Sambista afirmou, em entrevista ao Fantástico, ser difícil não se emocionar em última apresentação na Sapucaí. Por isso, foi aconselhado a consultar uma psicóloga. Neguinho da Beija-Flor se despede da Sapucaí após 50 anos de samba
O grito de guerra do intérprete convoca as arquibancadas para o início do desfile. E, dessa vez, o anúncio “Olha a Beija-Flor aí, gente!” será o último na voz de Luiz Antonio Feliciano Neguinho da Beija-Flor Marcondes.
Aos 75 anos, Neguinho da Beija-Flor participa de seu último desfile. A decisão de se aposentar depois de 50 anos como intérprete da escola de samba Beija-Flor de Nilópolis pegou muita gente de surpresa.
Em conversa com a Maju Coutinho ele falou sobre todo o processo.
“Eu já estava amadurecendo essa ideia havia uns três anos”, diz o sambista.
“Eu tinha um substituto. Vinha preparando um menino, o Bakaninha, que teve uma fatalidade, um acidente de carro, e veio a falecer. A partida do Bakaninha me fez tomar essa decisão.”
Para o intérprete, o difícil será não se emocionar na Marquês de Sapucaí. “Fui aconselhado a consultar um psicólogo.”
“Você já tinha feito terapia na sua vida?”, pergunta Maju Coutinho. “Nunca”, responde Neguinho da Beija-Flor. “Estou trabalhando essa parte da minha parada com o carnaval, porque é difícil. O povo [fica] gritando: ‘Neguinho, Neguinho, fica, fica’.”
Maju pergunta se esses gritos fariam Neguinho ficar.
“Não, não, não. Hoje não dá para conciliar as duas coisas: a avenida e a minha carreira de viagens e shows.”
Neguinho da Beija-Flor diz que um intérprete de desfile é um maratonista. “Você tem que cantar uma hora e meia sem descanso — e repetindo a mesma música. É dificílimo.”
Maju lembra que, certa vez, Neguinho afirmou que trabalhar como intérprete causa um gosto de sangue na garganta.
“É! No meu caso, é assim. Porque a garganta fica igual ferro em brasa”, responde o sambista.
Neguinho da Beija-Flor se aposenta da Sapucaí.
Reprodução/TV Globo
Em 50 anos de história, são bodas de ouro entre o sambista e a Beija-Flor. “É um casamento”, diz Neguinho. “A Beija-Flor foi tudo na minha trajetória. Tive seis sambas de minha autoria na escola. Três campeões e mais um hino.”
Perguntado se há algo mais marcante nesses 50 anos, o intérprete lembra uma ocasião especial.
“Quando o príncipe Charles, hoje rei da Inglaterra, esteve no Brasil, o cantor era eu. E ninguém lembra!”, brinca.
“E qual desfile mais te tocou?”, pergunta Maju. “Primeiro, foi o ‘Sonhar com Rei dá Leão’. Mas o que me emocionou mesmo foi o ‘Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia’, do Cristo Mendigo”, responde Neguinho.
O sambista diz que não aceitaria a proposta de outra escola caso fosse convidado a suspender a aposentadoria na Sapucaí.
“Não, não, não. No caso, até se for empurrando o carro, ajudando na harmonia, é Beija-Flor sempre, Beija-Flor até o fim” declara.
“Sonho que isso não está acontecendo. Mas, com a colaboração da nossa psicóloga, nós vamos conseguir fazer um desfile sem se emocionar, sem chorar. E ela falou o seguinte: ‘Você escreve em um cartaz: ‘Obrigado!’.”
A gente é que agradece, Neguinho.
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