Observatório Internacional lança relatório sobre informação e democracia

Pesquisa concluiu que há poucos dados disponíveis sobre o problema da desinformação, principalmente devido à falta de transparência das grandes plataformas digitais. Foi apresentado nesta quarta-feira (19), no Rio de Janeiro, o primeiro relatório global do Observatório Internacional de Informação e Democracia, que analisa os impactos e desafios da informação na era digital. O documento reúne estudos de mais de 60 especialistas de diferentes países, que revisaram mais de 3 mil artigos científicos e relatórios técnicos sobre o tema.
A pesquisa concluiu que há poucos dados disponíveis sobre o problema da desinformação, principalmente devido à falta de transparência das grandes plataformas digitais.
“As empresas que operam nas plataformas digitais, como redes sociais, estão cada vez menos transparentes. Elas não deixam os pesquisadores coletarem dados”, afirma Marie Santini, diretora e fundadora do Netlab UFRJ.
A desinformação e seus impactos
O relatório destaca que a desinformação não se limita a informações falsas: a intenção por trás da mensagem é um fator determinante.
“São falsas narrativas que têm a intenção de agredir, atingir um opositor no debate político ou uma questão social”, explica Camille Granier, diretor-executivo do Fórum sobre Informação e Democracia.
O documento chega em um momento crítico. Recentemente, a Meta, empresa dona do Facebook e Instagram, suspendeu a checagem de informações nos Estados Unidos. Além disso, o Fórum Econômico Mundial apontou a desinformação como uma das maiores ameaças globais para os próximos dois anos.
O papel da inteligência artificial e das big techs
Entre os temas abordados no relatório, estão a inteligência artificial, o poder das big techs, o combate à desinformação e os caminhos para a justiça de dados.
No que diz respeito à inteligência artificial, a falta de transparência se torna ainda mais grave. O relatório alerta que muitos usuários concordam com políticas de privacidade sem entender como seus dados serão usados para treinar IAs.
Nos países da América Latina, incluindo o Brasil, o acesso a dados é ainda mais restrito, dificultando a criação de políticas públicas eficazes para enfrentar o problema.
“Nós precisamos de dados e evidências para diagnosticar esse problema corretamente. Assim, evitamos que ele seja capturado por questões ideológicas e podemos desenvolver políticas e regulamentações eficazes”, afirma Marie Santini.
O desafio da regulação
O relatório também destaca a necessidade de aprimorar mecanismos de regulação das redes sociais. No Brasil, o Supremo Tribunal Federal (STF) está discutindo possíveis mudanças no Marco Civil da Internet, especialmente no artigo 19, que prevê que as plataformas só são obrigadas a retirar conteúdos mediante ordem judicial.
“O artigo 19 ainda funciona bem para startups e plataformas menores, mas claramente não é adequado para regular os gigantes da internet”, explica Luca Belli, diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV-Rio e membro do Observatório Internacional de Informação e Democracia.
O direito à informação de qualidade
O relatório reforça que a desinformação pode comprometer a liberdade individual e o direito à informação.
“A manipulação pode ocorrer por meio de notícias falsas, mas também pela forma como os aplicativos são estruturados para induzir certos comportamentos. Queremos garantir que a sociedade não seja manipulada e que as pessoas tenham direito à informação de qualidade”, conclui Marie Santini..
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