Probabilidade de impacto, locais da possível queda, risco para o Brasil: tudo sobre o asteroide 2024 YR4


Objeto vem sendo acompanhado desde sua descoberta, em 27 de dezembro de 2024, em Rio Hurtado, no Chile. Saiba mais sobre ele. O asteroide 2024 YR4 visto em 27 de janeiro de 2025.
NASA/Magdalena Ridge 2.4M Telescope
Daqui a aproximadamente sete anos, em 22 de dezembro de 2032, um asteroide recém-descoberto poderá se aproximar da Terra e, caso sua trajetória se mantenha, ele pode colidir com o nosso planeta.
Mas as chances disso acontecer estão cada vez menores. Na quinta-feira (20), a Nasa, a agência espacial norte-americana, anunciou que a probabilidade de um impacto do 2024 YR4 com a Terra caiu para 0,28%.
Ou seja, a chance de o objeto passar por aqui sem causar danos subiu bastante, para 99,72%, mais precisamente. Já a chance de um impacto passou a ser de 1 em 370.
Em outras palavras, dá para dizer que a probabilidade de um choque é bem baixa.
No entanto, isso não significa que o risco foi descartado. Entenda mais abaixo em 10 tópicos.
O que é o asteroide
Qual o seu tamanho
É certo que ele vai atingir a Terra?
Qual seria o tamanho do dano?
Como o 2024 YR4 se compara a outros asteroides?
E os locais da possível queda?
Há risco para o Brasil?
Como se calcula a chance de um asteroide atingir a Terra?
Por que a chance de impacto está mudando com tanta frequência?
Seria possível desviar o asteroide?
O que é um asteroide?
1. O que é o asteroide
O 2024 YR4 é um corpo celeste rochoso que vem sendo acompanhado desde sua descoberta, em 27 de dezembro de 2024, em Rio Hurtado, no Chile.
Logo após ser identificado, sistemas automáticos analisaram sua trajetória e estimaram a probabilidade de impacto, que, a princípio, era considerada extremamente baixa.
No entanto, dias depois, um sistema de monitoramento de impactos da Nasa identificou uma possibilidade maior de que o asteroide pudesse colidir com o nosso planeta em 22 de dezembro de 2032.
Mas, como é comum em casos do tipo, sua órbita só pôde ser calculada de forma aproximada, e à medida que novas observações foram feitas, ela foi sendo mais bem definida.
Agora, a região de incerteza sobre a posição do asteroide em 2032 se reduziu consideravelmente, mas o nosso planeta ainda está dentro da faixa de possíveis trajetórias.
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Ilustração da Nasa representa um asteroide no espaço.
Nasa/Divulgação
2. Qual o seu tamanho
O 2024 YR4 tem entre 40 e 90 metros de diâmetro.
Essa estimativa é baseada no brilho que o asteroide reflete, também conhecido como “magnitude absoluta”.
O problema é que os asteroides têm superfícies muito diferentes: alguns são mais escuros, outros mais brilhantes e por aí vai. Com isso, a quantidade de luz refletida por astros do tipo varia conforme essa sua composição e a cor da superfície, o que por sua vez altera os cálculos de tamanho.
Assim, sem observações mais detalhadas, como imagens em infravermelho, por radar ou de uma sonda que se aproxime mais dele, os astrônomos ainda não conseguem determinar o seu tamanho exato.
Contudo, a título de comparação, seu 90 metros é algo bem menor do que o do asteroide que atingiu a Terra há 66 milhões de anos e causou a extinção dos dinossauros. Esse tinha cerca de 10 quilômetros de diâmetro e foi o maior asteroide já registrado a colidir com nosso planeta.
3. É certo que ele vai atingir a Terra?
Atualmente, a chance de o asteroide 2024 YR4 colidir com a Terra em 22 de dezembro de 2032 é muito pequena. Segundo a própria Nasa, medida que mais observações vão sendo feitas e esses dados são incorporados aos cálculos da sua órbita, é provável que essa probabilidade caia para ZERO.
