
Danos da mudança climática podem se tornar irreversíveis, segundo levantamento da Organização Meteorológica Mundial. Duas pessoas caminham sobre placas de gelo, com algumas áreas derretidas em uma região do Ártico.
NASA/Kathryn Hansen
Os níveis recordes de gases de efeito estufa elevaram as temperaturas a um recorde histórico em 2024, com consequências alarmantes para os oceanos que poderão durar milênios, de acordo com cientistas e a Organização Meteorológica Mundial (OMM).
As temperaturas médias anuais ficaram 1,55 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais no ano passado, superando o recorde anterior de 2023 em 0,1ºC, informou a OMM em seu relatório climático anual.
Este aumento acelerou drasticamente a perda de geleiras e gelo marinho, elevando o nível do mar e aproximando o mundo do limite de 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris.
Projeções climáticas também indicam que o aquecimento dos oceanos continuará por pelo menos o resto do século XXI, mesmo em cenários de baixas emissões de carbono.
Outro dado mais preocupante ainda é que essas mudanças são consideradas irreversíveis em escalas de tempo que vão de séculos a milênios.
E a acidificação dos oceanos também continuará aumentando ao longo do século XXI, em taxas que dependem das futuras emissões. Segundo a Onu, as alterações no pH das águas profundas são especialmente alarmantes, sendo irreversíveis em escalas de tempo centenárias a milenares.
E estimativas preliminares já colocam o atual aumento médio de longo prazo entre 1,34 e 1,41°C, aproximando-se do limite de Paris, mas ainda não o ultrapassando, disse a OMM.
“Um aspecto a ser destacado com muita clareza é que um único ano acima de 1,5 grau não significa que o nível mencionado no Acordo de Paris tenha sido formalmente ultrapassado”, disse John Kennedy, coordenador científico da OMM e principal autor do relatório.
Mas as faixas de incerteza nos dados significam que isso não pode ser descartado, afirmou ele em entrevista.
O relatório informa que outros fatores também podem ter impulsionado o aumento da temperatura global no ano passado, incluindo mudanças no ciclo solar, uma erupção vulcânica maciça e uma diminuição nos aerossóis de resfriamento.
Embora um pequeno número de regiões tenha visto as temperaturas caírem, o clima extremo causou estragos em todo o mundo, com secas causando escassez de alimentos e inundações e incêndios florestais forçando o deslocamento de 800.000 pessoas, o maior número desde que os registros começaram em 2008.
O calor dos oceanos também atingiu o nível mais alto já registrado e a taxa de aquecimento está se acelerando, com o aumento das concentrações de CO2 nos oceanos também elevando os níveis de acidificação.
As geleiras e o gelo marinho continuaram a derreter em um ritmo acelerado, o que, por sua vez, elevou o nível do mar a um novo patamar. De 2015 a 2024, o nível do mar aumentou em uma média de 4,7 milímetros por ano, em comparação com 2,1 mm de 1993 a 2002, segundo dados da OMM.
Kennedy também alertou sobre as implicações de longo prazo do derretimento do gelo nas regiões do Ártico e da Antártida.
“As mudanças nessas regiões podem afetar o tipo de circulação geral dos oceanos, que afeta o clima em todo o mundo”, disse ele. “O que acontece nos polos não necessariamente permanece nos polos.”