Pesquisa testa inseticida para auxiliar no controle do mosquito que transmite a Febre Oropouche


Intenção é que informações obtidas na pesquisa ajudem todo o país no controle da população do mosquito maruim, responsável pela transmissão da doença. Levantamento é feito em Alfredo Chaves, na Região Serrana do Espírito Santo. Pesquisa nacional sobre mosquito maruim, responsável pela transmissão da Febre Oropouche, está sendo feita em Alfredo Chaves, no Espírito Santo.
Prefeitura de Alfredo Chaves
Conhecido cientificamente como Culicoides paraensis, o mosquito maruim – vetor para a transmissão do vírus Oropouche – virou objeto de estudo de uma pesquisa nacional inédita, desenvolvida na cidade de Alfredo Chaves, na Região Serrana do Espírito Santo, local que concentra maioria dos casos da febre do Oropouche no estado.
O objetivo é reduzir a densidade vetorial do mosquito e auxiliar no controle do maruim e da doença em todo o Brasil. Para isso, além da coleta de animais, inseticidas estão sendo testados para garantir se podem ser utilizados em larga escala.
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A pesquisa é coordenada pelo Ministério da Saúde e ocorre em parceria entre a Fiocruz, Secretaria de Estado de Saúde (Sesa) e o município de Alfredo Chaves.
Onze pesquisadores dessas instituições estiveram examinando as comunidades alfredenses mais afetadas pelo inseto, na última semana de março.
“Através dessas informações podemos avançar na estruturação da Vigilância do Oropouche, adotar medidas mais efetivas de controle do vetor e, consequentemente, diminuir o número de casos da doença e melhorar o bem estar da população que tem sofrido bastante com a alta infestação”, informou a Prefeitura de Alfredo Chaves.
Mosquito Culicoides paraensis (conhecido como maruim ou mosquito-pólvora)
Dive/Divulgação
Um ano com a doença circulando no ES e teste de inseticidas
No dia 1° de abril, o Espírito Santo completou um ano desde que o primeiro caso da doença foi confirmado no estado. Para o subsecretário de Vigilância em Saúde da Sesa, Orlei Cardoso, o período de acompanhamento da doença é curto, mas já foi possível estruturar as ações de combate e controle do vírus.
“Já estruturamos melhor as capacitações e conseguimos treinar mais de 2 mil profissionais. Além disso, reconhecemos áreas de risco e já temos fluxos mais definidos de envio de amostra e testes para a doença. Agora, a gente busca confirmar um inseticida viável no controle da doença, é o que estamos tentando”, afirmou.
Sobre a pesquisa realizada em Alfredo Chaves, o subsecretário detalhou os dois principais pontos positivos até o momento.
Primeiramente, foi realizada a coleta de mosquitos e não há mais dúvida de que a transmissão realmente é feita pelo maruim.
“Já desenvolvemos a coleta de vetores. Se antes existiam dúvidas se o inseto que estava transmitindo era o maruim, hoje nós confirmamos. Coletamos mais de 23 mil amostras com apoio do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), quase 18 mil exemplares estavam infectados com o vírus, o que garantiu que ele é o transmissor da doença”, detalhou.
Pesquisa nacional sobre mosquito maruim, responsável pela transmissão da Febre Oropouche, está sendo feita em Alfredo Chaves, no Espírito Santo.
Prefeitura de Alfredo Chaves
O segundo ponto é o teste de inseticidas para encontrar a alternativa mais eficiente para melhorar o controle do maruim.
“Os pesquisadores trouxeram cinco tipos de inseticida que foram testados previamente, mas precisam passar por outras etapas de confirmação. Se tudo der certo, a gente vai ter um inseticida para trabalhar no controle do maruim, não só no Espírito Santo, mas em todo o Brasil”.
Os produtos avaliados já existem no mercado e são utilizados na saúde pública contra outros vetores, mas nunca foram utilizados contra o maruim. Então, o objetivo dos testes é apontar qual é a eficiência de cada um, sua ação residual, entre outros.
Avaliações foram feitas em um laboratório provisório montado em Alfredo Chaves, com gaiolas impregnadas do produto, colocando os mosquitos em contato e vendo a ação de cada um.
Agora, novos ensaios estão sendo feitos no laboratório da Fiocruz, no Rio de Janeiro, e depois serão feitos testes no ambiente.
Após as conclusões e com resultado positivo para algum deles vai ser possível elaborar uma polícia, organizar e definir critérios para a aplicação.
