Corredora de 77 anos e recordista mundial tem consumo de oxigênio igual a uma mulher de 25 e foi estudada por pesquisadores


Jeannie Rice apresentou o maior consumo máximo de oxigênio já registrado em uma mulher com mais de 75 anos e atribuiu sua resiliência a lesões aos baixos níveis de estresse e ao seu ritmo fácil de treino. Jeannie Rice, que completou 77 anos em 14 de abril, quebrou vários recordes mundiais na faixa etária feminina
Universidade de Loughborough/Divulgação
Uma corredora de 77 anos que quebrou recordes mundiais de sua faixa etária foi estudada por pesquisadores por causa de seu condicionamento físico excepcional. Jeannie Rice, de origem asiática, mora nos Estados Unidos, tem 1,67 m de altura, pesa 44 kg e está tão em forma como uma mulher de 25 anos.
Sua fisiologia é tão impressionante que motivou pesquisadores a entender como podemos nos manter saudáveis a medida que envelhecemos.
A resiliência a lesões da corrida provavelmente contribuiu para seu desempenho. E Rice atribuiu essa resiliência a lesões aos baixos níveis de estresse e ao seu ritmo fácil de treino.
Um estudo publicado em fevereiro no “Journal of Applied Physiology” avaliou a aptidão cardiorrespiratória, a biomecânica da corrida, a arquitetura muscular e as características de treinamento de Rice, que atualmente detém o recorde mundial para a maratona na categoria feminina de 75 a 79 anos.
Foi constatado que a corredora apresentou o maior consumo máximo de oxigênio (VO2 máx.) já registrado em uma mulher com mais de 75 anos. A medida – que reflete a aptidão aeróbica e capacidade de resistência — é igual ao de uma mulher de 25 anos, de acordo com exames realizados dias após sua performance recorde mundial na Maratona de Londres do ano passado (3 horas, 33 minutos e 27 segundos).
Os resultados mostraram que seu desempenho é comparável ao relatado em corredores de classe mundial, homens e mulheres, mais jovens, e em recordistas mundiais master masculinos.
Todo mundo pode correr?
Os autores do estudo, Bas Van Hooren e Michele Zanini, fizeram Rice correr em uma esteira com intensidade crescente, enquanto mediam seu consumo de oxigênio e frequência cardíaca. Eles também coletaram sangue para avaliar os níveis de lactato, uma substância química produzida quando as células quebram carboidratos.
Os níveis de lactato podem ser usados para avaliar a transição de um esforço “sustentável” para um “mais extenuante”. Os pesquisadores também analisaram a gordura corporal, a estrutura muscular e a capacidade de usar oxigênio em sua velocidade específica de maratona.
Os autores sugerem que o alto consumo máximo de oxigênio pode ser a principal característica fisiológica que explica seu sucesso em uma ampla gama de distâncias de corrida.
Esse alto consumo máximo de oxigênio relativo pode ser explicado pela massa magra relativamente grande e, em particular, pela frequência cardíaca máxima muito alta (180 batimentos por minuto), de acordo com o estudo.
O consumo máximo de oxigênio de Rice (ou VO2 máx.), uma medida que reflete sua aptidão aeróbica e capacidade de resistência, é igual ao de uma mulher de 25 anos, de acordo com testes de laboratório
Universidade de Loughborough
Esse indicador pode explicar por que a atleta conseguiu atingir desempenhos de nível internacional em uma ampla gama de distâncias, visto que o indicador é extremamente importante em todas as distâncias médias/longas, destacam os autores do estudo.
A atleta também apresentou aptidão cardiorrespiratória muito alta em relação à sua idade. Sua frequência cardíaca máxima é consideravelmente maior do que a prevista para sua idade (155 bpm), e maior em comparação com mulheres não treinadas da mesma idade (135 bpm). Além disso, também é maior em comparação com estudos de caso anteriores em atletas master de nível mundial do sexo masculino com 70/75 anos de idade.
A publicação destaca que estudos de atletas profissionais de classe mundial são raros e geralmente realizados em homens.
A corrida de longa distância em particular não era bem aceita para mulheres antes dos anos 70, com as mulheres sendo autorizadas a correr maratonas apenas a partir de 1972.
Da mesma forma, embora as características de treinamento de atletas jovens masculinos e femininos de classe mundial e atletas masculinos máster tenham sido documentadas, elas permanecem em grande parte desconhecidas para atletas máster femininas.
Rice começou a correr aos 35 anos e praticou apenas aulas de dança coreana quando era mais jovem. Além disso, sofreu apenas uma lesão relacionada à corrida em sua carreira de 36 anos.
Pisou de mau jeito numa pedra e fraturou o tornozelo, aos 76 anos em setembro de 2024, cerca de 5 meses após os experimentos relatados.
Sua resiliência a lesões de corrida provavelmente contribuiu para seu desempenho, já que anos contínuos de treinamento de corrida são sugeridos como essenciais para atletas idosos, aponta o estudo.
Em entrevista ao Washington Post, Rice revelou ter uma vida social intensa e gostar de sair para dançar, mas não na semana que antecede uma corrida importante.
“Muitos corredores são tão sérios que não fazem nada socialmente. Mas eu gosto de me divertir. Sou a última a ir para casa”, contou ao jornal.
Ela contou ainda que gosta de inspirar corredores mais velhos, que se se sente tão jovem quando tinha 50 anos e que pretende fazer isso até os 80.
Rice revelou também ao periódico que sua inspiração foi Joan Benoit Samuelson, que estabeleceu inúmeros recordes durante sua longa carreira como corredora e conquistou o ouro na primeira maratona olímpica feminina em 1984.
A resiliência relatada a lesões de Rice segue o padrão dos relatos de casos anteriores de atletas master de classe mundial e reforça ainda mais a importância de abordagens que reduzam o risco de lesões em atletas idosos para otimizar a saúde e o desempenho.
A atleta atribuiu sua resiliência a lesões aos baixos níveis de estresse da vida e à realização da maioria de suas corridas em um ritmo fácil, com três sessões de intervalo por semana geralmente não realizadas com o esforço máximo (embora ela fizesse um esforço muito forte durante essas sessões).
Rice corre 80 km por semana, ou 112 a 120 km por semana quando está se preparando para uma maratona, com um dia de folga. Ela também já revelou levantar pesos leves três vezes por semana para fortalecer a parte superior do corpo.
Sua distribuição de intensidade de treinamento é muito semelhante à de atletas mais jovens de classe mundial e sugere que também pode ser eficaz para atingir desempenho de classe mundial em categorias masters.
Rice quebrou recordes mundiais nas categorias de 70 a 79 anos e já revelou não saber se quebrou outros recordes antes dos 69 anos. Ela também conquistou seis medalhas de ouro no Campeonato Mundial Master de 2024, competindo dos 800 m à meia maratona.
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