
Com quase cem anos, 88 teclas de marfim e uma história entrelaçada com a música brasileira, instrumento que pertenceu a Capiba, está sendo salvo dos cupins e das notas desafinadas. O piano de Capiba: a restauração do instrumento que marcou a história do frevo
O piano que ajudou a dar vida a algumas das mais icônicas composições do frevo está sendo restaurado. Com quase cem anos, 88 teclas de marfim e uma história entrelaçada com a música brasileira, o instrumento que pertenceu a Lourenço da Fonseca Barbosa, o Capiba, está sendo salvo dos cupins e das notas desafinadas.
Essa é apenas uma parte do trabalho de recuperação de um acervo valioso que inclui partituras, fotos e documentos históricos do compositor homenageado do carnaval de Pernambuco neste ano.
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Foi nesse piano onde Capiba fez suas maiores composições. Ele era um grande parceiro. Ele sempre sentava ao piano para compor. [Merece] muito cuidado, é um piano muito especial. A gente está falando de um dos maiores compositores não só de Pernambuco, mas do Brasil”, explica o musicólogo Lucas Guerra.
Responsável pela restauração, o técnico conhecido como Chico do Piano tem uma relação especial com o instrumento. Com 38 anos de experiência, ele era estagiário quando ajudou na manutenção desse mesmo piano na casa de Capiba.
Ele contou que Capiba era muito cuidadoso com o Piano, e fazia questão de manter o instrumento sempre afinado e polido.
“O piano de Capiba estava com polia, que é o cupim, comendo a madeira. Fizemos uma revisão na mecânica dele, trocamos molas, cadarços e fitilhos, e a regulagem e afinação”, contou.
Capiba, maior compositor de frevos da história
Reprodução/TV Globo
Capiba cresceu cercado pela música. Filho de um mestre de banda filarmônica e professor de música em Surubim, no Agreste pernambucano, ele aprendeu a tocar desde criança. Aos 16 anos, encontrou no piano um novo caminho: surgiu uma vaga para tocar durante as sessões de cinema mudo.
Ele, que nunca tinha tocado o instrumento antes, aprendeu algumas valsas e conseguiu o emprego. Ali começava uma parceria que renderia mais de 400 composições. Capiba compôs mais de cem frevos, mas sua obra não se limita ao ritmo do carnaval.
“Desde choro, xotes, baião e maracatu, ele foi um dos primeiros compositores a explorar o maracatu já na década de 1930”, explica Lucas Guerra.
Piano de Capiba sendo restaurado
Reprodução/TV Globo
O piano é apenas um dos itens do acervo que está sendo recuperado. Amaro Filho, responsável pelo projeto de preservação, conta que já foram higienizadas, acondicionadas e digitalizadas 930 partituras.
“Isso inclui maracatu, ciranda, foxtrote, música erudita. Estamos falando de um legado que não é apenas pernambucano. É a história da música brasileira”, afirma.
Além das partituras, cerca de três mil fotos que retratam momentos da vida de Capiba entre 1908 e 1997, ano de sua morte, também serão digitalizadas. “Capiba traduzia a alma do que é ser pernambucano e condensava isso nas suas composições”, destaca Lucas Guerra. “Ele sempre dizia que suas músicas vinham do povo. Ele ouvia e transformava em melodia”.
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