Quem são Suni Williams e Butch Wilmore, astronautas que se preparam para voltar à Terra depois de 9 meses no espaço

Depois de passarem inesperadamente mais de 9 meses no espaço, Suni Williams e Butch Wilmore retornarão à Terra a bordo da cápsula SpaceX Dragon ancorada na ISS. Sunita “Suni” Williams e Barry “Butch” Wilmore começaram seu voo para o espaço em junho de 2024, a bordo de uma nave espacial experimental construída pela Boeing.
Eles esperavam permanecer a bordo da Estação Espacial Internacional (EEI) por oito dias.
A Boeing foi responsável pelo desenvolvimento da cápsula espacial para a Nasa. Ela recebeu o nome de Starliner. Este voo seria o primeiro com uma tripulação a bordo, mas logo surgiram os problemas.
Os propulsores que impulsionam a cápsula sofreram complicações e houve também escapes de gás hélio, que injeta combustível no sistema de propulsão.
Enquanto a Nasa analisava os problemas técnicos, o regresso dos dois astronautas começou a sofrer atrasos, mais de uma vez. Sem terem uma data definitiva, eles ficaram quase nove meses “ilhados” na estação espacial.
Embora inesperada, esta situação não se compara com a de Robinson Crusoé. Williams e Wilmore são astronautas experientes, com muitas horas de voo acumuladas.
E eles contam com todos os recursos de apoio da Nasa. Os dois afirmam que foram treinados para “esperar o inesperado”.
Os astronautas se dedicaram com entusiasmo a realizar pesquisas científicas e manutenção da EEI, como colaboram todos os visitantes que passam por lá.
Quem são eles?
Sunita “Suni” Williams tem 58 anos de idade. Filha de pai indiano e mãe eslovena, ela se formou em Ciências Físicas na Academia Naval dos Estados Unidos em 1987 e fez mestrado em Administração de Engenharia, no Instituto Tecnológico da Flórida (EUA).
A Nasa a selecionou como astronauta em 1998. Williams é veterana de duas missões espaciais, antes da sua passagem atual pela Estação Espacial Internacional.
Ela também trabalhou com a agência espacial russa Roscosmos, em Moscou, participando da colaboração da Rússia para a estação espacial.
Williams diversificou seus conhecimentos, trabalhando na divisão robótica. Ao todo, ela passou 322 dias no espaço, ao longo das suas duas missões anteriores.
A astronauta fez nove caminhadas espaciais – um recorde entre as mulheres. Ela é a segunda mulher astronauta com mais tempo acumulado em caminhadas espaciais (50 horas e 40 minutos).
Barry “Butch” Wilmore tem 61 anos. Ele possui licenciatura em Ciências e mestrado em Engenharia Elétrica pela Universidade Tecnológica do Tennessee, nos Estados Unidos, além de outro mestrado, em Sistemas de Aviação, pela Universidade do Tennessee.
Wilmore tem longa experiência militar, como oficial e piloto da Marinha americana. Ele tem mais de 8 mil horas de voo e 663 aterrissagens em navios porta-aviões.
A Nasa o selecionou como astronauta em julho de 2000. Hoje, ele é capitão da reserva da Marinha.
Butch é veterano de dois voos espaciais. Ele acumulou 178 dias no espaço, segundo a Nasa. Mas este número, como o de Williams, passará a ser muito maior quando for acrescentado o período decorrido durante sua viagem atual.
Na sua última missão, ele trabalhou como engenheiro de voo para a Expedição 41 e assumiu o comando da EEI durante a chegada da tripulação da Expedição 42.
Butch regressou à Terra em março de 2015. Durante aquela missão, ele acumulou 167 dias no espaço e realizou quatro caminhadas.
O que eles fizeram enquanto esperavam?
A maioria das missões espaciais dura cerca de seis meses. Por isso, passar mais de nove meses na EEI é algo bastante incomum, especialmente se considerarmos que deveriam ter sido apenas oito dias.
Mas tanto a Nasa, quanto os astronautas, estão preparados para qualquer eventualidade.
