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“O general Braga Netto me entrega o dinheiro”, diz o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL). Entrega ocorreu no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República. Mauro Cid relata que Braga Netto entregou dinheiro em caixa de vinho
Em vídeo de depoimento de sua delação premiada (veja acima), o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), confirmou ter recebido dinheiro do ex-ministro da Casa Civil e da Defesa Braga Netto para financiar o golpe dentro de uma caixa de vinho.
A entrega ocorreu no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República. Jair Bolsonaro (PL) ocupava o cargo na época.
A afirmação do militar está em um dos depoimentos que Cid prestou a autoridades no contexto de sua colaboração premiada homologada pelo ministro Alexandre de Moraes, no Supremo Tribunal Federal (STF).
“O general Braga Netto me entrega dinheiro. Se não me engano, creio que foi quando o [Rafael Martins] De Oliveira esteve no Alvorada. Ele [Braga Netto] me entregou um… era tipo um coisinho de vinho, de presente de vinho, com dinheiro. Eu não contei, não sei quanto, estava grampeado e o De Oliveira veio buscar o dinheiro”, disse Cid.
O ex-ajudante de ordens, contudo, afirmou não se lembrar o dia, ou saber da quantia no pacote. Em outro momento do depoimento, Cid descreveu o pacote que recebeu de Braga Netto.
Mauro Cid deixa STF após audiência com Alexandre de Moraes, em 21 de novembro de 2024
Fellipe Sampaio/STF via Reuters
Outros trechos da delação
O tenente-coronel mencionou também a reunião realizada em 28 de novembro de 2022, com oficiais formados no Curso de Forças Especiais – os chamados “kids pretos”. Segundo Cid, no encontro havia “militares mais exaltados, outros menos”, mas ele não soube dizer quem estava em cada lado.
🔎 Cid foi ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro ao longo de quase todo o mandato. Ele firmou delação premiada com a Polícia Federal para prestar informações em diversos inquéritos, incluindo o da tentativa de golpe de Estado.
🔎 Na terça-feira (18), a Procuradoria-Geral da República denunciou Jair Bolsonaro e outros 33 suspeitos de terem arquitetado uma tentativa de golpe entre 2021 e janeiro de 2023 para impedir a derrota de Bolsonaro nas urnas e a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.
🔎 O sigilo da delação de Mauro Cid foi derrubado pelo relator dos inquéritos, Alexandre de Moraes, nesta quarta.
Sigilo derrubado
O ministro derrubou nesta quarta-feira (19) o sigilo do acordo de delação premiada firmado em 2024 pela Polícia Federal com o tenente-coronel.
Na mesma decisão, Moraes abriu prazo de 15 dias para que os 34 denunciados pela Procuradoria-Geral da República nesta terça-feira (18) apresentem suas defesas por escrito.
Com a decisão, o conteúdo dos depoimentos de Mauro Cid deve ser tornado público ainda nesta quarta. A derrubada do sigilo tinha sido adiantada pelo jornalista César Tralli, da TV Globo, no início da manhã.
“Ocorre que, no presente momento processual, uma vez oferecida a denúncia pelo procurador-geral da República, para garantia do contraditório e da ampla defesa […] não há mais necessidade da manutenção desse sigilo, devendo ser garantido aos denunciados e aos seus advogados total e amplo acesso a todos os termos da colaboração premiada”, diz Moraes.
O acordo previa que Cid desse detalhes aos investigadores sobre suspeitas de crimes cometidos por ele e por pessoas em seu entorno ao longo do governo – em investigações como a da tentativa de golpe de Estado, das joias trazidas da Arábia Saudita e da suposta fraude nos cartões de vacinação, por exemplo.
Se as informações prestadas por Cid forem confirmadas pela investigação, ele pode receber benefícios como a redução da pena e o cumprimento de condenações em regime aberto, por exemplo.