
Aluna relatou que professor passava álcool na agulha entre um aluno e outro. Atividade não teve autorização dos pais. Teste de sangue em escola em Laranja da Terra vira caso de polícia
Uma aluna de 16 anos que participou de uma das aulas em que estudantes tiveram dedos furados com uma lanceta compartilhada no Espírito Santo disse que os alunos aceitaram participar do experimento porque confiavam no professor. Lancetas são pequenas agulhas finas de aço estéreis e de uso único. O caso aconteceu na última sexta-feira (14) em Laranja da Terra, na região Serrana do estado.
“Era mais uma aula, só que a gente não sabia direito o que ia acontecer, ele explicou tudo na hora ‘olha, a gente, eu vou furar o dedo pra vocês verem no microscópio como que é o sangue de vocês’ e, no momento assim, a gente pensou ‘ele é professor, ele sabe o que está fazendo’.”
A adolescente conversou com a reportagem na presença da mãe, que autorizou a entrevista. Elas não terão as identidades reveladas. O nome da escola também não será divulgado.
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A adolescente contou que o professor passava álcool na agulha entre um aluno e outro.
“Como ele tava limpando com álcool, a gente, no calor do momento, a gente acreditou que tava tudo bem”, disse a aluna.
Médicos ouvidos pelo g1 ressaltaram que a limpeza de objetos com álcool não é um procedimento correto. Agulhas e outros itens perfurocortantes que entraram em contato com sangue e secreções precisam ser descartados após o uso ou, em casos específicos, serem esterilizados em equipamentos apropriados.
Segundo a aluna, os alunos ó deram conta da real dimensão do problema quando foram convocados pela escola para uma conversa.
“A gente foi convocado, no final da aula. Uma outra professora começou a explicar a situação falando que ele tinha errado e ela foi dando as orientações. Todo mundo ficou assim, bem chateado, muitas pessoas ficaram com raiva do professor, foi um caos na sala, foi difícil controlar todo mundo”, contou.
A estudante disse que ela e os colegas imaginaram que a escola sabia da atividade.
“Todas as atividades práticas que os professores passam para os alunos, sempre é passado para a equipe da escola, eles aprovam ou não. Então, na cabeça de muitos, foi o que, foi aprovado, tá tudo certo”
Ela também contou que alunos de quatro turmas passaram pela atividade entre os dias 7 e 14 de março. A mãe da adolescente afirmou que soube do caso pela filha e depois pelos outros pais, quando todos se encontraram no hospital. Ela também questionou a responsabilidade do professor e da escola.
“A minha indignação é que eu não sei como um professor faz um procedimento desse com quatro turmas sem mais gente da escola saber. Eu não sei se eles não sabiam. A minha filha disse que duas pessoas, uma pedagoga e uma orientadora, estiveram na sala na hora do teste. Chegaram a interagir com ele, uma delas disse que até queria fazer também. […] Tem câmera dentro desse laboratório, é só olhar que vai mostrar se foi isso mesmo”, falou a mãe.
Em novo posicionamento divulgado nesta terça-feira (18), a Secretaria de Estado da Educação disse que a atividade foi realizada “sem a devida autorização da coordenação pedagógica”.
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Unidade de Saúde de Laranja da Terra. Espírito Santo.
TV Gazeta
180 dias de acompanhamento
A mãe da adolescente ouvida na pela reportagem contou que foi feita uma reunião com os pais dos alunos envolvidos. Eles foram informados que os estudantes serão acompanhados e farão exames por 180 dias.
“Foi informado para os familiares que os primeiros testes-rápidos feitos na sexta-feira deram todos negativo. Hoje foi feita a coleta de sangue, depois de 30 dias vai coletar de novo. E vai ter que ir acompanhando e colhendo novamente se precisar até chegar a 180 dias. Agora as amostras vão até para o laboratório em Vitória, o Lacen. […] Eles falam pra gente ficar tranquilo, mas não tem como, olha essa situação?!”, questionou.
Entenda o caso
Quarenta e quatro alunos de uma escola estadual de Laranja da Terra, na Região Serrana do Espírito Santo, compartilharam a mesma agulha para coletar sangue em atividade prática em sala de aula sobre como descobrir o tipo sanguíneo. Os alunos foram encaminhados ao hospital para fazer exames médicos e descartar eventuais infecções. O caso ocorreu na última sexta-feira (14).
Os alunos pertencem a turmas de 2ª e 3ª séries do Ensino Médio e têm idades entre 16 e 17 anos. O professor de Química responsável pela aula foi demitido e o caso foi encaminhado para a corregedoria da Secretaria de Estado da Educação (Sedu). Segundo a secretaria, a atividade foi realizada sem a devida autorização da coordenação pedagógica.
Médicos destacam que o uso compartilhado de seringas e agulhas é um comportamento de alto risco para contrair doenças infecciosas como HIV e hepatite B e C.
O que dizem as autoridades
Em novo posicionamento divulgado nesta terça-feira (18), a Sedu informou que testes complementares para chegar a imunidade contra hepatite B e C foram realizados nesta terça (18), e que os alunos estão bem e frequentando as aulas normalmente. Disse ainda que a atividade foi realizada “sem a devida autorização da coordenação pedagógica”.
Para garantir o acompanhamento adequado dos estudantes, a Secretaria Municipal de Saúde (Semus) e a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) realizaram uma reunião para definir os protocolos a serem seguidos. Os alunos serão submetidos a novos testes em 30 dias.
Além disso, a escola promoveu um encontro com pais e alunos, contando com a presença da Semus, para prestar esclarecimentos.
Os estudantes das 2ª e 3ª séries do Ensino Médio, com idades entre 16 e 17 anos, participavam de uma aula de Práticas Experimentais em Ciências sobre observação de células sanguíneas, ministrada por um professor de Química. No entanto, a atividade foi realizada sem a devida autorização da coordenação pedagógica.
Assim que a Sedu tomou conhecimento do ocorrido, todas as medidas necessárias foram imediatamente adotadas.
Nesta terça-feira (18), a Sedu informou que 44 alunos teriam passado por testes, enquanto a Semus mantém a informação de que são 43, como divulgado inicialmente. O g1 questionou as duas secretarias sobre a divergência, mas a diferença não foi esclarecida.
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