
Papa Francisco morreu aos 88 anos nesta segunda-feira, após ocupar por 12 anos o cargo máximo da Igreja Católica. Evandro e Eveline receberam a bênção do papa Francisco no vaticano após casamento
Eveline Gonçalves/Arquivo pessoal
“Me fez sentir que Deus desenhou cada segundo”. É assim que Eveline Gonçalves descreve o momento em que, junto com o marido, Evandro Fernandes, recebeu a bênção para recém-casados pelo papa Francisco. A cerimônia aconteceu em outubro do ano passado, na Praça de São Pedro, no Vaticano.
O casal mora em Campina Grande, no Agreste da Paraíba, e planejou participar da bênção – que é gratuita – dois anos antes de trocar as alianças. Somente a possibilidade da participação fazia com os noivos sonhassem cada dia mais com a presença do pontífice.
O processo aconteceu de forma rápida e fácil, sem burocracia. As únicas exigências do vaticano são de que os casais tenham casado há até dois meses, que se vistam de noivos e apresentem a certidão de casamento.
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Os dois lembram de cada instante com riqueza de detalhes e carinho. Assim que o papa se aproximou, Evandro explicou que eles eram recém-casados e pediu a bênção. Depois de abençoá-los, o sacerdote se dirigiu para Eveline.
A empresária ensaiou por diversas vezes tudo o que diria, por tudo o que agradeceria. Mas com a aproximação de Francisco, foi tomada pela emoção, não conseguiu dizer uma só palavra.
“Quando ele se aproximou, senti um amor tão grande de Deus por nós, que só consegui chorar. Tava com um terço, ele pegou e abençoou sem que eu precisasse falar nada. Me acolheu com um olhar de quem entende. Além do terço e do vestido que vou guardar para sempre, eu vou guardar esse olhar. Foi uma das maiores emoções da minha vida, reforça Eveline.
Eveline e Evandro vestidos de noivos no Vaticano
Eveline Gonçalves/Arquivo pessoal
‘A gente precisou do papa Francisco pra se sentir muito amado por Deus’
Eveline nasceu em uma família católica e é seguidora da religião desde a infância. Com Francisco, ela criou uma ligação especial de admiração.
“A gente precisou do papa Francisco pra se sentir muito amado por Deus. Agora, o céu precisava mais dele do que nós. Por isso, eu acredito que Deus o chamou”, refletiu.
A proximidade com os fiéis foi uma das características que mais despertou admiração e respeito na empresária, além do bom humor e da leveza.
“Eu acho que ele se diferenciou principalmente pela humildade e por acolher minorias. O papa não pode ser distante. Ele tem que acolher e entender os diferentes. E amar, porque Deus é amor. E ele amou. Mais do protocolos, mais do que burocracia, ele amou, ele se aproximou”, destacou.
Todo esse amor revelado não só em palavras, mas também em ações, foi visto de perto quando o papa abraçou crianças e atendeu a todos que queriam um pouco da atenção dele no dia da benção dos recém-casados.
“Mesmo tendo a obrigação só de acenar, ele parava, ele abraçava, ele escutava. Ele foi próximo. E hoje, é como se, de fato, a gente tivesse perdendo um amigo”, concluiu.
O papa Francisco acena em imagem de 2 de setembro de 2023 em Ulan Bator, capital da Mongólia
Alberto Pizzoli/AFP
Papa Francisco morre aos 88 anos
Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, morreu aos 88 anos às 2h35 pelo horário de Brasília, 7h35 pelo horário local, desta segunda-feira (21). As informações foram confirmadas pelo Vaticano. O pontífice ocupou o cargo máximo da Igreja Católica por 12 anos.
“O Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja. Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados. Com imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, recomendamos a alma do Papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Trino”, diz comunicado oficial.
Francisco se recuperava de uma pneumonia nos dois pulmões após ficar internado por cerca de 40 dias.
Nascido em 17 de dezembro de 1936 em Buenos Aires, na Argentina, Francisco foi o primeiro papa latino-americano da história. Ele também foi o primeiro pontífice da era moderna a assumir o papado após a renúncia do seu antecessor e, ainda, o primeiro jesuíta no posto.
À frente da Igreja Católica por quase 12 anos, Francisco foi o papa número 266. Em 13 de março de 2013, durante o segundo dia do conclave para eleger o substituto de Bento XVI, Bergoglio foi escolhido como o novo líder – inclusive contra a sua própria vontade, segundo ele mesmo admitiu.
Os desafios do papado de Francisco
Apesar de ter sido eleito papa contra a própria vontade, a carreira de Francisco no catolicismo foi uma escolha própria do argentino. Formado em Ciências Químicas e professor de Literatura, o religioso filho de imigrantes italianos acabou optando por se dedicar aos estudos eclesiásticos.
Seu perfil jovial e descontraído — ele gostava de fazer piadas e brincadeiras — o tornou uma opção popular entre os colegas cardeais e uma escolha antes de mais nada conjuntural.
A Igreja Católica vivia então um de seus momentos mais delicados. A popularidade em baixa e os escândalos de pedofilia envolvendo padres em todo o mundo são apenas alguns dos desafios que o pontífice enfrentaria durante seu papado.
A modernidade também levou Francisco a lidar com outros assuntos delicados para a Igreja, como os direitos LGBTQIA+ e o sexismo.
Ele foi elogiado por avanços como o de permitir bênçãos de padres a casais do mesmo sexo, colocar mulheres em cargos mais altos no Vaticano e permitir que elas votassem no Sínodo dos Bispos — a reunião em que bispos debatem e decidem questões ideológicas e regimentos internos.
Mas também foi criticado por avançar menos do que o esperado na questão feminina. Francisco terminou seu papado sem permitir sacerdotes do sexo feminino, reivindicação histórica de parte das católicas.
O papa defendia que apenas cristãos do sexo masculino poderiam ser ordenados para o sacerdócio, usando como base a premissa da Igreja Católica de que Jesus escolheu homens como apóstolos.
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