Empresária filma filhote de ouriço-cacheiro em Camaragibe, Pernambuco


Animal costuma ficar nas árvores e dificilmente é visto. Pelagem creme é característica comum no começo da vida do mamífero. Vídeo mostra filhote de ouriço-cacheiro em Camaragibe (PE)
Em um vídeo gravado pela empresária Egline Nely Alencar na última segunda-feira (15), no município de Camaragibe (PE), um filhote curioso e diferente aparece caminhando lentamente. O animal, até então desconhecido por ela, chamou a atenção.
“Eu moro aqui em Aldeia, que é uma área fora da cidade, mais afastada e com muita mata. No caminho do meu condomínio tem um riachinho que passa e foi ali que eu vi”, relembra ela.
O animal flagrado pela empresária é um filhote de ouriço-cacheiro, da espécie Coendou prehensilis. Vive exclusivamente na Mata Atlântica nordestina, nos estados de Pernambuco, Alagoas, Paraíba e ao sul do Rio Grande do Norte.
“Estava de carro, passando devagarzinho, porque sempre tem bichinho, tem preguiça, tem sagui, e aí eu vi aquele bichinho. Ele não tava ferido, não tava machucado, então eu acho que ele saiu caminhando e depois, quando voltei, já tinha ido embora”, conta.
Ouriço-cacheiro da espécie ‘Coendou prehensilis’ fotografado a Floresta Nacional da Restinga de Cabedelo, na Paraíba
Nely Ficher
De acordo com o biólogo especialista em mamíferos Fernando Heberson Menezes, pouco se sabe sobre o desenvolvimento dessa espécie, mas a pelagem creme comprova que se trata de um recém-nascido.
“Esse é um registro raro, lindo e muito maravilhoso, não é comum ver filhotes de cuandus, pois geralmente ficam bem escondidos no alto das árvores aguardando a mãe retornar”, comenta.
Cuandus, segundo Fernando, é o nome pelo qual os povos originários e comunidades tradicionais chamam o ouriço-cacheiro, nome criado pelos colonizadores portugueses. Há ainda o termo popular de porco-espinho.
Mata Ciliar recebe filhote de ouriço-cacheiro resgatado em área rural de Itatiba. Essa é uma espécie diferente da vista em Pernambuco.
Associação Mata Ciliar de Jundiaí/Divulgação
No total, existem 16 espécies do gênero Coendou, distribuídas da região tropical e subtropical das Américas, das quais 11 têm ocorrência conhecida para o Brasil.
Apesar de ser apenas um filhote, o ouriço-cacheiro filmado por Eglide já possui espinhos. “Eles ficam escondidos nos pelos, mas também servem para proteção. Não são espinhos tão rígidos ou farpados quanto os de animais adultos, mas já ajudam. Entretanto, a principal estratégia é se manter escondido na árvore, longe do alcance dos predadores”, esclarece o mastozoólogo que realiza um trabalho de divulgação científica nas redes sociais através da página “Projeto Incisivos”.
Os principais predadores naturais dos cuandus são aves de rapina, como a harpia e mamíferos maiores como as jaguatiricas.
Em ambientes urbanos, esses animais também são vítimas de cães domésticos. Em conflitos com eles, de acordo com o pesquisador, costumam levar a morte do ouriço, que foge ferido e sem cuidados veterinários, e deixa o cachorro com graves ferimentos devido aos espinhos.
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A espécie
Quando adultos, ouriços-cacheiros da espécie Coendou prehensilis pesam quase 3 kg e medem pouco mais de 75 centímetros de comprimento, somando corpo e cauda. Eles também ganham uma coloração amarelo-escura, com traços castanhos.
Desinformação é a principal ameaça ao ouriço-cacheiro: vizinhos queriam capturar o animal
Nayra Avinte Vieira/VC no TG
São animais herbívoros que se alimentam de folhas, flores, frutos e até têm o hábito de mastigar cascas de árvores. Infelizmente, a espécie está categorizada como Quase Ameaçada (NT – Near threatened) pelo ICMBio.
“Ela tem uma distribuição restrita ao que chamamos Centro de Endemismo de Pernambuco, uma região de Mata Atlântica que já perdeu mais de 90% de sua área original, o que significa que muito do ambiente desta espécie não existe mais”, finaliza o pesquisador.
Para Egline, ter a oportunidade de ver bem de perto um animal tão diferente foi muito especial. “Foi muito emocionante, não sei nem explicar! Amo a natureza, fico horas no meu jardim. Ver um animalzinho assim tão diferente foi incrível”.
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