
Tropas israelenses controlam mais da metade do território palestino após intensificação de ofensiva no início do mês, segundo levantamento da agência de notícias Associated Press. Tanque transita pela Faixa de Gaza na região da fronteira com Israel, em 19 de março de 2025
REUTERS/Amir Cohen
O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, afirmou nesta quarta-feira (16) que as tropas do país permanecerão indefinidamente na Faixa de Gaza, o que pode complicar ainda mais as negociações com o grupo terrorista Hamas por um novo cessar-fogo na guerra e a libertação dos reféns restantes.
Segundo Katz, o mesmo ocorrerá nas zonas controladas por tropas israelenses no Líbano e na Síria. As zonas controladas pelos israelenses nesses territórios são chamadas de zonas de segurança, ou “zonas-tampão”.
✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp
“Diferente do passado, as Forças de Defesa de Israel não estão evacuando áreas que foram limpas e tomadas. O exército permanecerá nas zonas de segurança como barreira entre o inimigo e as comunidades israelenses em qualquer situação temporária ou permanente em Gaza — como no Líbano e na Síria”, afirmou o ministro israelense em comunicado.
As forças israelenses retomaram mais da metade da Faixa de Gaza em uma nova ofensiva para pressionar o Hamas a libertar reféns, após Israel encerrar o cessar-fogo no mês passado. Israel também se recusou a se retirar de algumas áreas no Líbano, mesmo após o cessar-fogo com o grupo militante Hezbollah no ano passado, e estabeleceu uma zona de amortecimento no sul da Síria depois que rebeldes derrubaram o presidente Bashar al-Assad em dezembro.
Os palestinos e os países vizinhos consideram a presença de tropas israelenses uma ocupação militar que viola o direito internacional. O Hamas afirmou que não libertará dezenas de reféns restantes sem uma retirada completa de Israel da Faixa de Gaza e um cessar-fogo duradouro.
“Prometeram que os reféns viriam primeiro. Na prática, Israel está optando por tomar território antes dos reféns”, disse a principal organização que representa as famílias dos sequestrados, em comunicado.
“Há uma solução desejável e viável: a libertação de todos os reféns de uma só vez, como parte de um acordo, mesmo que isso signifique o fim da guerra”, acrescentou.
Israel afirma que precisa manter o controle das chamadas zonas de segurança para evitar uma repetição do ataque de 7 de outubro de 2023, quando milhares de militantes do Hamas invadiram o sul de Israel a partir de Gaza, matando cerca de 1.200 pessoas, a maioria civis, e sequestrando 251.
A ofensiva israelense já matou mais de 51.000 palestinos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, que não especifica quantos eram civis ou combatentes, mas afirma que mulheres e crianças representam mais da metade dos mortos. Israel afirma ter matado cerca de 20.000 militantes, mas não apresentou provas.
Os bombardeios e as operações terrestres de Israel tornaram vastas áreas do território inabitáveis e deslocaram cerca de 90% da população de aproximadamente 2 milhões de palestinos. Muitos foram deslocados várias vezes e centenas de milhares vivem agora em acampamentos precários, com pouca comida, depois que Israel bloqueou totalmente a entrada de produtos no território há mais de um mês.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu aniquilar o Hamas e resgatar os 59 reféns ainda em Gaza — dos quais se acredita que 24 estejam vivos. Ele declarou que, em seguida, Israel implementará a proposta do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, para o reassentamento de grande parte da população de Gaza em outros países, num processo que Netanyahu chama de “emigração voluntária”.
Os palestinos e os países árabes rejeitaram unanimemente a proposta de Trump, que, segundo especialistas em direitos humanos, provavelmente violaria o direito internacional. Os palestinos em Gaza dizem que não querem sair e temem uma nova expulsão em massa, como a que ocorreu durante a guerra que levou à criação de Israel, em 1948.
A administração Trump, que se creditou por ajudar a intermediar o cessar-fogo que entrou em vigor em janeiro, desde então expressou total apoio à decisão de Israel de encerrá-lo e cortar toda a ajuda humanitária. O enviado do Oriente Médio de Trump, Steve Witkoff, tem tentado negociar um novo acordo de cessar-fogo mais favorável a Israel, mas esses esforços parecem ter feito pouco progresso.
Netanyahu lidera o governo mais nacionalista e religioso da história de Israel, e seus parceiros de coalizão têm defendido a retomada de assentamentos judaicos na Faixa de Gaza.
Israel retirou suas forças de Gaza e desmantelou os assentamentos em 2005, mas manteve o controle da maior parte das fronteiras terrestres, da costa e do espaço aéreo de Gaza, e se uniu ao Egito para impor um bloqueio ao território depois que o Hamas assumiu o poder em 2007.
Israel ocupou Gaza, Jerusalém Oriental e a Cisjordânia — territórios que os palestinos reivindicam para a criação de um futuro Estado — durante a guerra do Oriente Médio de 1967. Na mesma guerra, também capturou as Colinas de Golã da Síria e posteriormente as anexou — uma medida reconhecida apenas pelos Estados Unidos.