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Pesquisa desenvolvida pela estudante de Biomedicina, Ana Lívia Oliveira Santos, mostrou potencial da cannabis no combate à periodontite. Pesquisadora realiza ensaio biológico in vitro no Laboratório de Ensaios Antimicrobianos
Uma pesquisa que teve início como projeto de iniciação científica em 2021, na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), demonstrou resultados positivos no tratamento de infecções bacterianas e inflamações gengivais por meio do uso da cannabis, popularmente conhecida como a “planta da maconha”.
O estudo desenvolvido no Laboratório de Ensaios Antimicrobianos (Lea/UFU) busca abordagens mais eficazes e menos agressivas para tratar as inflamações na gengiva.
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A iniciativa surgiu quando a estudante de Biomedicina, Ana Lívia Oliveira Santos, de 18 anos, desenvolveu interesse na disciplina de Produtos Naturais, que abordava a utilização de tratamentos naturais.
Após procurar o professor titular Carlos Henrique Martins, docente na disciplina de Microbiologia na universidade, Ana Lívia recebeu apoio e orientação para desenvolver a pesquisa focada no uso do canabidiol para o tratamento da periodontite.
Ana Lívia realizando experimento no Laboratório de Ensaios Antimicrobianos (LEA).
Universitária/Divulgação
🦷 A periodontite é uma infecção bacteriana grave da gengiva que pode levar à destruição do osso maxilar e a consequente perda do doente. A doença bucal também pode estar associada a problemas cardíacos.
“A pesquisa começou com um levantamento bibliográfico sobre as principais doenças infecciosas causadas por bactérias, com foco naquelas que apresentam resistência crescente aos antibióticos”, explicou Ana.
Ao g1, a pesquisadora disse ainda que os benefícios do estudo incluem novas opções de tratamento com menos efeitos colaterais. A pesquisa pode ser um beneficio espacialmente relevante para pessoas com dificuldade de acesso a cuidados odontológicos, ajudando a evitar complicações decorrentes de infecções bucais.
Além disso, ela defende que o tratamento contribui para a desconstrução de preconceitos em relação à cannabis, especialmente no Brasil, onde ainda existe resistência ao seu uso medicinal.
Desafios da pesquisa
Um dos principais desafios enfrentados durante a pesquisa foi justamente analisar o efeito do canabidiol (CBD) devido à restrição de acesso da substância química. Essa comparação exigiu um trabalho laboratorial detalhado para garantir que os resultados fossem clinicamente relevantes.
“Essa burocracia continua sendo um obstáculo, inclusive para a continuidade da pesquisa, já que obter novas amostras de CBD para dar sequência aos estudos é um processo lento e complexo. Mesmo diante dessas dificuldades, a pesquisa foi realizada com rigor e trouxe resultados que podem contribuir tanto para o desenvolvimento de novas terapias quanto para a quebra de estigmas sobre o uso medicinal da Cannabis”, disse a cientista.
Carlos Henrique espera superar a burocracia para obter amostras de CBD. Para isso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) emite uma AEP (Autorização para Ensino e Pesquisa), que permite o uso da planta. Através de parcerias público-privadas seria uma das alternativas para conseguir as amostras e aprofundar os estudos.
O orientador e coordenador do laboratório relembrou o que motivou o apoio à pesquisa “A gente fez o levantamento bibliográfico, eu gostei da ideia, até para desmitificar essa questão do uso do CBD, pois ainda existe uma resistência, ainda por parte da população, vamos tentar contribuir dando alguma informação diferente”, disse o professor.
Professor Carlos foi o orientador durante a pesquisa nos estudos para o tratamento da periodontite
Júlia Teixeira
Ciência e avanços na odontologia
Os resultados alcançados na pesquisa demonstraram que as bactérias responsáveis pela periodontite acabam sendo mortas pelo CBD, já o mecanismo de como a morte ocorre ainda não foi estudado.
O desafio agora é aprofundar os testes e buscar formas de aplicar a descoberta na prática. Como ver a segurança do CBD, sendo em testes humanos e em mamíferos, através do ensaio clínico, para verificar eventuais efeitos colaterais.
“Outro ponto será criar produtos específicos, como géis, enxaguantes bucais ou pastas de dente com CBD, para avaliar como ele pode ser aplicado no dia a dia [da higiene bucal]”, concluiu a estudante.
* Estagiário sob supervisão de Caroline Aleixo.
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