Até a noite da última quarta-feira (19), por exemplo, esses cálculos da agência indicavam um risco de 3,1%, o maior já registrado para um asteroide desse porte.
No entanto, novas observações feitas entre os dias 19 e 20 de fevereiro permitiram refinar sua trajetória.
Com isso, a chance de impacto caiu para 0,28% (1 chance em 370).
Isso significa que a probabilidade de o objeto passar SEM causar danos também é de 99.72%.
De acordo com a Nasa, novas observações que estão sendo feitas pelo supertelescópio James Webb devem fornecer uma medição mais precisa. Além disso, depois de abril de 2025, o asteroide estará tão distante que será impossível detectá-lo com telescópios na Terra.
Assim, novas atualizações só serão possíveis em 2028, quando o asteroide se aproximar novamente da Terra (a cerca de 20 vezes a distância da Terra entre a Lua) e se tornar visível o suficiente para ser observado.
Imagens do 2024 YR4.
ATLAS/Via Nasa
4. Qual seria o tamanho do dano?
Caso o 2024 YR4 colida com a Terra em 2032, ele atingirá o planeta a uma velocidade impressionante, cerca de 17 quilômetros por segundo. No entanto, o tipo de dano que ele causaria depende bastante do seu tamanho e composição, que ainda não são totalmente conhecidos.
Em um cenário mais provável, o asteroide poderia explodir no ar, o que é chamado tecnicamente de “airburst”. Se isso acontecesse sobre o oceano, os modelos da Nasa sugerem que ele não seria capaz de gerar tsunamis significativos, nem em alto-mar nem perto de faixas costeiras.
Porém, caso a colisão ocorra sobre uma área com grande população, o impacto seria mais perceptível.
Se o asteroide tiver entre 40 e 60 metros de diâmetro, ele poderá causar danos menores, como o estilhaçamento de vidros. Já um asteroide maior, de cerca de 90 metros, poderá causar danos bem mais graves, com destruição de casas e danos em áreas muito mais amplas.
5. Como o 2024 YR4 se compara a outros asteroides?
Ele é semelhante em tamanho ao asteroide que causou a famosa explosão de Tunguska, em 1908, na Sibéria, que tinha entre 50 e 80 metros.
Ambos, porém, são significativamente maiores que o asteroide que explodiu em Chelyabinsk, na Rússia, em 2013, cuja dimensão foi de cerca de 17 a 20 metros, e o 2009 Sulawesi, que tinha apenas 5 a 10 metros quando caiu na Indonésia.
Para contextualizar, um Boeing 747, cujas asas têm 65 metros de comprimento, seria do mesmo tamanho ou até um pouco maior que o 2024 YR4.
Como o 2024 YR4 se compara a outros asteroides e um Boeing.
Wikimedia/Domínio Público
6. E os locais de possível queda?
Segundo o Centro para Estudos de Objetos Próximos à Terra (CNEOS) da Nasa, no caso de um possível impacto do asteroide, o evento ocorreria ao longo de um corredor de risco que se estenderia por várias regiões do globo. Este corredor incluiria:
O Ieste do Oceano Pacífico
O norte da América do Sul
O oceano Atlântico
A África
O Mar Arábico
E o sul da Ásia
Essas, porém, eram as estimativas do CNEOS até o final de janeiro. No entanto, com a mudança significativa nas chances de impacto com a Terra em 2032, a probabilidade atual foi reduzida para 0,28% e deve continuar a diminuir até praticamente zero.
No entanto, a possibilidade de colisão com a Lua ainda está em aberto, com a chance de impacto lunar subindo para 1%, segundo a Nasa.
Embora essa seja uma chance remota, ainda é algo a se considerar.
O mais provável, no entanto, é que o asteroide passe entre a Terra e a Lua em 2032.
7. Há risco para o Brasil?
Novamente, considerando os cálculos mais recentes, a chance de colisão tem se mostrado cada vez menor.