“É disso que se trata o voo espacial humano – planejar para as contingências inesperadas. E foi isso o que fizemos”, declarou Butch Wilmore, em entrevista transmitida ao vivo pela agência no último dia 4 de março.
A Nasa informou ter enviado dois voos de abastecimento para a EEI, com alimentos, água, roupas e oxigênio. Além disso, um novo grupo de astronautas se somou à tripulação da estação, sob as ordens do comandante Nick Hague.
Hague declarou, na entrevista de 4 de março, que a missão da estação espacial é “algo em que acreditamos profundamente”. Ele acrescentou que isso obriga a equipe a aceitar os riscos da exploração espacial.
Por outro lado, Williams e Wilmore se adaptaram bem à sua missão mais longa. Eles não ficaram de férias.
Os astronautas costumam ficar bastante atarefados, auxiliando no complexo funcionamento da estação. Suas tarefas incluíram o conserto de um banheiro com defeito.
Eles realizaram uma caminhada espacial juntos e levaram a cabo diversos experimentos científicos. Suas pesquisas incluem observar como as plantas crescem no espaço, monitorar como o corpo humano reage à falta de gravidade e até como cultivar alimentos.
Wilmore inicia sua rotina às 4h30 e Williams, às 6h30. Os dois também praticam duas horas ou mais de exercícios diários, o que é indispensável para combater a perda de densidade óssea que ocorre no espaço.
Consequências para a vida pessoal
Mesmo estando ocupados com todas as suas responsabilidades a bordo da EEI, Williams e Wilmore confessam que houve momentos desafiadores, principalmente em termos familiares.
Suni Williams conta que os acontecimentos foram uma espécie de “montanha-russa” para as famílias, frente à incerteza de quando eles regressariam. Ela comenta que isso foi o mais difícil.
Quando retornarem, os dois astronautas irão passar por um grande período de adaptação, como explicou à BBC o pesquisador Simeon Barber, da Universidade Aberta, no Reino Unido.
“Quando você é enviado para uma viagem de trabalho que se supõe que irá demorar uma semana, ninguém espera que ela dure boa parte de um ano”, destacou ele.
“Esta estadia prolongada no espaço terá interrompido a vida familiar e terão acontecido coisas nas suas casas que eles terão perdido, de forma que haverá um período de transtorno.”
Paralelamente, os astronautas reconhecem que irão sentir falta da vida no espaço.
Para Butch Wilmore, um dos aspectos da falta de gravidade é que ele não sente as dores e indisposições que surgem com o avanço da idade. “Suas articulações não doem, isso é muito bom”, declarou ele na entrevista.
Mas ele também comentou sobre a grande sensação de responsabilidade, como ocorre quando ele ajuda outro colega a colocar o traje para a caminhada espacial e, depois, abre a comporta para trazê-lo de volta para dentro. Ele conta que este é o momento de maior orgulho.
Por outro lado, Suni Williams afirmou que irá “sentir muita falta do espaço”. Ela descreveu como a viagem ofereceu uma “perspectiva incrível” sobre a Terra em particular, que ela gostaria de “engarrafar de alguma forma”, para trazê-la consigo.
“[A viagem] abre a porta para você pensar um pouco diferente”, destacou ela. “É o único planeta que temos e deveríamos cuidar dele.”
Williams também declarou que o momento mais emocionante foi observar a aurora do espaço. “O Sol tem estado muito ativo. Ele coloca você no seu lugar e você reconhece que o universo é extremamente poderoso.”
Ainda assim, os dois astronautas esperam ansiosamente sua volta para a Terra.
Depois de cerca de dois dias de transferência para a nova tripulação e se as condições climáticas na Terra forem favoráveis, Suni Williams, Butch Wilmore e outros dois astronautas da EEI regressarão a bordo da cápsula Dragon, da SpaceX.
“Vamos voltar para casa, navegar pelo plasma e cair mergulhando no oceano”, destaca Wilmore. “É isso que estamos ansiosos para fazer.”
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