
Na sexta-feira (14), Ebrahim Rasool foi declarado “persona non grata” pelo chefe da diplomacia americana e o governo dos Estados Unidos deu a ele um prazo de 72 horas para deixar o país. O embaixador expulso da África do Sul, Ebrahim Rasool, fala com apoiadores após sua chegada, na Cidade do Cabo, na África do Sul, domingo, 23 de março de 2025.
AP/Nardus Engelbrecht
O embaixador sul-africano em Washington, Ebrahim Rasool, foi recebido na sua cidade natal, a Cidade do Cabo, na África, por centenas de apoiadores neste domingo (23). Na última sexta-feira (14), Rasool foi declarado “persona non grata” pelo chefe da diplomacia americana e o governo dos Estados Unidos deu a ele um prazo de 72 horas para deixar o país.
Multidões no Aeroporto Internacional da Cidade do Cabo cercaram Ebrahim Rasool e sua esposa Rosieda que chegavam ao terminal de desembarque. Eles, inclusive, precisaram de escolta policial para atravessar o prédio.
“Uma declaração de persona non grata tem o objetivo de humilhar vocês”, Rasool disse aos apoiadores enquanto se dirigia a eles com um megafone, seguindo a AP. “Mas quando vocês retornam a multidões como essa, e com calor… como essa, então eu usarei minha persona non grata como um distintivo de dignidade.”
“Não foi nossa escolha voltar para casa, mas voltamos sem arrependimentos”, completou.
Rasool disse também que era importante para a África do Sul consertar seu relacionamento com os EUA depois que o presidente Donald Trump puniu o país e o acusou de adotar uma postura antiamericana antes mesmo da decisão de expulsá-lo, de acordo com a AP.
“Não viemos aqui para dizer que somos antiamericanos”, disse Rasool à multidão. “Não estamos aqui para pedir que vocês joguem fora nossos interesses com os Estados Unidos”.
A expulsão
Ao anunciar a expulsão do embaixador sul-africano, o secretário de Estado, Marco Rubio, compartilhou um texto do site Breitbart, conhecido por seu alinhamento com o governo Trump.
A reportagem cita que o embaixador da África do Sul afirmou que o presidente dos Estados Unidos está liderando um movimento de supremacia branca.
Ainda em uma publicação na rede social X, Rubio acusou o embaixador sul-africano de ser um “político racista que odeia os Estados Unidos e Donald Trump” e que ele “explora questões raciais”.
“O embaixador da África do Sul nos Estados Unidos não é mais bem-vindo no nosso grande país”, escreveu Rubio. “Não temos nada a discutir com ele e, por isso, ele é considerado PERSONA NON GRATA.”
A África do Sul está particularmente no alvo de Washington desde o retorno de Trump, que acusa o país de tratar de forma “injusta” os descendentes de colonos europeus e o ataca por sua denúncia de genocídio contra Israel na Corte Internacional de Justiça.
A presidência sul-africana chamou a expulsão de “lamentável” e o ministro das Relações Exteriores descreveu como “sem precedentes” em uma entrevista ao canal de notícias da televisão pública SABC.
“No âmbito das relações diplomáticas normais, deveria ter sido feita uma aproximação do embaixador para que explicasse seus comentários”, destacou.
Entenda mais
A crise nas relações entre os Estados Unidos e a África do Sul se acentuou no início de fevereiro, quando Trump resolveu cortar a assistência financeira ao país.
À época, o presidente americano afirmou que o governo sul-africano estava discriminando brancos ao desapropriar terras para cumprir uma lei que determinou uma reforma agrária no país.
A lei sul-africana pretende corrigir o desequilíbrio entre propriedades no país. Atualmente, dados apontam que os brancos possuem três quartos das terras agrícolas de propriedade plena da África do Sul. Por outro lado, os negros dominam apenas 4% dessas áreas, mesmo sendo 80% da população.
O bilionário Elon Musk, nascido na África do Sul e próximo de Trump, declarou que os sul-africanos brancos têm sido vítimas de “leis racistas de propriedade”.
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