“Já temos resultados iniciais positivos. Assim que possível, a gente vai poder borrifar o produto na parede das casas, na região onde o mosquito pousa e poder alcançar ele na vida adulta. A aplicação vai ser feita com bomba manual e costal”, explicou Orlei.
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Alfredo Chaves é a única cidade no Brasil passando por esses testes, e a experiência vai servir de espelho para o país inteiro, a gente vai ser o estado piloto, vai servir para todo o país.
“Evoluímos menos neste um ano no que diz respeito ao tratamento, cuidamos apenas dos sintomas. Então conseguir controlar o vetor é o caminho a ser seguido, a gente já vai ter um avanço bem considerável”, avaliou o subsecretário.
A expectativa da Sesa é que ainda neste primeiro semestre já existam condições de usar o inseticida em algum local do estado.
Espírito Santo é o estado com mais casos confirmados de febre do oropouche
Números da Febre Oropouche no ES
O acumulado de casos confirmados de Febre Oropouche no Espírito Santo é de 11.185, considerando desde o dia 31 de dezembro de 2023, quando o levantamento começou a ser feito, a 3 de abril de 2025, segundo a Sesa.
Ao todo são:
5.528 casos no ES em 2024
5.657 casos no ES em 2025.
O município de Alfredo Chaves, na Região Serrana, que sedia o estudo, lidera o número de confirmações, com 1.289, em todo o período avaliado; seguido por Laranja da Terra, na mesma região, com 863; e Itarana, no Sul do estado, com 662.
O percentual de casos confirmados na cidade é de 11,5%, também o maior do estado.
Orlei apontou que praticamente todos os casos do ano passado, de abril a dezembro, já foram alcançados nos primeiros três meses de 2025.
Entretanto, a situação de agora não é mais de alta, como visto no começo do ano, já é possível identificar uma redução drástica nos números, o crescimento semanal da doença está sendo bem menor.
Além disso, os casos estão reduzindo também em Alfredo Chaves e região, e migrando para a região de Marilândia, Colatina e Rio Bananal.
Alfredo Chaves, no Espírito Santo.
Prefeitura de Alfredo Chaves
Números do ES em relação ao cenário nacional
O g1 pediu ao Ministério da Saúde números atualizados de casos e mortes no Brasil, por Febre Oropouche, em 2025, e também os os estados com mais casos da doença, mas não houve retorno até a publicação desta reportagem.
Em janeiro de 2025 o estado despontava como responsável por 99% dos casos no país.
Em todo o ano de 2024, o Brasil registrou 13.801 casos. Já em relação aos óbitos, são quatro confirmações, sendo duas na Bahia, uma no Paraná e uma no Espírito Santo.
Duas mortes mortes em investigação
A primeira morte provocada pelo vírus Oropouche no Espírito Santo foi de uma mulher de 61 anos, moradora de Fundão, na Região Metropolitana, e ocorreu no dia 28 de agosto de 2024. A identidade da paciente não foi informada pela Sesa/ES.
Atualmente, existem outras duas mortes em investigação, mas detalhes sobre o casos e municípios também não foram divulgados.
Febre Oropouche.
Reprodução
Orientações para a população
As principais recomendações para enfrentar a infestação de maruins, especialmente em áreas rurais, envolvem medidas preventivas, especialmente, o controle mecânico e a proteção individual.
Fazer a remoção de detritos e matéria orgânica ao redor das residências, a poda de árvores para manter os espaços mais ventilados e secos, além do afastamento de materiais que possam servir de abrigo para o mosquito.
Para proteção individual, é indicado o uso de roupas de manga longa que cubram pescoço e orelhas, aplicação de repelente, e maior atenção nos períodos da manhã e tarde, que são os horários de maior atividade do inseto.
O maruim é atraído por feromônios liberados pelo ser humano e tem predileção pelo sangue humano, ou seja, mesmo em áreas com animais como cães, cabritos e cavalos, a fêmea vai preferir picar o homem.
É importante redobrar os cuidados em ambientes de trabalho ao ar livre.
Gestantes devem ter atenção especial para evitar o risco de transmissão vertical, utilizando roupas de manga longa, repelente e permanecendo em locais protegidos, como dentro de casa. Outra medida eficaz é instalar telas com malha de 1,5 a 3mm, já que o maruim é extremamente pequeno, cerca de 20 vezes menor que o Aedes aegypti.
Por fim, é crucial evitar água parada e a formação de lama, que servem como locais para a deposição dos ovos. É necessário remanejar chiqueiros e áreas propícias à proliferação.
Vale reforçar que a febre do oropouche é uma doença de transmissão vetorial. Controlando a população de vetor, controla-se a transmissão da doença.
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