“Se eu for falar o que mudou desde aquele dia pra agora, eu falaria que tudo”, diz filha de médico que morreu de Covid-19 em 2020


Primeira morte pela doença no Alto Tietê completa cinco anos nesta segunda-feira (24). Naquele ano, Fernanda Harada, perdeu o pai Ricardo Baltazar Harada. Fernanda e o pai Ricardo Harada sonhavam em trabalhar juntos
Fernanda Harada/Arquivo Pessoal
A primeira morte por Covid-19 no Alto Tietê completa cinco anos nesta segunda-feira (24). Depois daquele 24 de março, mais 1,7 mil pessoas morreram em 2020 pela doença na região. Entre elas, estava o pai de Fernanda Harada, Ricardo Baltazar Harada.
Ele morreu aos 51 anos e era médico, mesma profissão escolhida para ser seguida pela filha, que agora está no quinto ano da universidade de medicina. Ela passou no vestibular no mesmo ano em que o pai morreu, mas muita coisa mudou desde então.
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“Se eu for falar o que mudou desde aquele dia pra agora, eu falaria que tudo. Nada ficou igual, também por conta da faculdade, mas, principalmente, por conta do meu pai. O que eu vou fazer no fim de semana que a gente costumava sair? O que eu vou fazer durante a semana mesmo, que a gente tava ali conversando? Putz, se ele estivesse aqui, a gente poderia conversar, poderia seria muito mais fácil. Seria muito mais leve e muito mais legal, muito mais proveitoso, porque a gente teria essas discussões, essas trocas de experiência.”
Fernanda conta que, até hoje, quando encontra amigos e conhecidos do pai, muitas pessoas relembram o quanto tiveram o apoio de Harada para aprender mais sobre a profissão. Ele, que era cardiologista e intensivista, trabalhava na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Santa Casa de Mogi e em consultório.
Harada foi internado no dia 19 de julho de 2020, após ter sintomas de gripe que evoluíram para falta de ar. Depois de passar 20 dias intubado na UTI de um hospital particular, ele morreu no dia 7 de julho.
“Eu acho que o que mais me pega agora é estar fazendo a faculdade sem o meu pai, porque a gente sempre conversava. Mesmo no ensino médio, que era aquela parte que a gente tem que escolher a profissão, a gente sempre conversava. E aí, quando chegou a faculdade, ele não tá mais aqui. Então, acho que essa é a parte mais difícil”
A futura médica ressalta que não escolheu a profissão apenas por ser a mesma do pai, mas, ainda assim, uma coisa eles têm em comum: o amor pela medicina. Ela afirma que é muito feliz com a escolha que fez, além de adorar a rotina, mesmo que seja exaustiva.
Fernanda está no quinto ano de medicina
Fernanda Harada/Arquivo Pessoal
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A Covid-19 no Alto Tietê
A primeira morte causada pelo coronavírus no Alto Tietê aconteceu no dia 24 de março de 2020, em Suzano. A Secretaria Municipal de Saúde confirmou no dia 30 daquele mês que um morador da cidade, de 81 anos, tinha morrido após ficar internado em um hospital particular de São Paulo.
O idoso já apresentava complicações no quadro de saúde – tinha insuficiência cardíaca e renal crônicas. Depois de um infarto, ele foi para uma unidade hospitalar de uma rede particular na capital (Hospital Sancta Marggiore, da Rede Prevent Senior), onde ficou internado.
No dia 23, o quadro de saúde dele apresentou piora, com Síndrome Respiratória Aguda Grave, pneumonia e choque séptico. Diante do agravamento do quadro, foi feita a coleta do exame para Covid-19. No dia seguinte, ele morreu.
A morte foi confirmada apenas 13 dias depois do primeiro caso de Covid-19 ter sido registrado na região, o que aconteceu no dia 11 de março de 2020, em Ferraz de Vasconcelos.
Na época, a Vigilância Epidemiológica da cidade informou que a notificação era referente a uma mulher de 33 anos, moradora da Vila Solar. A paciente trabalhava em um hospital da capital e teve contato com um caso suspeito do vírus.
Livro fotográfico
O livro ““Reflexões no isolamento: retratos de Claudio Gatti” será lançado no dia 3 de abril. O fotojornalista mogiano publicará no projeto inédito 53 retratos com depoimentos de personalidades das mais diversas áreas, feitos durante a pandemia da Covid-19.
Além das fotos de Gatti, o livro conta com entrevistas realizadas pelos jornalistas Chantal Brissac (que também editou os textos), Sérgio Vieira, Silvia Balieiro e Silvio Nascimento.
Durante a pandemia, Gatti, assim milhões de outros profissionais, foi obrigado a parar suas atividades. Em uma conversa com o jornalista João Faria, surgiu a ideia de entrar em contato com alguns dos executivos que ele já havia fotografado, para que eles abrissem suas casas e mostrassem como estavam passando por aquele período de isolamento.
Os encontros renderam fotos inusitadas, como um executivo de terno e prancha de surfe dentro da piscina e até mesmo um empresário de focinheira.
Durante os trabalhos, o fotojornalista buscou seguir todos os protocolos de distanciamento e sanitários recomendados à época para evitar o contágio com o coronavírus, como o uso de máscara e álcool gel.
Cineastas mogianos produzem curta sobre a solidão na pandemia
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