
A fumaça preta indica que os 115 cardeais reunidos ainda não chegaram ao consenso de dois terços necessário para eleger um novo papa. Quando esse momento chegar, a fumaça sairá branca. 13 de março – Fumaça preta sai da chaminé atrás da estátua de São Pedro, no Vaticano
Dmitry Lovetsky/AP
Poucos símbolos são tão emblemáticos quanto a fumaça que sai da chaminé da Capela Sistina durante a escolha de um novo papa.
É um rito antigo, acompanhado por milhões ao redor do mundo, que aguarda ansiosamente o momento em que a fumaça branca anunciará: Habemus Papam, ou seja, temos um novo papa.
Mas, por trás dessa imagem quase mística, existe um processo muito mais terreno — e surpreendentemente químico.
Para que o que sai da chaminé seja preta ou branca, receitas de pequenas bombas de fumaça são utilizadas durante o conclave.
Após a morte do papa Francisco, nascido Jorge Mario Bergoglio, aos 88 anos, na última segunda-feira (21/4) a Igreja Católica inicia um processo para escolher um novo pontífice para ao cargo.
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Como a fumaça é feita
A partir do início dos anos 1800, as cédulas usadas pelos cardeais eram queimadas após cada votação como forma de indicar que não havia sido alcançado um consenso para a eleição. A ausência de fumaça, por outro lado, sinalizava que um novo papa havia sido escolhido.
Desde 1914, essa prática foi aprimorada: a fumaça preta indica que os cardeais reunidos ainda não chegaram ao consenso de dois terços necessário para eleger um novo papa. Quando esse momento chegar, a fumaça sairá branca.
A origem da fumaça está na queima das cédulas de votação em um forno especial.
Para colorir a fumaça, porém, são usados aditivos químicos queimados em um segundo forno. No passado, o Vaticano utilizava métodos mais simples: palha úmida produzia a fumaça branca e piche produzia a preta.
Quem já acendeu uma fogueira sabe que grama molhada cria uma fumaça clara e que jogar pneus velhos no fogo vai gerar uma fumaça preta densa e tóxica — cheia de partículas de carbono prejudiciais à saúde e potencialmente cancerígenas.
A mudança de método, no entanto, não foi motivada por preocupações ambientais. O problema era outro: em conclaves anteriores, a fumaça saía acinzentada e ambígua, gerando confusão. Por isso, a partir de 2005, decidiu-se adotar uma técnica mais precisa, baseada em compostos químicos.
Recentemente, o Vaticano divulgou os ingredientes. Para a fumaça preta, usa-se uma mistura de perclorato de potássio, antraceno e enxofre. Já a fumaça branca é feita com clorato de potássio, lactose (açúcar do leite) e resina de coníferas, conhecida como rosin, usada por músicos para aumentar o atrito em arcos de violino.
Na prática, estão apenas produzindo versões simples de bombas de fumaça comuns. Essas bombas funcionam combinando uma substância rica em carbono — como açúcar — com um agente oxidante, que fornece o oxigênio necessário para a queima. Perclorato e clorato de potássio são os oxidantes mais comuns. Já o carbono vem do antraceno, da lactose e da resina.
O antraceno, presente no alcatrão de carvão, é excelente para gerar fumaça preta densa, mas deixou de ser usado em fogos de artifício por ser cancerígeno. O enxofre, que também queima bem, era parte essencial da pólvora — e a mistura do Vaticano para a fumaça preta lembra bastante essa antiga fórmula, substituindo apenas o salitre pelo perclorato.
Para a fumaça branca, em aplicações militares, costuma-se usar pó de zinco e hexacloroetano — um solvente tóxico que, embora eficaz, pode causar danos ao fígado e problemas respiratórios. Não é surpresa, portanto, que o Vaticano tenha optado por uma versão mais segura.
Hoje, o sistema é altamente controlado. Aquecedores elétricos e ventiladores garantem que a fumaça saia com força, e o processo foi testado para evitar que a fumaça preta se desfaça em partículas menores e acabe parecendo branca — um efeito que às vezes acontece em fogueiras.
*Com informações da reportagem da BBC Future, publicada em março de 2013
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