
Exportações da China subiram 12,4% em março, superando expectativas. Aumento foi impulsionado por fábricas que aceleraram embarques antes das tarifas dos EUA. Guerra comercial entre China e EUA obscurece perspectivas para fábricas e crescimento da China
Reprodução EPTV
As exportações da China subiram acentuadamente em março, após fábricas acelerarem os embarques antes da entrada em vigor das novas tarifas dos EUA, mas a intensificação da guerra comercial entre China e Estados Unidos obscureceu as perspectivas para as fábricas e o crescimento da segunda maior economia do mundo.
O presidente dos EUA, Donald Trump, aumentou significativamente as tarifas sobre produtos chineses, o que muitos economistas dizem que terá um impacto profundo nos fluxos comerciais globais e nos investimentos empresariais.
As exportações cresceram 12,4% em relação ao ano anterior — o maior nível em cinco meses — superando com folga a expectativa de crescimento de 4,4% prevista em uma pesquisa da Reuters com economistas. Em janeiro e fevereiro, as exportações haviam crescido 2,3%.
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As incertezas comerciais abalaram os mercados financeiros neste mês após Trump anunciar tarifas abrangentes para diversos países em 2 de abril. Dias depois, ele suspendeu inesperadamente as tarifas mais altas para cerca de uma dúzia de economias, mas impôs taxas ainda mais duras sobre a China, que Pequim classificou como “uma piada”.
Economistas alertam que os números de exportação de março serão ofuscados por uma perspectiva que se deteriora rapidamente.
“O crescimento das exportações acelerou em março, já que os fabricantes correram para enviar mercadorias aos EUA antes do ‘Dia da Libertação'”, disse Julian Evans-Pritchard, chefe de economia da China na Capital Economics, em nota a clientes.
“Mas os embarques devem recuar nos próximos meses e trimestres”, acrescentou. “Acreditamos que pode levar anos até que as exportações chinesas recuperem os níveis atuais.”
Trump impôs tarifas de 10% sobre todas as importações chinesas nos Estados Unidos a partir de 4 de fevereiro, e seguiu com mais 10% em março, acusando Pequim de não fazer o suficiente para conter o fluxo de fentanil para os EUA.
A nova rodada de tarifas dos EUA eleva as taxas sobre a China para impressionantes 145%, levando Pequim a aumentar as tarifas sobre produtos dos EUA em 125%, intensificando a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo.
Os dados de segunda-feira (14) também destacaram a fraqueza da demanda interna na China, o que significa que os formuladores de políticas terão um desafio maior para tentar conter uma queda acentuada no comércio.
As importações caíram 4,3%, em comparação com a queda de 2,0% prevista pela pesquisa da Reuters, e uma contração inesperadamente forte de 8,4% no início do ano.
Os mercados na China subiram modestamente, mas grande parte da atividade esteve ligada às mensagens ambíguas de Trump no fim de semana sobre isenções para smartphones e outros eletrônicos. O índice chinês CSI300 de blue chips subiu 0,3%.
Luta até o fim
Pequim prometeu lutar até o fim contra as tarifas dos EUA e proteger a economia de “choques externos”, com o mercado amplamente esperando que as autoridades lancem mais medidas de estímulo fiscal e monetário nos próximos meses para sustentar o crescimento.
As exportações têm sido um dos poucos pontos positivos da economia chinesa, que tem enfrentado dificuldades para se recuperar de forma sólida após a COVID, com a confiança permanecendo baixa diante de uma prolongada crise imobiliária e pressões deflacionárias crescentes.
O presidente Xi Jinping, em seus primeiros comentários públicos sobre as tarifas, disse ao primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez, durante uma reunião em Pequim na sexta-feira, que China e União Europeia devem “se opor conjuntamente a atos unilaterais de intimidação”, segundo a agência estatal Xinhua.
Xi iniciou na segunda-feira uma visita a três países do Sudeste Asiático, buscando fortalecer os laços com alguns dos vizinhos mais próximos da China em meio às turbulências tarifárias.
A Organização Mundial do Comércio alertou que a disputa comercial entre China e EUA pode reduzir o fluxo de mercadorias entre as duas economias em até 80% e prejudicar gravemente o crescimento global.
Na semana passada, o Goldman Sachs reduziu sua previsão de crescimento do PIB da China para 2025 de 4,5% para 4%, citando os efeitos das tarifas. O Citi cortou sua estimativa de 4,7% para 4,2% dois dias antes. Essas previsões revisadas estão bem abaixo da meta oficial de crescimento do governo, que é “em torno de 5%”.
A indústria exportadora da China enfrenta um ambiente externo complexo e severo, disse o funcionário da alfândega Lv Daliang nesta segunda-feira.
“A China está construindo ativamente um mercado diversificado e aprofundando a cooperação nas cadeias de produção e suprimento com todas as partes”, afirmou ele em uma coletiva de imprensa.
A crescente pressão comercial e a diminuição da base de consumidores nos EUA também levaram exportadores chineses a avaliarem oportunidades no mercado doméstico.
DESEQUILÍBRIO COMERCIAL?
O superávit comercial da China em março foi de US$ 102,64 bilhões, ligeiramente abaixo dos US$ 104,8 bilhões de dezembro, a leitura comparável mais recente.
Mais importante ainda, o superávit comercial da China com os Estados Unidos no primeiro trimestre foi de US$ 76,6 bilhões, acima dos US$ 70,2 bilhões do ano anterior.
Isso provavelmente manterá a potência produtiva chinesa no radar de Trump, já que reduzir esse déficit comercial é uma de suas principais prioridades.
Os dados sobre commodities mostraram que, embora as importações chinesas de petróleo bruto tenham aumentado em março, as de soja, carvão, minério de ferro e cobre bruto caíram.
As importações vindas dos Estados Unidos já podem ter sido afetadas pela disputa comercial.
As importações totais de soja da China despencaram 36,8% em março em relação ao ano anterior.
“A China parece já ter interrompido completamente suas importações agrícolas dos EUA”, disse Xu Tianchen, economista sênior da Economist Intelligence Unit.
“As importações de soja caíram pela metade em março, durante uma alta temporada do comércio agrícola entre China e EUA, talvez porque importadoras estatais já tenham recebido orientação para suspender as compras”, afirmou.