Ao g1, um cientista de um programa da Nasa confirmou que, no início deste mês, havia uma previsão de que, caso o impacto ocorresse, o asteroide poderia atingir uma faixa ao norte do Brasil, abrangendo os estados de Roraima e Amapá.
O mapa que indicava essa área de risco, entretanto, NÃO é mais válido, justamente por causa dos dados mais recentes que alteraram a trajetória prevista.
Além disso, o local exato da colisão dependeria da rotação da Terra no momento do impacto.
8. Como se calcula a chance de um asteroide atingir a Terra?
Para saber se um asteroide pode representar algum risco, cientistas de diferentes instituições monitoram constantemente esses objetos com telescópios espalhados pelo mundo.
A Nasa, por exemplo, mantém programas para procurar asteroides ainda desconhecidos e acompanhar aqueles que podem passar perto do nosso planeta. Isso é feito a todo momento por observatórios especializados, que coletam dados sobre a posição e o movimento desses corpos celestes.
Com essas informações, os cientistas analisam a trajetória do asteroide e usam modelos computacionais para prever como ele pode se mover nos próximos anos ou até mesmo décadas.
São esses cálculos que ajudam a entender o risco de aproximação ou impacto, permitindo atualizações conforme novos dados são obtidos.
Por isso, os astrônomos conseguem prever com precisão a trajetória não apenas do 2024 YR4, mas também de muitos outros asteroides que passam perto da Terra, conhecidos como Asteroides Próximos da Terra (NEO, na sigla em inglês).
Os NEO são objetos que têm órbitas que, justamente, passam perto da Terra. Eles são classificados da seguinte forma, de acordo com o comportamento médio de suas órbitas:
Amors: não cruzam a órbita da Terra – ficam a todo tempo além do ponto mais distante da Terra.
Apollos: são mais distantes do Sol que a Terra, mas chegam mais perto do sol que o ponto mais distante da órbita da Terra. O 7335 (1989 JA) é um Apollo.
Atiras: são internos à órbita da Terra. Ou seja, não a cruzam.
Atens: são uma espécie de oposto do Apollos, pois ficam mais perto do Sol que a Terra, mas chegam na “região” da orbita da Terra (o ponto mais distante da orbita deles é mais distante do Sol que o mais proximo da Terra).
Veja a ilustração abaixo para entender melhor.
Tipos de asteroides e cometas próximos à Terra.
CNEOS/JPL/NASA
9. Por que a chance de impacto está mudando com tanta frequência?
Segundo a Nasa , isso acontece porque o estudo de asteroides é um processo contínuo e em constante evolução.
À medida que mais observações sobre o asteroide 2024 YR4 são feitas, os cientistas conseguem entender melhor o seu movimento e, assim, atualizar as previsões sobre a possibilidade de impacto.
Esse é um exemplo de como a ciência de defesa planetária funciona na prática. Ou seja, cada novo dado coletado ajuda a refinar os cálculos, tornando as estimativas mais precisas. A cada nova análise, a probabilidade é recalculada e, caso seja necessário, atualizada no sistema Sentry, uma página da Nasa que mostra o risco de asteroides para a Terra.
10. Seria possível desviar o asteroide?
Ainda de acordo com a agência espacial, uma das opções para desviar asteroides, como o 2024 YR4, seria usar uma técnica chamada impacto cinético, similar ao que foi feito com a missão DART (sigla em inglês para Teste de Redirecionamento de Asteroide Duplo).
Em 2022, a missão desviou a trajetória de um asteroide a cerca de 11 milhões de quilômetros da Terra, pela primeira vez na história.
Essa técnica envolve o envio de uma sonda para colidir com o asteroide e mudar sua trajetória. Porém, o sucesso de uma estratégia como essa depende de várias variáveis, como o tamanho do asteroide, suas propriedades físicas, a sua órbita e o tempo disponível para reagir antes de um possível impacto.
No caso do 2024 YR4, a situação ainda está em análise.
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