
Neste ano, a Rede Mato-grossense de Comunicação (RMC) completa 60 anos. Em comemoração à data, o g1 relembra as coberturas mais marcantes do acervo da rede. A maior enchente de Cuiabá aconteceu em 1974 e deixou milhares de desabrigados
A maior enchente registrada em Cuiabá até hoje, teve uma cobertura intensa feita pela TV Centro América, em 1974. À época, o assunto dominou a programação dos telejornais, que não só noticiou os danos, mas divulgou o momento de resgate da dignidade da população ribeirinha afetada pelas águas que invadiram suas casas. Por vários dias, o assunto foi manchete dos telejornais da Rede Mato-grossense de Comunicação (RMC), que, em 2025 completa 60 anos.
A história ocorrida há 51 anos foi resgatada pelo g1 e faz parte da série de reportagens em comemoração aos 60 anos da Rede Mato-grossense de Comunicação (RMC), que relembra grandes coberturas realizadas pela TV Centro América.
No dia 18 de março de 1974, o Rio Cuiabá atingiu a marca de 10,8 metros e deixou bairros alagados e milhares de desabrigados. Na época, a equipe da RMC ouviu relatos de antigos moradores dos bairros afetados, mostrando que as lembranças das enchentes daquele ano, não são somente águas passadas.
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A aposentada Liene da Silva e o servidor público aposentado Paulo Roberto dos Santos contaram como era morar na região antes da destruição feita pela força da água.
“Para nós, aquela era mais que uma comunidade, era uma irmandade”, comentou Liene.
“No bairro tínhamos clube de futebol, igrejas, escolas e até a melhor praia de Cuiabá, a praia de Seu Antônio Ribeiro, cheia de peixes”, relembrou Paulo.
A enchente destruiu não só o bairro Terceiro, conhecido hoje como Velho Terceiro, uma das regiões ribeirinhas do Rio Cuiabá, como também plantações, lavouras e animais que estavam próximos ao rio. O governo chegou a decretar a desapropriação da área devido ao risco de novos alagamentos.
A preocupação também alertou para o risco de doenças depois das enchentes. Esse episódio afetou não só Cuiabá, mas também Várzea Grande. Devido às chuvas, os jornais da época anunciavam que o bairro seria interditado, onde mais de 7 mil pessoas tiveram as casas desapropriadas e foram para abrigos e escolas da cidade, e até mesmo, para o Antigo Parque de Exposições de Várzea Grande.
Jornal da época da enchente do Rio Cuiabá em 1974
Reprodução
Os Bairros do Novo Terceiro e Grande Terceiro foram construídos para receberem a comunidade desabrigada atingida pela enchente. As famílias receberam indenizações e casas para morar, mas, de acordo com elas, não foram suficientes.
“As indenizações foram injustas. Meu pai tinha três casas e um terreno muito maior do que este que moramos agora. Na época, nos indenizaram com oitocentos mil cruzeiros”, lembrou Paulo.
O antigo morador do bairro, Basílio Barbosa de Oliveira, contou em entrevista exclusiva à TV Centro América que tinha 19 anos quando a tragédia aconteceu e ele, os pais e os irmãos tiveram que abandonar a casa que moravam há anos.
“Mexeram com a nossa moral e dignidade. Já tínhamos o costume de conviver com enchentes, mas nunca chegou a certo ponto, como aconteceu naquele ano e o que aconteceu na sequência foi uma tragédia”, relembrou.
🏗️Único lugar que resistiu à maior enchente
À esquerda, o Cais na beira do Rio Cuiabá em 1974 e à direita, o cais atualmente
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Após a enchente e desapropriação, o Cais na beira do Rio Cuiabá é o único lugar do Bairro Velho Terceiro que permanece até hoje com a mesma estrutura da época. O local virou símbolo do que um dia a comunidade viveu naquela região.
Outro morador contou que a plataforma recebia navios para embarque e desembarque de passageiros e carga de diversas cidades de dentro e fora do estado, como Corumbá (MS), durante o tempo de cheia do rio.
“A gente brincava quando criança embaixo do Cais. Me lembro que atracava navios de Corumbá e da Marinha, em tempos de cheia do rio”, contou um dos moradores da época.
‘Não é uma comemoração, mas uma saudade’
População afetada pela grande enchente do Rio Cuiabá em 1974
Arquivo TVCA
Após 50 anos da tragédia que afetou milhares de famílias ribeirinhas da capital, o escritor Antônio Soares Gomes escreveu o livro “Águas de Março” e lançou no ano de 2023, que relembrou os desafios vividos pela população cuiabana.
“Muita gente não conhece as desgraças, os malefícios que essa enchente trouxe para a população que viveu naquela época, que não queria sair dali e que foi arrancada de lá, não podemos romantizar isso”, relembrou.
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