Safra recorde de grãos prevista para 2025 evidencia problema crônico de infraestrutura do Brasil


Faltam armazéns para 118 milhões de toneladas de grãos no Brasil. Essa é a previsão da Companhia Nacional de Abastecimento se a safra recorde deste ano se confirmar. Safra recorde evidencia problema crônico de infraestrutura
A safra recorde de grãos vai evidenciar mais uma vez um problema crônico de infraestrutura do Brasil.
A safra chegou com uma preocupação para o produtor rural Edemar Kraiesk: como ele não tem um silo para estocar os grãos, teve que vender tudo assim que colheu.
“Chegou a chuva, todo mundo, os agricultores plantaram tudo meio junto e daí na hora da colheita, deu aquele trupeu de máquina colhendo, falta de caminhão e daí você não achava caminhão e tivemos que colher em uma semana e faltou. Se eu tivesse um armazém próprio, era bem mais fácil”, conta.
Faltam armazéns para 118 milhões de toneladas de grãos no Brasil. Essa é a previsão da Companhia Nacional de Abastecimento se a safra recorde de 328 milhões de toneladas em 2025 se confirmar. A Confederação Nacional da Agricultura afirma que o setor precisa de mais financiamento e mais prazo para pagar.
“Seriam necessários investir cerca de R$ 15 bilhões por ano. Os programas destinados a crédito para colocar armazém no mercado preveem cerca de R$ 7,8 bilhões por ano. Ou seja, um pouco mais da metade do que seria necessário”, diz Elisangela Pereira Lopes, assessora técnica da Confederação de Agricultura e Pecuária.
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Sem um local para armazenamento, o produtor é forçado a negociar a safra de forma mais rápida em um período de maior oferta, e isso acaba diminuindo os ganhos do produtor. Uma propriedade tem um silo que está lotado de soja, e a colheita só vai ser negociada no momento mais oportuno. A média de produtividade lá é de 75 sacas por hectare; 25 mil sacas chegam a ficar armazenadas. Uma parte é negociada logo depois da colheita; outra parte espera o bom preço.
“A gente pode ficar esperando o momento mais oportuno para venda, e também o grão fica mais conservado. Então, não precisa tanto de transporte, que acaba prejudicando o grão”, explica a produtora rural Camilly Mazocco.
Safra recorde de grãos prevista para 2025 evidencia problema crônico de infraestrutura do Brasil
Jornal Nacional/ Reprodução
Com mais armazéns espalhados pelo país, o produtor não precisaria vender a safra no pico da colheita – quando o frete fica mais caro.
“O governo precisa ter um plano nacional de armazenagem, precisa ter um processo de financiamento mais específico e mais claro. O setor público precisa dar a estrutura e os recursos necessários para que o setor privado monte esta estrutura. Certamente, isso seria muito mais eficiente para as cadeias como um todo”, afirma Lucilio Alves, pesquisador da área de grãos do Cepea.
O plano da Conab é desativar armazéns que não estão sendo usados e fazer melhorias em quatro estados e no Distrito Federal (GO, MT, MS, MG, DF), aumentando a estocagem de 900 mil toneladas para 1,2 milhão de toneladas de grãos em geral.
“São nove armazéns que serão permutados com o BNDES, e 100% desse recurso se reverte em investimentos em mais oito unidades armazenadoras espalhadas pelo Brasil, especialmente na região Centro-Oeste, que vai, então, ampliar essa nossa capacidade em 33%. Também temos uma parceria com o setor privado que é muito potente. Nós, em 2023, tínhamos a capacidade nessa parceria com o setor privado de 1 milhão de toneladas e agora já estamos em 5 milhões de toneladas nesta parceria”, diz Edegar Pretto, diretor-presidente da Conab.
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