Abelhas nativas sem ferrão: por que é um bom sinal ter enxames perto de casa e o que fazer quando encontrá-los


Animais são encontradas no meio urbano e aprenderam a conviver próximos aos seres humanos. Enxames de abelhas sem ferrão (ASFs) da criação do meliponicultor Carlos Souza.
Arquivo pessoal
Há quem tenha medo delas: as abelhas. Porém, é de conhecimento geral que elas são cruciais para o equilíbrio natural dos biomas e ecossistemas do planeta, já que são polinizadoras de diversas plantas.
Na região de Piracicaba (SP) as abelhas estão presentes no meio urbano e aprenderam a conviver próximos aos seres humanos, principalmente as abelhas nativas sem ferrão (ASFs), que comumente são criadas por meliponicultores.
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A bióloga e pesquisadora Denise Alves, do Departamento de Entomologia e Acarologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), explica que a presença de abelhas perto de casa é um sinal de que o local possui variedade de plantas a serem polinizadas e que, possivelmente, os insetos vivem de forma adequada ali.
De acordo com Denise, a existência das abelhas em residências e outros locais urbanos é benéfica para os seres humanos e para os insetos, além de contribuir para a preservação delas.
“Se uma pessoa viu um ninho de abelha sem ferrão e identificou na sua casa é um ótimo sinal de que ali ela está, teoricamente, muito bem, coletando o alimento. Se não estiver atrapalhando, não tem muito o que fazer, o ideal é deixar ela ali e procurar plantar árvores e outras espécies de plantas que floresçam o ano todo para que elas possam polinizar e se alimentar”, esclarece a pesquisadora.
As abelhas são criadas geralmentes dentro das caixas, onde fazem seu enxame.
Arquivo pessoal
Já para os casos em que os enxames de abelhas estão atrapalhando o funcionamento de algo na rotina dos moradores da residência ou próximo a ela, Denise explica que é necessário solicitar o serviço de uma pessoa especializada para retirar o ninho.
“Se elas [as abelhas] estiverem atrapalhando alguma coisa, por estar em um poste de luz ou em alguma estrutura que a pessoa precisa utilizar, o ideal é chamar uma pessoa que saiba fazer a remoção, para passar para uma caixa, para que um meliponicultor, por exemplo, possa criar essa abelha”.
Denise reitera que identificar uma espécie de abelha não é tão simples, mas é possível tentar saber de qual espécie se trata analisando entradas dos ninhos. No entanto, o ideal, segundo ela, é ter um material base para realizar essa identificação, como o livro em que a pesquisadora é coautora: “Abelhas sem ferrão relevantes para a meliponicultura no Brasil”.
🍯 Meliponicultura
Carlos Souza é um dos meliponicultores de Piracicaba. Ele cria em casa 25 enxames de sete espécies de abelhas.
🐝 As espécies mais comuns encontradas no meio urbano na região são:
Jataí: Tetragonisca angustula
Canudo: Scaptotrigona depilis
Irapuá: Trigona spinipes
Marmelada: Frieseomelitta varia
Boca de Sapo: Partamona helleri
Mirim-preguiça: Friesella schrottkyi
Mirins: Plebeia spp. (espécies do gênero Plebeia)
Borá: Tetragona clavipe
O meliponicultor começou a criação de abelhas com a Tetragonisca angustula, mais conhecida como Jataí. Segundo ele, a espécie é comum entre os iniciantes na meliponicultura, por ser uma abelha pequena e em grande quantidade no meio urbano e no bioma da mata atlântica.
“Eu comecei já tem uns seis anos, com uma jataí, e me apaixonei. Aí eu fui procurar na internet, conversar com amigos e pessoas, eu pensei: ‘nossa, mas uma jataí só é muito pequenininha’.Eu queria ver se tinha abelhas maiores e aí foi”, contou.
Abelhas sem ferrão.
Érico Andrade
🤔 É permitido criar abelhas?
A prática é permitida, desde que as normas previstas nas legislações federal e estadual sejam seguidas. No caso de Piracicaba, a lei do Estado de São Paulo prevalece.
De acordo com resolução de fevereiro de 2021, o meliponicultor que desejar ter um meliponário de pequeno ou médio porte precisa fazer o registro no Sistema Integrado de Gestão da Fauna Silvestre da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Meio Ambiente de São Paulo (Gefau) para atender a resolução.
O sistema integra a gestão das atividades de fauna, incluindo a criação de abelhas sem ferrão. O Gefau permite o cadastro de meliponários, que são espaços dedicados à criação e conservação de abelhas nativas sem ferrão.
🌎 Preservação das abelhas
Denise Alves reforça, ainda, que a preservação das abelhas é essencial para o equilíbrio das faunas e floras pelo mundo.
A pesquisadora cita que diversas atividades humanas resultam em riscos à sobrevivência das populações, como o desmatamento, que diminui a quantidade de ninhos e os parceiros sexuais, as espécies invasoras, que geram competição e desequilíbrio no bioma da região em que são inseridas, e inseticidas que afetam as abelhas, por elas serem insetos.
“A abelha é um inseto, então, o inseticida tem um efeito, às vezes, letal, que mata na hora. Mas pode ser, também, subletal, ou seja, vai impactar aquele indivíduo de alguma forma, mas não vai matar no primeiro momento. Porém, pode causar várias disfunções fisiológicas que comprometem a saúde dessa abelha e da cria. Então, tem um efeito cascata muito considerável”, afirma a bióloga.
Abelha em uma flor em Pimenta (MG)
Elaine Ap Martins Florisbela
Carlos conta que se preocupa com a questão dos inseticidas, pois, em época de epidemias de dengue nas cidades, as prefeituras realizam os chamados “fumacês” de inseticidas e pesticidas para combater o Aedes aegypti. O veneno pode atingir os enxames das abelhas e afetá-las.
“O maior medo de todos os meliponicultores é o combate à dengue. A gente sabe que é um caso de saúde pública que precisa ser combatido, mas temos medo de perder os nossos enxames por envenenamento, perder nosso banco genético e não conseguir repovoar o meio. O nosso sonho é que tenha um mecanismo que nos avise quando isso for acontecer para que a gente possa fechar os ninhos”, desabafa o meliponicultor.
A pesquisadora Denise Alves conta ainda sobre o trabalho realizado com as ASFs na Esalq-USP. Ela explica que estudos a respeito do comportamento, criação e uso sustentável das abelhas sem ferrão na agricultura têm sido feitos por alunos e professores.
*Com orientação de Yasmin Moscoski
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