitações:
Elaboração dos croquis da trajetória dos projéteis nos corpos, assim como para consideração da distância que os disparos atingiram os corpos, sejam também levados em conta os vestígios das vestimentas que usavam;
Que os ferimentos, os corpos e as vestimentas fossem fotografadas;
Que a conclusão dos laudos de necropsia fossem informados para o Instituto Criminalística, a fim de subsidiar a elaboração eventual do laudo acerca da dinâmica dos fatos;
Que a Autoridade Policial buscasse e apreendesse imagens do local da ocorrência dos fatos.
Em outro documento, a advogada da família também pediu uma ampla investigação para apurar a conduta dos agentes e as circunstancias em que Kelvin e Wender foram mortos. Além disso, ela também requisitou um exame residuográfico de disparo de arma de fogo e exame balístico ao Instituto Médico Legal (IML) de Londrina.
Em nota, a Policia Militar disse que vai apurar o caso através de um Inquérito Policial Militar (IPM), “reafirmando seu compromisso com a legalidade e os protocolos da atividade policial”.
A Secretaria de Segurança Pública (Sesp), também se pronunciou dizendo que por se tratar de uma ocorrência envolvendo Militares Estaduais em serviço, a Polícia Militar está investigando o confronto e a Policia Civil instaurou inquérito Policial para apurar a conduta dos civis envolvidos na ocorrência.
“Para garantir isenção e imparcialidade, o inquérito policial militar é conduzido por equipe de Maringá e o Inquérito Civil pela Policia Civil de Londrina, ambos com o acompanhamento do Ministério Público. Detalhes sobre os disparos de arma de fogo dependem de conclusão de laudos periciais. Segundo apurado até o momento, o homem de 20 anos tinha duas passagens policiais por desobediência. A Polícia Civil identificou o proprietário do veículo envolvido”, informou a nota.
Em entrevista à RPC, Claudio Esteves, procurador da Justiça, informou que o MP-PR está coletando evidências e espera receber mais informações para avaliar a situação. Ele não descarta a possibilidade do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime (Gaeco) realizar uma investigação direta.
Confira o que se sabe sobre a abordagem:
Quem eram os jovens?
Onde a abordagem policial aconteceu?
O que a PM disse sobre a abordagem?
O que dizem as famílias dos jovens?
Quem eram os jovens?
Kelvin dos Santos, 16 anos, estudante do Ensino Médio
Wender da Costa, 20 anos
Os dois se conheciam porque trabalhavam juntos em um lava-rápido e em uma barbearia, que foi aberta há duas semanas pelo Wender.
De acordo com a família, no sábado, eles saíram de carro para pegar bebida em uma distribuidora após Kelvin celebrar o aniversário da sobrinha da mãe dele.
Câmera de segurança da distribuidora filmou os dois jovens comprando bebidas.
Reprodução/RPC
Onde a abordagem aconteceu?
Segundo o relatório da PM, a abordagem aconteceu por volta das 22h30 de sábado, na Rua Belmiro de Oliveira, no bairro Leonor, perto da BR-369.
O local fica perto do Jardim Nossa Senhora da Paz – popularmente chamado de Bratac – bairro em que Kelvin morava.
O que a PM disse sobre a abordagem?
Armas apreendidas no dia da abordagem, de acordo com a PM.
Eduardo Araújo/Londrina News
“Durante patrulhamento equipe Choque visualizou um veículo com as mesmas características do envolvido em furtos a residência. Na tentativa de abordagem houve reação por parte dos suspeitos, o que culminou em confronto armado. Sendo de pronto acionado socorro médico”, é o que consta no boletim divulgado pela PM.
No documento, também consta a informação de que quatro policiais participaram da abordagem e 18 disparos foram efetuados contra Kelvin e Wender.
Em entrevista à RPC, o capitão da PM, Emerson Castro, relatou que o carro em que Kelvin e Wender estavam bateu contra outro veículo.
“Segundo os policiais militares, quando direcionaram a viatura e passaram ao lado desse carro, eles viram que os ocupantes estavam empunhando armas de fogo”, disse.
O Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergência (Siate) e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foram até o local e constataram a morte dos dois.
A PM informou ter apreendido duas armas. Não há informações sobre a procedência delas e se foram adquiridas pelos jovens.
A corporação também confirmou que o carro em que os jovens estava não tinha alerta de furto ou roubo. O veículo foi apreendido.
Carro em que os jovens estava foi apreendido.
Reprodução/RPC
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O que dizem as famílias dos jovens?
Vanessa e Sirlene, mães de Wender e Kelvin.
Reprodução/RPC
As mães, Vanessa e Sirlene, deram entrevistas questionando a versão apresentada pela PM. Elas afirmam que os filhos não tinham envolvimento com crimes e que houve excesso por parte dos policiais.
“Meu filho foi morto com dez tiros. Eu fui no IML [Instituto Médico Legal] e meu filho estava com dez tiros no corpo, só na região torácica”, disse Vanessa da Costa, mãe de Wender.
Ela também informou que os dois pegaram o carro emprestado para irem até a distribuidora. “Emprestou o carro errado, sim. Só para buscar essa bebida e ia voltar para o bairro”, contou.
Sirlene dos Santos disse que o filho, Kelvin, estudava e não usava drogas ou praticava crimes.
“Eu ensinei o Kelvin sempre a andar no caminho certo. Aí o Wender deu essa oportunidade para o meu filho. Ele estava tão feliz”, Sirlene relatou.
Londrina teve onda de protestos após o confronto
Londrina tem onda de protestos após confronto
Depois da morte de Kelvin e Wender, manifestações violentas foram registradas em Londrina. Um ônibus foi queimado e outros dois foram apredrejados.
Além disso, ao menos quatro avenidas bloqueadas por incêndios provocados. O Corpo de Bombeiros informou que recebeu chamados de 17 incêndios em regiões diferentes.
As empresas de transporte público chegaram a suspender temporariamente o serviço até que a situação fosse normalizada.
Na terça-feira (18), o secretário de Segurança Pública do Estado, Coronel Hudson Teixeira, viajou a Londrina e liderou operações para, de acordo com ele, “reestabelecer a ordem” na cidade, que não registrou mais manifestações violentas até o fim da manhã de quarta-feira (19).
No momento, as quatro pessoas que foram presas durante as manifestações, já estão em liberdade. De acordo com a Polícia Ciivil, três delas assinaram um termo de comparecimento em juízo e outra pagou fiança e foi liberada.
Outras seis pessoas envolvidas nas manifestações foram identificadas, mas ainda não foram encontradas.
Faixas usadas pelos manifestantes em Londrina.
Rogério Pinheiro/RPC
Noite de segunda-feira (17) registrou incêndio em ônibus e manifestações.
Rogério Pinheiro – RPC/PM-PR
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