Influencer de Curitiba é condenado a pagar R$ 14 mil por exposição indevida de adolescente autista em vídeo em que o chama de comunista


João Bettega diz que no momento da gravação não sabia que adolescente era autista e que, assim que soube, tomou as medidas para retirar vídeo do ar. Família do jovem disse que não deu autorização para entrevista e que adolescente foi atacado com comentários preconceituosos e capacitistas. Justiça manda influencer de Curitiba retirar do ar vídeo em que entrevista autista de 16 anos e o chama de comunista
Reprodução
O influencer João Bettega, de Curitiba, foi condenado a pagar R$ 14 mil à família de um jovem autista por exposição indevida e não autorizada do adolescente.
O caso chegou à Justiça em 2023, depois que Bettega abordou o rapaz, na época com 16 anos, e gravou um vídeo em que fazia perguntas de cunho político para ele. A entrevista foi publicada no YouTube, TikTok e Instagram do influenciador com o título de “Comunista defende revolução no Brasil” e a imagem do adolescente no vídeo.
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Atualmente, João Bettega é vereador na Câmara Municipal de Curitiba. Ele soma mais de 910 mil de seguidores nas redes sociais e 687 mil inscritos no Youtube. Além disso, afirma ser membro do Movimento Brasil Livre (MBL).
Por meio de nota, Bettega afirmou que foi pego de surpresa pela sentença.
“No momento da gravação, não tinha o conhecimento que o entrevistado possui Transtorno do Espectro Autista, muito menos fui informado por ele acerca de sua condição. De qualquer forma, assim que soube, tomei as medidas para retirar o vídeo do ar. Assim que intimado da decisão, lerei os argumentos e decidirei se irei recorrer”, afirma a nota.
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Juiz destaca responsabilidade na exposição da imagem de terceiros
João Bettega (União)
Diretoria de Comunicação Social/CMC
Na decisão que levou à condenação, o juiz Alexandre Della Coletta Scholz afirmou que a íntegra da conversa foi recortada e publicada acompanhada de uma chamada sensacionalista, o que teve como consequência a exposição da imagem do adolescente a internautas que fizeram comentários ofendendo e ridicularizando as opiniões e a imagem do jovem.
Scholz destacou ainda que apesar de Bettega não ser responsável pela manifestação de terceiros nas redes sociais, ele deveria ter se certificado se o entrevistado tinha autonomia para conceder autorização para o uso de imagem.
Além disso, conforme o juiz, a situação causou abalo à mãe do adolescente.
“O requerido, ao gerir canal público em redes sociais diversas, tinha o dever de se assegurar, ao menos, acerca da capacidade civil do entrevistado, o que não ocorreu no caso descrito nestes autos, vindo a causar prejuízo inequívoco à imagem do adolescente e abalo à sua genitora, ao utilizar a imagem daquele em publicação com título inusitado”, afirma.
A sentença determina também a exclusão do vídeo das redes sociais. Ele, porém, não está disponível desde maio de 2025, após a Justiça obrigar o influencer a retirar do ar após um pedido da advogada Luciane Maria Mezarobba, que representa a família do adolescente.
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Mãe disse que filho ficou nervoso com a situação
Na época, a mãe do adolescente contou ao g1 que ele recebeu o diagnóstico de TEA aos 4 anos, na época classificado como Síndrome de Asperger. Ele tem nível de autonomia 1.
“Meu filho chegou em casa um dia muito feliz contando que deu uma entrevista. Aí ele contou como foi, que a pessoa abordou ele. Aí eu perguntei de qual mídia a pessoa era e ele não soube responder, disse que a pessoa só se identificou como jornalista. Ele disse que a pessoa estava com o boné do MST”, disse.
A mãe contou que o jovem foi abordado na Praça Osório, em Curitiba. Quatro dias depois, ela disse que o filho procurou ela, muito nervoso, mostrando a publicação nas redes sociais. Ela lembrou que o vídeo tinha muitas curtidas, visualizações e diversos comentários xingando o jovem.
“Ele chega muito nervoso e mostra que o vídeo foi publicado na página do João Bettega. Quando foi na manhã seguinte, eu fui ler com mais calma. Aí eu me assustei bastante. Já tinham 300 e poucos comentários, uns comentários muito absurdos […] ‘olha só, parece um retardado’. Palavras imensamente capacitistas, preconceituosas e pejorativas”, lembrou a mãe.
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